quarta-feira, 11 de maio de 2022

A nossa leitura de "O Combate Quotidiano" (volume 2), de Manu Larcenet - A Seita/Arte de Autor


Dizem que não há amor como o primeiro, mas não foi isso que se verificou neste caso, pois gostámos ainda mais do segundo volume do que o anterior d' "O Combate do Quotidiano". Considerada como uma obra-prima da Banda Desenhada franco-belga contemporânea, esta obra de Manu Larcenet valeu ao seu autor, o Prémio de Melhor Álbum do Festival de Angoulême de 2004. 

Por cá, o segundo volume (que reúne os volumes 3 e 4 da edição original francesa) está a chegar às livrarias numa co-edição d' A Seita com a Arte de Autor. 

Com esta edição fica concluída esta brilhante saga que nos fala do dia-a-dia e das coisas pequenas da vida.

Voltando à forma como começámos este texto, é verdade que depois de termos gostado da primeira parte da história, gostámos muito mais desta segunda parte que nos leva de novo à vida de Marco, às suas preocupações, dramas pessoais, inseguranças e ansiedades, dúvidas existenciais. A questão é que este relato tem tanto a ver com cada um de nós, que o autor, com uma simplicidade desconcertante, nos leva às nossas próprias reflexões e questões pessoais. No fundo, à nossa própria vida que se traduz num combate quotidiano. Segundo a sinopse das editoras, é "Um livro no qual o autor, através das pequenas coisas da vida do dia-a-dia, continua a questionar a alma humana com uma ternura tremenda, tocando os corações de todos os seus leitores de maneira profunda e permanente." Não podíamos concordar mais.

Neste volume, o fotógrafo Marco, confronta-se com os desejos de maternidade da sua companheira, com a morte recente do seu pai, e com as fotografias antigas de eventos importantes, e outros menos importantes, comoventes, tristes, alegres... E não podemos contar mais do que isto porque o melhor é mesmo ler este "O Combate do Quotidiano".

Uma palavra para o desenho. Nesta obra Manu Larcenet apresenta-nos um estilo infantil-poético, com as personagens um pouco caricaturadas e pranchas predominantemente com cores suaves. Ora, se à primeira vista achamos que a opção por um estilo leve, nada tem a ver com o argumento (que não é nada ligeiro), no final acabámos por constatar que a leveza do traço até condiz bem com a simplicidade das pequenas coisas da vida que às vezes somos nós que as complicamos.

A publicação deste segundo volume é enriquecida por um raro making of que permite compreender melhor o método de trabalho de Larcenet. "O Combate Quotidiano" representou um momento de viragem na obra do seu criador. E não deixa de nos deixar boquiabertos assistir à sua versatilidade artística ao lermos esta obra e a magnífica e perturbadora adaptação do romance de Philippe Claudel, "O Relatório de Brodeck", editado em Portugal no ano passado.





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