segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

A nossa leitura de Céleste e Proust, de Cholé Cruchaudet - edição Iguana

 


Depois de termos lido "Mau género", da mesma autora, Chloé Cruchaudet, ficámos fãs do seu desenho, do seu estilo, das suas pranchas originais, sem divisão entre quadradinhos, com as vinhetas sem contornos e com os limites da imagens arredondados. Por isso, quando chegou este Céleste e Proust e ao ler a sinopse, tivemos a certeza de que íamos gostar. Foi o que aconteceu.

Céleste e Proust é uma novela gráfica biográfica que tem como foco central a relação entre o famoso escritor francês Marcel Proust (1871-1922) e sua governanta, que se tornou muito mais do que isso, Céleste Albaret (1891-1984).

Tendo começado a trabalhar em casa de Proust como governanta, depressa Céleste se torna numa figura crucial na vida do escritor, especialmente nos seus últimos anos de vida. Esta novela gráfica que surge através do imenso talento de Chloé Cruchaudet, é inspirada num testemunho real da governanta, o qual foi publicado muitos anos depois da morte de Marcel Proust. 

Como a história se centra na relação entre os dois, o foco deste livro tem mais a ver com a cumplicidade que se estabeleceu entre Céleste e Proust e como a relação patrão-empregada se transformou numa grande amizade. Portanto, as questões literárias passam aqui para segundo plano. Ficamos a conhecer muito mais sobre a intimidade doméstica e as excentricidades do artista do que sobre os seus fracassos e sucessos literários.

Cruchaudet mostra-nos, com a sua enorme sensibilidade na narrativa e delicadeza no traço, um escritor frágil e hípersensível, apoiado numa governanta que acaba por crescer como pessoa, tornando-se forte, dedicada e resiliente.

Estamos perante uma obra elegante, intimista, emotiva e ao mesmo tempo com um grande sentido de humor, que nos sugere que o famoso livro "Em busca do tempo perdido" não teria sido escrito sem o apoio extremo e incondicional de Céleste.