Did You Hear What Eddie Gein Done?
Graphic Novel da autoria dos norte americanos Eric Powell (desenho) e Harold Schecter, publicada já em 2021, DYH What Eddie Gein Done? constitui um exemplo de trabalho detalhado e exaustivo de investigação e recolha de informação e detalhes.
Ed Gein é um psicopata (mais do que um assassino em série, aparentemente) completamente transtornado pela morte da sua mãe – severa e austera, com problemas relacionais, fanática religiosa à sua maneira e, francamente, profundamente perturbada – que o dominava de tal forma que o intelectualmente limitado Eddie não conseguiu aceitar o seu desaparecimento sem arranjar uma forma de preencher o vazio.
Os eventos reais aqui retratados serviram de inspiração para o filme “Psycho” de Alfred Hitchcock (e segundo dizem, permitiu alguma inspiração também para a personagem de Hannibal Lecter). Aliás, logo nas primeiras páginas, temos uma introdução com Hitchcock a ser citado, aquando da estreia do seu novo filme, dizendo que o filme não tem nenhuma tomada de posição moral. Trata-se de um filme sobre pessoas perturbadas. A noção de moralidade não pode ser aplicada aos loucos. O mesmo pode ser dito sobre o livro e o relato da criação e ações deste assassino.
Com esta introdução, penso que o leitor/leitora já percebeu de que se trata. Estamos na década de 50, e acompanhamos a história desta criatura profundamente atormentada, o seu comportamento criminoso, numa tentativa de “reviver” a sua mãe noutros corpos, numa atuação profundamente macabra.
Esta Graphic Novel é, verdadeiramente, negra, mergulha sem piedade no pior da humanidade, construindo o relato em torno de um caso profundamente perturbador, passado num Wisconsin frio e rural.
Adequadamente, o desenho é a preto e branco, realista, muito detalhado, esteticamente muito bom, com excelentes utilizações de diferentes tons de cinzento. Os rostos são bem desenhados e expressivos, os movimentos adequados, e as perspetivas são diferenciadas e as necessárias. O argumento é muito bem construído, consistente, bem documentado, sem excessos nem omissões, com uma grande frieza no relato.
O todo é, por isso mesmo, uma obra de grande qualidade, editado pela Albatross Funnybooks, que nos relata um episódio pouco conhecido, mas profundamente assustador.
Manuel Raposo: apreciações muito bem escritas e com conteúdo bem detalhado.
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