El Diablo
Que Lewis Trondheim é um prolífico e imaginativo autor de sucesso, já o sabemos bem. Em Portugal não temos muita coisa publicada deste autor, recordo-me de Mister i, Mister O, a Mosca e, mais recentemente Mulher, Vida, Liberdade onde tem uma participação.
Inesperadamente – para mim, claro – em novembro, este autor, juntamente com Alexis Nesme no desenho, fez nascer uma nova BD no universo do Marsupilami (um “fora de série). A capa é bonita, com cores quentes e atraentes, uma amostra de um excelente trabalho de cores e sombras que dá uma profundidade notável ao desenho. Ora lá está, “gancho” lançado, cliente “apanhado”.
O desenho é caricatural, como se adequa a uma história do Marsupilami – embora este seja uma presença constante ao longo das 62 páginas, não poderá ser caracterizado como personagem principal – mas bonito, elegante, focado no movimento e no dinamismo da sequência narrativa. A história é encantadora, para todas as idades, bem narrada e construída com sabedoria.
Estamos na época dos “Conquistadores” na América do Sul, e a procura do “El Dorado” cruza-se com os olhos observadores, o espírito curioso e crítico, e a inteligência de um “Bisavô(?) do nosso amado Marsupilami. Lembram-se do país onde o Marsupilami foi encontrado pelo duo Spirou e Fantasio? Pois bem, a referência “histórica” ao nascimento da Palômbia pode ser encontrada neste one shot.
Uma busca pelo ouro, conduzida pelo capitão espanhol Santoro, que constitui, verdadeiramente, um relato iniciático desde logo (diria que não só) para José um jovem em fuga do terrível capitão, num percurso que permite ao desenhador, com enorme brio, mostrar paisagens marítimas, de montanha, detalhes da floresta tropical, templos, enfim, o que se esperaria e que nos enche os olhos. Nessa fuga, José encontra o Marsupilami e desenvolve com ele uma relação especial, fortalecida pela união de ambos no antagonismo a Santoro.
Muito agradável, muito bonito, muito sensível na forma como trata as emoções. Uma história simples, mas de grande qualidade. Uma história simples e cativante, numa edição da Dupuis que merece a maior atenção. Top!
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Ginseng Roots
Já aqui tínhamos escrito no Juvebêdê sobre este livro em 13 de Setembro passado.
Craig Thompson ficou para sempre no nosso radar depois da publicação do excelente Blankets (custa a crer que já passaram mais de 20 anos). Essa novela gráfica, aliás, mereceu a publicação em Portugal, nos idos de 2011, pela Devir.
Desta vez, o autor publica Genseng Roots, um calhamaço de mais de 400 páginas - direi talvez um pouco longo – em que aborda ora a sua juventude, ora temas associados à exploração agrícola daquele produto. Fiquei a saber que o Wisconsin é um dos maiores produtores mundiais deste importante ingrediente para medicina de origem chinesa (e não só), e ficamos a saber os desafios deste tipo de exploração agrícola, desde os pesticidas até à concorrência de diferentes origens geográficas.
Um documentário, muito detalhado e um notável exercício de cruzamento de informação com a juventude e experiência do autor – onde chega mesmo a ser aflorada a hipótese de que a doença que o aflige, ou melhor, que aflige as suas mãos – fibromatose – poder ser consequência da exposição a determinados pesticidas quando, na sua juventude, trabalhou nos campos daquela planta de reconhecida importância terapêutica, segundo refere, para ajudar os pais e para ganhar dinheiro para comprar comics.
Toda esta obra é precisamente sobre a busca de raízes, pessoais e de Ginseng, e percebe-se o trabalho de recolha de informação e as viagens feitas para permitir o trabalho que agora nos é apresentado.
O desenho e a composição de páginas são excelentes, maduros e elegantes, as cores são limitadas. Base de preto e branco e a introdução da cor da raiz de ginseng – o vermelho crepúsculo – dando calor profundidade à narrativa. Cada prancha é um regalo, mas a sequência narrativa e o fio da história são agradáveis e inteligentemente elaborados.
O relato é muito pessoal, vários familiares do autor surgem ao longo da história, mas é também muito detalhado na perspetiva da importância económica desta cultura. Intimista, profunda e informativa, esta BD longa e de leitura exigente, constitui uma clara recomendação para quem gosta de trabalhos consistentes e memoráveis.
Editado em Francês pela Casterman.
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