Hoka Hey! era já um álbum muito falado e distinguido internacionalmente, e bastante elogiado pelo Miguel Cruz, cuja crítica também aqui publicámos. Por essas razões, era com expectativa que o esperávamos em Portugal. Hoka Hey!, de Neyef, chegou este ano pelas mãos da ASA BD e as nossas expectativas não saíram defraudadas. O livro é extraordinário, muito cinematográfico e com um conteúdo de grande profundidade, muito mais além do que apenas um livro "Western".
Para começar, o desenho. Espectacular! Pranchas muito bem conseguidas e impressionantes em todo o tipo de cenários, bosques, pradarias, montanhas, tudo nos passa pelos olhos como se de um filme se tratasse. Claro que é todo um conjunto pois a história agarra-nos do princípio ao fim e em todos os momentos.
Comecemos pelo título "Hoka Hey" que é uma expressão dos índios Lakota que significa "avançar / seguir em frente" e pela classificação como Western que se torna um pouco redutora para o tanto que este livro nos transmite. É que esta não é uma típica história de índios e cowboys, é um pouco diferente do que estamos acostumados, muito mais cuidada e mais profunda.
Passa-se no no século XIX, quando, jovens nativos americanos eram internados à força em internatos católicos para assimilá-los na nação americana. Um dos protagonistas é Georges, um jovem Lakota criado pelo pastor que administra sua reserva. Aculturado, o jovem esquece gradualmente as suas raízes e sonha com um futuro inspirado no modelo americano em rápida expansão. Porém a sua vida cruza-se com Little Knife, um nativo americano frio e violento em busca do assassino de sua mãe. Acompanhado por mais dois amigos, uma nativa e um irlandês, ele arranca Georges da sua vida e leva-o na sua jornada em busca da vingança.
Essa jornada vai ser toda ela uma descoberta, pois ao longo do caminho, vão-se estabelecendo fortes laços e nas várias conversas que vão tendo, o mais velho vai, aos poucos, apaziguar parte da sua raiva ao transmitir ao mais novo o essencial sobre as suas origens e o mais novo toma enfim contacto com a sua própria identidade.
Pelo meio das conversas e ensinamentos são aflorados temas universais que continuam actuais, como a igualdade de género, as questões ambientais, o racismo e críticas a uma sociedade retrógrada, limitada e hipócrita. Em paralelo, este quarteto algo improvável, constituído não só por Little Knife, e Georges, mas também por No Moon e Sully, o imigrante irlandês, é perseguido por um caçador de prémios e não faltam duelos e violência.
Sendo o argumento, o desenho e a cor da responsabilidade de uma só pessoa e estando a falar de um livro com 224 páginas, é de tirar o chapéu ao seu autor, Neyef.
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