Desde logo o tema, a capa, a opção visual e de cor da autora, nos atraíram para a leitura deste "Radium Girls", da autoria de Cy (nome artístico de Cyrielle Blaire) e editado pela Arte de Autor.
Esta novela gráfica baseia-se numa história verídica do início do século XX sobre um grupo de operárias americanas, da United State Radium Corporation, que foram expostas ao rádio nas décadas de 1910 e 1920. O seu trabalho era pintar mostradores de relógios com tinta à base de rádio. Edna, Katherine, Mollie, Albina, Quinta e outras, trabalhavam a um ritmo constante, sem nenhum tipo de protecção e sem conhecerem os reais perigos de lidar com aquela substância luminescente. Denominavam-se as "Ghost Girls" por brincadeira e inocentemente pintavam as unhas, os dentes ou a cara para brilharem no escuro à noite. Contribuiu para isso o facto da empresa as instruir para humedecerem os pincéis na boca e nunca terem revelado os perigos que corriam, pelo que elas nunca imaginaram que aquilo lhes fazia mal.
Pela sua exposição prolongada à radiação, as protagonistas da história começam uma a uma a adoecer gravemente. Assistimos à sua vida de jovens adolescentes e jovens adultas, às suas paixões e aos seus sonhos e depois, pouco a pouco, aos primeiros problemas de saúde que cada uma vai tendo, dores de dentes, anemia, fracturas e até tumores, situações que vão sendo cada vez mais graves e até mortais.
A história que começa por ser leve e divertida, começa a ser cada vez mais intensa e comovente, quando elas se começam a aperceber da situação e buscam explicações. Mais para a frente vão lutar pelos seus direitos e querer explicações e indemnizações por negligência da empresa.
O eixo central da história é a forte amizade e união entre todas elas, apoiando-se mutuamente. Juntas lutaram pelos seus direitos, pelos direitos das mulheres contra o poder instalado. Um exemplo de sororidade, que a História quis apagar, mas que sobreviveu até aos dias de hoje. A sua luta veio a contribuir para a criação de leis e direitos de segurança no trabalho.
Com traços delicados e expressivos e uma paleta de cores suaves (lilás, rosa e verde), Cy apresenta-nos aqui uma bela novela gráfica, empática e comovente.
Relativamente a esta edição da Arte de Autor, destacamos ainda uma entrevista no final com a autora, sobre o que a levou a realizar esta obra e destacamos a capa e a contracapa que têm pormenores fluorescentes, que se conseguem ver no escuro.
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