quinta-feira, 22 de maio de 2025

A opinião de Miguel Cruz sobre "The Deviant (Book One)", de Tynion IV e Hixson e "Summer Shadows #1-4", de Dunning, Cabral, Simpson e Campbell




The Deviant (Book One)

The Deviant: A Christmas Story by James Tynion IV and Joshua Hixson (1-4). É uma brincadeira: não se trata de uma história de Natal, mas de uma estranha história de um assassino em série que se veste de Pai Natal durante a época festiva, e que tem um modus operandi macabro.

Em dezembro de 2023 conhecemos Michael e o seu companheiro Derek, em plenas compras de Natal. E o fim da introdução termina com “Like There is something wrong with me” a ser dito por Michael, autor de comics e novelas gráficas. Ficamos todos avisados.

50 anos antes, também no Natal, e também ligado a compras de Natal, no Milwaukee, uma encenação macabra é descoberta e pouco depois dois jovens são encontrados assassinados num celeiro e decorados como uma árvore de Natal. Uma perseguição policial e um polícia ferido e marcado na face são o resultado. 

Sabemos depois que Randall Olsen foi acusado dos crimes e preso – perpétua. Michael entrevista Randall para preparar um novo trabalho, uma nova novela gráfica. Mas o confronto com Randall é difícil, primeiro porque este insiste na sua inocência – tentando centrar a narrativa nessa declaração – e depois porque o confronta com a necessidade de uma busca interior: qual o motivo efetivo que leva Michael a querer escrever esta história?

Ficamos a conhecer, também, as dificuldades que o relacionamento dos dois jovens atravessa, face às claras perturbações de Michael, e as motivações de Paul, o jovem polícia ferido há 50 anos, homofóbico, e com uma clara aversão a Randall Olsen, cínico, inteligente e experiente. E subitamente, um novo crime ocorre, e a narrativa complica-se fortemente.

Uma boa gestão do suspense, uma boa estrutura narrativa lúgubre que cruza momentos presentes, momentos de passado e sonhos/alucinações, com maestria, mantendo a nossa atenção (e a nossa respiração). Lê-se com facilidade, mas com receio do que poderá seguir-se. Uma boa e sombria história de suspense/terror, com um desenho negro, expressivo e adequadamente inquietante. 

Da Image Comics, publicado no último trimestre de 2024. Aguardo com juvenil curiosidade o próximo volume. E creio que essa é a melhor recomendação que se pode fazer a um livro…



Summer Shadows #1-4

Já tinha lido o conjunto de 4 “issues” de Summer Shadows escrito por John Harris Dunning, mas o encontro com o desenhador Ricardo Cabral em Coimbra no passado dia 25 de abril, recordou-me a oportunidade de escrever sobre este excelente “comic”.

Em primeiro lugar, é sempre satisfatório poder assinalar obras de qualidade de autores portugueses: vão sendo cada vez mais as obras interessantes, mas queremos sempre mais e mais, crescimento! 

Neste caso, a primeira coisa que me chamou a atenção para o #1 numa bancada de uma livraria nos Estados Unidos foi a capa! Parabéns desde logo ao Ricardo Cabral por esta capa de uma enorme beleza e onde, percebemos depois, está quase tudo o que constitui a linha condutora desta história de “horror” passado nas ilhas gregas, e tendo como ponto de partida a busca, por um atraente jovem, do seu ex, após uma relação terminada de forma surpreendente e não compreendida.

A beleza das Ilhas Gregas é bem retratada, mas desde a primeira página que percebemos que algo de inquietante se movimenta nas noites quentes de um luxuoso iate, sobre o qual circulam histórias terríveis, e ao qual Nick Landry se vai dirigir.

Alexos Kourkoulos é um oficial da Guarda Costeira a investigar um desaparecimento, que acaba por se cruzar com Nick, procurando investigar o mesmo iate e os seus ocupantes.

Narrativa bem construída, excelente ritmo, invasão gradual das trevas, esta história gótica de terror e de vampiros atrai-nos desde logo pelo excelente desenho de Ricardo Cabral, expressivo, detalhado, tão à vontade na apresentação do postal turístico como na descrição do sanguinolento terror subjacente ao estilo de vida dos ocupantes do iate. As cores também são absolutamente fantásticas, perfeitamente adequadas a cada momento narrativo. A descrição das personagens centrais é enganadoramente simples, com a perceção efetiva dos principais traços de caráter de cada um.

Percorremos estes 4 números de 30 páginas de um folego só, conclusão vislumbrada desde cedo, mas apresentada com detalhes surpreendentes e “requintes de malvadez”.

Editado pela Dark Horse Comics.

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