Ora aqui temos um livro maravilhoso que nos fez chorar e rir e às vezes as duas coisas ao mesmo tempo. "Não Eras Tu Quem Eu Esperava" é uma novela gráfica autobiográfica escrita por Fabien Toulmé, que está este fim de semana na Feira do Livro de Lisboa e em boa hora a ASA editou esta obra.
O livro retrata a experiência real do autor com o nascimento e os primeiros meses da sua segunda filha que nasceu com Trissomia 21, um problema que nunca chegou a ser detectado durante a gravidez.
O título levanta logo uma ponta do véu para o que nos aguarda. Não eras tu quem eu esperava dá-nos logo a entender que a realidade não correspondeu às expectativas geradas.
Sem qualquer tipo de filtro, o autor relata-nos a realidade nua e crua do choque inicial que se prolongou por vários meses e da dificuldade que teve em aceitar que tinha uma filha com Trissomia 21. Estão presentes os sentimentos de negação, revolta, frustração, raiva, culpa e tristeza. Tudo isto invadiu o espírito de Fabien Toulmé até por fim se render completamente a Julia, o nome com que baptizaram a menina. No fundo o amor falou mais alto do que todas as dificuldades pelas quais passaram.
Fabien não nos poupa a nada, não romantiza o seu processo atormentado e por ser tão verdadeiro deixa-nos a nós, leitores, uma leitura de grande intensidade emocional, que, apesar de tudo consegue ser contada aqui e ali com uma pitada de humor, que nos permite respirar fundo e continuar. A transformação emocional do autor é profundamente tocante e quem é pai ou mãe seguramente se vai emocionar com esta leitura.
Este livro é também um olhar que serve para romper com preconceitos e tabus e que nos leva a questionar sobre a verdadeira inclusão. E também para desmistificar a questão de ter um filho com características especiais e o facto da não aceitação nos primeiros tempos ser mais normal do que se julga.
Apesar do tema complexo e da profundidade emocional, a narrativa é de uma honestidade e simplicidade desconcertantes.
A acompanhar tudo isto, um registo visual muito sereno mas muito expressivo, com uma paleta de cores que vai mudando, mas que não nos distrai do essencial que é a história contada.
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