Lemos a versão francesa em 2022 e agora tivemos o prazer da sua releitura, desta vez na língua portuguesa, em boa hora editada pela Ala dos Livros.
E o que dizer de novo sobre esta obra ímpar de JeanLouis Tripp? Vamos repetir-nos na análise feita há três anos.
Trata-se de um livro muito especial. Um romance gráfico intimista, contado na primeira pessoa. Nesta obra, Tripp conta a história real da sua família, a qual passou por uma situação dramática que mudou para sempre a vida de todos os seus elementos. Quando o autor tinha apenas 18 anos, o seu irmão mais novo, com apenas 11 anos, morreu num acidente de trânsito. E Jean Louis Tripp estava lá. De mão dada com ele.
Tudo aconteceu numa noite de Agosto de 1976, durante as férias da família. Estavam todos felizes descontraídos e num instante tudo mudou. Gilles, irmão de Jean Louis, foi ceifado por um carro. Transportado para o hospital, Gilles sucumbiu aos ferimentos algumas horas depois. Para Jean Louis, assombrado pela culpa, começa uma difícil jornada de luto.
45 anos depois, o autor quis contar a história e fá-lo com muita franqueza e sensibilidade, pondo a nu os seus sentimentos e a sua revolta, por perder um irmão cedo de mais. Revive cada momento do drama, recorrendo às lembranças e perspectivas de outros membros da família. Este livro é a sua catarse, ao expor-se desta forma e ao assumir como este acontecimento brutal mudou a sua vida e o relacionamento entre os seus familiares.
A história foi novamente lida de um só fôlego e voltámos a comover-nos como se fosse da primeira vez. Avassaladora do ponto de vista emocional, deixa-nos os olhos marejados de lágrimas, com um nó na garganta e o estômago embrulhado. A perda de um ente querido é traumática, ainda para mais tratando-se de uma criança, e de um acontecimento trágico como foi o caso. A morte é um instante e de um momento para o outro a vida de quem fica é virada do avesso. Se alguma coisa podemos tirar deste tipo de relatos é de que devemos aproveitar cada dia da melhor forma possível.
"Le petit frère" é uma obra magistral do autor, contada e desenhada de uma forma extraordinária. Como se não bastasse já toda a emotividade da história, Tripp consegue, através dos seus desenhos (quase sempre num tom aproximado do sépia, mas pontuados a cor) transpor todo o desespero, tristeza, raiva, revolta que sentiu, assim como os restantes membros da família. A expressão para lá da tristeza profunda do pai, é qualquer coisa que não esqueceremos.
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