terça-feira, 8 de julho de 2025

A nossa leitura de Bobigny 1972, de Carole Maurel e Marie Bardiaux-Vaïente - edição ASA


O livro já dispensava apresentações. Foi finalista dos Prémios Fnac, em França, no final de 2024, e ganhou este ano, no Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, o Prix des Lycées 2025.

Esta obra, de Carole Maurel et Marie Bardiaux-Vaïente, originalmente publicada pela Glénat, chegou este ano na versão portuguesa pelas mãos da ASA.

Bobigny 1972 não é apenas uma reconstrução histórica, mas mais uma homenagem à coragem, à resistência e à necessidade que ainda existe de lembrar que os direitos conquistados podem ser ameaçados se não forem defendidos. É um testemunho extraordinário, com uma história muito bem contada e que serve como fonte de inspiração para lutarmos sempre pela justiça e um mundo melhor.

O livro passa-se em 1972, e conta-nos a história de Marie-Claire Chevalier, uma jovem de 16 anos, grávida na sequência de uma violação, que foi denunciada por aborto clandestino pelo seu próprio agressor. 

A leitura faz-se bem e mesmo sendo um tema demasiado sério, é contado com transparência e simplicidade. Não deixa de chocar lermos que tudo isto aconteceu numa época não tão distante assim, onde o aborto ainda era um delito punível com multa muito elevada e até prisão. Revolta ver a hipocrisia de lidar de formas diferentes, um assunto tão transversal a todas as classes sociais. Pois as mulheres de classes desfavorecidas, em caso de necessidade de abortar, eram obrigadas a fazê-lo em condições deploráveis, que muitas vezes as deixava estéreis ou as levava à morte. E mais, quem julgava e decidia eram homens e não mulheres.

Nesta história, a mãe da jovem faz de tudo o que pôde para ajudá-la, assim como as mulheres que participaram dos acontecimentos, também compareceram aos tribunais por cumplicidade. O julgamento tornou-se histórico porque a defesa é tomada por Gisèle Halimi, advogada de todas as principais causas feministas e anti-racistas. A importância deste caso é tal, que serviu de base para aquilo que mais tarde se veio apelidar de lei do Véu, promulgada em 1975.

Do ponto de vista estético e mesmo não sendo um livro de desenhos impactantes ou espectaculares, estes cumprem bem o seu propósito de não nos distrair do essencial que é a história e retratam bem os ambientes dos anos 1970 e a seriedade da temática, reforçados pela paleta de cores pouco fortes e onde predominam os castanhos.







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