M. L. Vieira, um nome desconhecido na banda desenhada portuguesa teve como álbum de estreia este Danificada, editado recentemente pela Iguana. Danificada é uma novela gráfica de ficção científica, que nos leva até uma fábrica, no futuro. Nessa fábrica, os trabalhadores são clones de uma figura feminina que diariamente fazem sempre os mesmos gestos. As clones foram feitas para ali trabalharem e não possuem nomes, apenas números.
O que acontece é que não há regra sem excepção e a número 2518 começa a apresentar alterações comportamentais. É suposto as clones não terem personalidade, nem ansiedades, nem nenhum tipo de questão, mas a 2518 começou a interrogar-se sobre a sua existência, sobre os seus dias sempre enclausurada e começa a sonhar com uma vida diferente. A 2518 está danificada, é sinalizada e começa a ser questionada e perseguida. Mas ela, dotada de uma inteligência que em nada parece artificial, sonha em sair dali, sonha com a liberdade e o ar livre e com esses sonhos na sua mente, planeia fugir.
Embora estejamos perante uma história passada no futuro, este livro é bastante actual e levanta questões muito pertinentes. De uma forma bonita e quase poética, leva o leitor a lembrar-se do poder de uma vida simples e de comunhão com a natureza, ao mesmo tempo que nos leva a reflectir sobre as questões que estão na ordem do dia, sobre a inteligência artificial, como vão substituir o homem em muitos postos de trabalho e até superá-lo.
Quanto ao lado visual da obra, os formatos das pranchas nem sempre são iguais e por vezes têm uma abordagem bem original e há uma tendência para vários zooms da personagem principal. Porém, sentimos falta de movimento, parece tudo demasiado estático, mesmo quando a 2518 está em movimento. Fora este último pormenor, vamos continuar atentos ao trabalho desta autora, que para já, não começou nada mal.
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