domingo, 31 de julho de 2022

BDs da estante - 488: Baby Blues 28 - Corta!

 


Este é o 28.º volume da série Baby Blues, que nos traz as aventuras da família composta pelo casal Darryl e Wanda e pelos seus três filhos Zoe, Hammie e Wren. “Corta!”, é uma filmagem a partir do interior da sua casa, uma família perfeitamente normal com vidas perfeitamente caóticas. Este volume de Baby Blues, como os restantes, ilustra magistralmente o porquê de que nunca há pensos rápidos em stock, de que forma as tagarelices e as provocações rapidamente degeneram em castigos e porque é que as visitas ao dentista ou ao mecânico ocorrem sempre em alturas de desequilíbrio orçamental. Sempre recomendado!

sábado, 30 de julho de 2022

Novidade: Gradiva edita o volume 2 da série de manga "City-Hall"

 


Depois de recentemente ter editado o volume 1 desta nova colecção de manga City-Hall, a Gradiva aposta já na edição do volume dois. Esta série é da autoria de Rémi Guérin e Guillaume Lapeyre.

Aqui fica um pouco da história e algumas imagens deste volume 2:

Derrotados durante o combate contra lord Black Fowl e deixados como mortos, Júlio Verne e Arthur Conan Doyle recusam dar-se por vencidos. Juntamente com a sua guarda-costas, a sedutora Amélia Earhart, e decididos a descobrir quem se esconde debaixo da máscara do corvo, dão um novo rumo à sua investigação. Mas num mundo onde o papel é uma arma de destruição massiva, o inimigo deles é como um deus vivo… E a questão é saber se estes dois génios da literatura serão capazes de enfrentar um adversário que está sempre dois passos à frente e que parece conhecê-los muito bem…









sexta-feira, 29 de julho de 2022

As opiniões de Miguel Cruz sobre: "La Quête de L’Oiseau du Temps – Folle Graine (T.11)", de Le Tendre e Loisel e "Les Petits Monarches", de Jonathan Case

 



La Quête de L’Oiseau du Temps – Folle Graine (T.11)

Não falta muito para que a série “La Quête de L’Oiseau du Temps”, da autoria dos bem conhecidos Serge Le Tendre e Régis Loisel, celebre os seus 40 anos. O seu primeiro tomo ficou disponível em janeiro de 1983, alcançou de imediato grande sucesso e foi objeto de mais de uma dúzia de reedições, incluindo em versão integral.

O sucesso não passou totalmente despercebido em Portugal e, para além de a revista Seleções BD ter “pegado” brevemente na série, os cinco primeiros álbuns foram publicados a partir de 1990 pela Meribérica, e os tomos 5 e 6 foram publicados juntos na coleção os Incontornáveis da Banda Desenhada da Asa/Público em 2007. O título em Português foi “Em busca do Pássaro do Tempo”.

Os quatro primeiros álbuns, absolutamente fantásticos, quer na história (misturando fantástico e “Heroic Fantasy”: ação, heroísmo e muita fantasia (junta umas estranhas personagens e mexe tudo muito bem)), quer no extraordinário desenho, concluem um primeiro ciclo, a verdadeira busca do pássaro do tempo. 

A partir do tomo 5, Loisel e Le Tendre, agora apenas com as rédeas da história (ou do argumento, se preferirem), dão início à prequela que acompanha o nosso personagem principal – o bravo, hábil e resmungão Cavaleiro Bragon – na sua juventude (o que permite, ainda, adicionar várias e interessantes personagens). 

Os desenhos ficam a cargo de Lidwine para um tomo e depois de Mohamed Aouamri até ao tomo 10 e agora com David Étien. Este último, dono de um desenho fiel ao original, apresenta-nos um trabalho de qualidade e muito na linha do desenhador original. No entanto, não encontramos ainda com este desenhador as pranchas belíssimas, legíveis e absolutamente virtuosas, no traço e na composição de página dos seus antecessores. No entanto, pelo desenho, estamos bem servidos, com uma narração competente.

No último tomo recentemente publicado – o tomo 11, ou o sétimo da prequela – a aventura vai evoluindo, consistente, mas lentamente, mantendo os mesmos diálogos soberbos e a imaginação que caracterizam a série desde o primeiro dia. 

Bragon e os seus parceiros chegam finalmente à cidade de Thâ, sendo que o nosso cavaleiro, herói garboso e sempre corajoso, está particularmente receoso da ira de Mara, que se justifica por ter sido – sob controlo das forças do mal – a mão que causou a morte do pai de Mara. Já agora, para quem não se recorde, Mara é a mãe de Pélisse, a belíssima e imprevisível jovem do primeiro ciclo de aventuras.

Mara, conhecedora das forças misteriosas que estão em ação, perdoa Bragon e explica-lhe a necessidade de se deslocar a um templo situado num arquipélago onde existe e germina uma semente misteriosa que permitirá convocar uma magia muito antiga, essencial para que se possam proteger do deus Ramor e dos seus malvados adeptos. Reconhecemos os elementos essenciais do primeiro ciclo, o que mostra o trabalho consistente dos autores.

Aventura, composição dos elementos necessários para “unir” os dois ciclos e muito humor, fazem desta BD mais um contributo simpático e de agradável leitura, de uma saga, na minha opinião, indispensável. O próximo tomo será o último, e a conclusão da saga. Esperemos que não tenhamos um interregno muito longo até à publicação do tomo 12.



Les Petits Monarches

Devemos sempre ser positivos e focados na mudança. Esta BD, pelo contrário, tem um ponto de partida não muito otimista: estamos num futuro próximo, e o planeta Terra já não é o mesmo que conhecemos. O Sol brilha intensamente e aquece fortemente tudo. Há cerca de 50 anos, uma nova doença, a doença do Sol, reduziu significativamente a população mundial. Por adaptação, os sobreviventes vivem em pequenas comunidades essencialmente subterrâneas. Uma história de base pós-apocalíptica, portanto, como várias que muitos conhecemos nas páginas da Revista Tintin, ou através do cinema, nomeadamente com Mad-Max.

E, no entanto, o tom de toda esta BD “realista” não podia ser mais otimista, mais virada para o futuro, mais “colorido”. As protagonistas são mulheres – duas – e um ninfalídeo (!). Flora e Elvie, de dez anos, procuram um remédio, alguma solução, para a doença. E aparentemente esse remédio, pensa a jovem bióloga com o adequado nome de Flora, depende das borboletas monarcas (da família dos ninfalídeos!). E por isso, as duas protagonistas vão seguir a sua migração, percorrendo longas distâncias sob um sol terrível.

As duas protagonistas essencialmente aprendem, adaptam-se, sobrevivem. Cruzam-se com outros humanos, encontram vestígios do passado, numa visita guiada ao bom, ao mau, ao que poderia ter sido e ao que se espera possa ser.

É uma história de esperança, que seguimos também através do caderno de deveres e anotações da pequena Elvie. Uma BD com mais de mais de 250 páginas “viradas para a frente”, de uma mensagem positiva, mas com vários pontos de importante reflexão.

Jonathan Case, o autor, é um americano de quem já no passado tinha lido “Green River Killer: A True Detective Story”, que recebeu um Eisner Award em 2011, e de quem foi editado recentemente em Portugal, pela Levoir a BD “The New Deal”.

Inicialmente, apesar de o livro me ter sido recomendado, achei que me ia “irritar” a ler mais uma BD sobre este tema, mas pelo contrário, o contexto é duro, mas a obra lê-se muito bem, e deixa-nos, quer nos desenhos (muito legíveis, muito “limpos”, com cores “quentes”), quer na história, com um gosto doce na boca. Uma enorme surpresa, e uma BD em que temos tudo a ganhar em que seja lida, editada em francês pela Dupuis.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Leituras de férias para quem tem saudades de Calvin & Hobbes

A Gradiva publicou recentemente novas reedições destes dois grandes títulos de Calvin & Hobbes. "É um mundo mágico" e "Plácidos Domingos" levam-nos às aventuras e reflexões do imaginativo e irrequieto Calvin e do seu grande parceiro, o tigre de peluche Hobbes, personagens brilhantemente criadas por Bill Watterson.





quarta-feira, 27 de julho de 2022

33.º Festival Amadora BD já tem data: 20 a 30 de Outubro

 


A 33ª edição do Amadora BD já tem data marcada e a maior novidade é o seu espaço de gaming, que já causou alguma agitação nas redes sociais. Aguardemos para ver como funciona e como se relaciona com todo o Festival, mas assim numa primeira reacção, não nos parece fazer qualquer sentido num evento como este. 

De 20 a 30 de outubro, o maior Festival de Banda Desenhada em Portugal volta à cidade da Amadora e, com uma área alargada, abre novamente as suas portas em três localizações distintas da cidade

A relação Portugal – França é o tema do Amadora BD em 2022 e inspiração para a cenografia geral do evento.

 De novo em formato descentralizado, o Amadora BD 2022 volta a abrir as portas do Núcleo Central no Ski Skate Amadora Park. Com uma área alargada de 2.100 m2, o Núcleo Central do Amadora 2022 vai acolher pela primeira vez no recinto do Festival uma nova zona dedicada ao gaming. Com uma área coberta de 200 m2, o espaço gaming do Amadora BD (criado em parceria com a MagicShot), será palco de inúmeras iniciativas relacionadas com a banda desenhada: cosplay, jogos “arcade”, realidade virtual, videojogos, consolas, campeonatos, apresentações, entre outras. A área expositiva (de 950 m2) vai acolher 10 exposições de autores nacionais e internacionais e a zona comercial alargada (de 950 m2) – que será palco de inúmeros lançamentos, sessões de autógrafos, apresentações e palestras – completam a oferta do Amadora BD no Ski Skate Amadora Park.

Nos espaços da Galeria Municipal Artur Bual e da Bedeteca da Amadora – Biblioteca Fernando Piteira Santos estarão patentes três exposições individuais.

A relação Portugal-França, tema geral da edição 2022 do Amadora BD, é também a inspiração para a cenografia geral do evento que, este ano e a convite da direção do Amadora BD, contará com uma ilustração original de Juan Cavia, vencedor (a par com Filipe Melo) do prémio de Melhor Obra de BD de Autor Português nos PBDA em 2021. A primeira peça dessa imagem é o cartaz divulgado ontem.

O evento culminará com a habitual cerimónia de entrega dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora (PBDA) que mais uma vez atribui um prémio pecuniário no valor de € 5.000, à Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português.


terça-feira, 26 de julho de 2022

Novidade: A série Marco Polo tem hoje disponível o volume 2 "Na Corte do Grande Khan" - Edição Gradiva

 


Marco Polo é uma das séries editadas recentemente pela Gradiva e que tem já agora disponível o segundo volume com o título "Na Corte do Grande Khan", nesta que é a colecção "Descobridores". Esta série é da autoria de Clot, Convard, Adam e Bono conta-nos as extraordinárias viagens de descoberta de Marco Polo pela China.

A sinopse:

Ano de 1271. O jovem Marco Polo dá início, na companhia do pai e do tio, a um périplo em direção ao império desconhecido do Grande Khan, o imperador mongol da China. O fascínio da descoberta leva este infatigável explorador ao contacto com realidades e culturas bem diferentes. No regresso, cerca de 25 anos mais tarde, a sua narrativa e as suas descobertas vão revolucionar a imagem do mundo e da cartografia da época. Admirável e, por várias razões, imperdível. Pela conceção de Christian Clot, ele próprio um explorador. Pelo desenho belíssimo de Fabio Bono, que reconstitui expressivamente os lugares, os costumes, a época. Por ser uma «lição» viva de geografia, história, relações interculturais, do relacionamento com os outros povos e culturas.







segunda-feira, 25 de julho de 2022

Leituras de férias - autores lusófonos

Como todos os anos, nesta altura e durante vários dias sugerimos várias leituras para férias, tendo por base os livros editados nos últimos meses. Como diz o slogan, "O que é nacional é bom", começamos com sugestões de leitura de autores lusófonos. Aqui vai a nossa selecção:

"Dante", de Luís Louro - Ala dos Livros

"Cobra - Operação Goa", de Daniel Maia e Marco Calhorda - Ala dos Livros

"Rattlesnake", de João Amaral - Escorpião Azul

"Estes dias", de Bernardo Majer - Polvo

"O Perigoso Pacifista", de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas - A Seita

"Imagens de uma revolução - 25 de Abril e a Banda Desenhada", de vários autores - A Seita e Levoir

"Agá - 2.0", de Ricardo Venâncio - Câmara Municipal de Lousada

 "Quaresma O Decifrador", de Mário André - Kustom Rats

"O Caderno da Tangerina", de Rita Alfaiate - Escorpião Azul










domingo, 24 de julho de 2022

BDs da estante - 487: As Aventuras de Tintin - "Rumo à Lua" e "Explorando a Lua"

Fez esta semana 53 anos, que o Homem pisou solo lunar. Hergé antecipou-se e levou Tintin à lua. Por isso hoje fomos buscar à nossa estante estes dois livros: "Rumo à Lua" e "Explorando a Lua", duas edições da ASA, em 2011.

Eis as sinopses:

"Rumo à Lua": Ao regressar do país do Ouro Negro, o capitão Haddock fica a saber que o professor Girassol partira com um estrangeiro desconhecido. Logo em seguida recebe um telegrama do professor, no qual diz que se encontra na Sildávia e pede ao capitão e a Tintin para lá irem ter com ele. No aeroporto da capital da Sildávia, um motorista espera-os e leva-os para o que parece ser uma instalação militar ultra-secreta. Lá encontram o professor a trabalhar num foguetão a bordo do qual partirá rumo à Lua. Enquanto isso, agentes de uma potência inimiga fazem de tudo para roubar o projecto e sabotar a expedição da Sildávia.

Explorando a Lua: Os inimigos da Sildávia fracassam, e a expedição liderada pelo professor Girassol parte finalmente. Mas, estranhamente, também agentes estrangeiros, fazem de tudo para que a expedição seja bem sucedida. Porque será que eles desejam tanto que o foguetão chegue à Lua? Os perigos que os nossos astronautas vão enfrentar durante a viagem não serão nada comparados com aquilo que os espera na Lua…




sábado, 23 de julho de 2022

As opiniões de Miguel Cruz sobre: "I.R.$. - Fraude à la Terre – tomo 23", de Desberg e Vranken e "T’Zée – Une Tragédie Africaine", de Appollo e Brüno

Aqui ficam para hoje mais duas boas leituras de BD com opinião de Miguel Cruz.



I.R.$. - Fraude à la Terre – tomo 23

Vamos lá falar de um outro “Bestseller”, de Desberg (argumento) e Vranken (desenho), de que vários tomos foram já editados em Portugal: I.R.$..

Em Junho foi colocado à venda o tomo 23 desta série da Lombard, sendo que o número impar significa, tal como com Largo Winch, o início de uma nova aventura a desenvolver no conjunto de dois tomos.

Larry B. Max é, desde há alguns tomos, Senador dos Estados Unidos, mas continua (nostalgia do seu passado como investigador do Fisco??) a dedicar-se a tentar resolver problemas e situações concretas, seguindo os fluxos financeiros que estão na origem ou que contribuem para o agravamento do problema.

E neste caso, o problema de partida – que afeta diretamente o nosso Senador – está nos incêndios, difíceis de controlar e com impactos graves do ponto de vista da sustentabilidade e saúde pública, na Califórnia. 

No essencial, a questão está em seguir os negócios, a rede e os fluxos financeiros de um conjunto de empresas que vivem de negócios com implicações diretas no aquecimento climático global. Inicialmente nos Estados Unidos, a “investigação” dirige-se para outros centros financeiros, e encontra destinatários óbvios em originários do médio oriente e da Rússia.

No meio de tudo isto, várias forças vão desenvolvendo ações em defesa dos seus interesses, incluindo lançando a espectável “mulher fatal” para “dar conta” do nosso herói. É preciso não conhecer Larry B. Max como nós. A aventura está lançada, é movimentada e com raros momentos de pausa, apesar do detalhe contextual e de relação entre a rede de interesses.

A receita que fez sucesso mantém-se, mas o tema e a abordagem são interessantes, os desenhos de uma qualidade excecional, como em volumes anteriores. Acompanhamos alguns estereótipos, Larry B. Max continua totalmente incorruptível, a narrativa é inteligentemente bem construída, e termina esta primeira parte com um suspense muito bom.

Os indefetíveis da série, e deste tipo de aventuras encontram aqui mais um tomo de qualidade e que acrescenta valor à série.






T’Zée – Une Tragédie Africaine

Começo por uma clarificação: Este comentário não foi motivado, nem nada tem a ver com a morte do ex-presidente de Angola, nem com as negociações família-governo que se seguiram. Nada na história se aproxima à situação de Angola, embora ela seja mencionada e insinuada num ou noutro ponto.

T’Zée, prioritariamente inspirado em Mobutu (fisicamente e na maneira de vestir, pelo menos), é o ditador, há dezenas de anos, de um país não definido da África Central. Figura relevante do exército de libertação do seu país, foi essencial para a pacificação do país e demorou alguns anos a encetar uma deriva autoritária, que está em vias de terminar, com revoltas diversas em todo o país. 

Ao longo de 5 partes distintas e de quase 150 páginas, vamos assistindo à evolução do anunciado processo de queda do regime, mas quase sempre à distância, pois a narrativa é centrada numa intriga palaciana que tem como personagens de destaque o filho mais novo (e único vivo) de T’Zée – Hippolyte que estudou em França, mas que está agora na ilha de Gbado, de difícil acesso, e infraestruturada por seu pai, que aí instalou um palácio familiar – e Bobbi, jovem segunda mulher de T’Zée.

Estas personagens são acompanhadas por diversas outras, nomeadamente os melhores amigos de Hippolyte – um Libanês e a filha de um antigo e destacado companheiro de armas de T’Zée, que este condenou à morte – e a melhor amiga de Bobbi, particularmente dotada na já referida intriga palaciana.

T’Zée morreu? O regime cai? Quem está a apoiar quem? Há dinheiro para pagar ao exército e a mercenários? Tudo isto ajuda a criar incerteza e um ambiente difícil em Gbado. Mas a complexidade verdadeira está no desenvolver das relações entre as personagens, e a inveja e o ciúme são forças terríveis que conduzem a um desenlace imprevisível quando começámos a leitura.

A narração é muito interessante, com diversos flash-backs que permitem conhecer motivações e caráter de várias das personagens, todas elas fortes, interessantes e com muitas peripécias para serem conhecidas. A história é muito detalhada, trabalhada com grande profundidade, nada é deixado ao acaso, e vamos sendo surpreendidos por uma narrativa sempre consistente.

Quer a história de Appollo, quer o desenho de Brüno (que já bem conheço de outras BDs) constituem elementos muito consistentes com esta “aventura” Africana editada pela Dargaud, são ambos de grande qualidade (admito que não para todos os “corações”), criando uma obra digna de atenção.



A nossa leitura de "O Mergulho" - Edição Ala dos Livros

 


Que mergulho fantástico. Nós bem dizíamos que tínhamos a certeza de que iríamos gostar deste livro. Um ternurento e tocante livro que nos fala da terceira idade, das primeiras falhas de memória, do medo da morte, da solidão, da sexualidade dos mais velhos. Gostámos de tudo. Do argumento, da responsabilidade de Séverine Vidal (uma das mais prestigiadas escritoras francesas da actualidade) e o desenho do espanhol Victor L. Pinel. 

Esta bela aposta da editora Ala dos Livros, que lemos de um só fôlego, fez-nos lembrar dos livros "Rugas" e "A Casa" de Paco Roca, devido a explorar a temática da terceira idade. Livros como este ajudam-nos a interiorizar que todos nós lá chegaremos e que é importante perceber que apesar das limitações que a idade traz com o passar dos anos, cada pessoa deve saber encontrar a felicidade em qualquer momento da vida. "O Mergulho" é um hino à vida depois dos oitenta. Um relato que comove e diverte o leitor, em idênticas proporções.

Esperamos que esta dupla continue a trabalhar em conjunto, pois o resultado é cinco estrelas!

Aqui fica a sinopse deste relato actual e comovente, impregnado de amor e de nostalgia:

Yvonne, de 80 anos, fecha pela última vez as portadas de sua casa e muda-se para uma residência para a terceira idade, pondo um ponto final a quarenta anos de vida passados naquela casa.

A mudança é dura para esta mulher livre e independente, sobretudo porque continua activa e muito lúcida. E Yvonne tem dificuldade em adaptar-se a essa nova vida, que a aproxima dolorosamente da morte… 

No entanto, e contra todas as expectativas, faz novos amigos e inclusive apaixona-se. Mas a velhice não lhe dá tréguas e a memória começa a falhar. Presa no turbilhão inelutável da vida, a octogenária decide oferecer-se uma última digressão encantada.




sexta-feira, 22 de julho de 2022

A nossa leitura de "A Cicatriz", o livro de Renato Chiocca e Andrea Ferraris - Edição Escorpião azul

 


"A Cicatriz", uma edição da Escorpião Azul, foi lançada no final de Maio, durante o Festival de BD de Beja, com a presença dos autores Renato Chiocca e Andrea Ferraris. Tivemos o prazer de assistir a essa apresentação pelos autores e percebemos logo que este livro foi uma experiência cheia de emoções e muito real para os autores, não fosse passada nas fronteiras do México e dos Estados Unidos da América.

Contar histórias sobre emigrantes que tentam uma vida melhor e arriscam mesmo a sua vida para concretizar o seu sonho é, desde já, logo muito difícil, pois uma grande parte não tem um final feliz. Com o traço de desenho a preto e branco, de Andrea Ferraris, de que somos fãs pela leitura de "Churubusco" e com argumento de Renato Chiocca, é pois um livro que nos conta e mostra a verdadeira e crua realidade do que se passa nos dois lados da fronteira, mas também daqueles que tentam ajudar e salvar vidas. O livro é composto por duas histórias que retratam dois pontos de vista, mas são igualmente intensas e pesadas. 

É por todas estas razões que recomendamos a leitura desta "Cicatriz".

"Nós não atravessámos a fronteira, a fronteira é que nos atravessou." - Slogan dos latinos nos Estados Unidos 

A sinopse:

A "Cicatriz" é uma reportagem gráfica sobre a dura realidade que existe em ambos os lados da fronteira entre o México e os Estados Unidos. Três mil e duzentos quilómetros de um Muro que divide a sociedade, criando uma ferida profunda em torno da qual vão alternando a escuridão, a luz, a violência e a humanidade. Andrea Ferraris e Renato Chiocca viajaram para Tucson e Nogales para documentar as histórias dos que vivem na sombra desse Muro: uma zona de guerra em terra de ninguém. O que eles viram e ouviram foi capturado nesta novela gráfica. "Uma noite na fronteira" reconstrói a história de José Antonio Elena Rodríguez, o jovem que com apenas dezasseis anos, foi baleado dez vezes nas costas por um agente da patrulha de fronteira dos Estados Unidos. A morte deste rapaz foi reconhecida como assassinato transfronteiriço. Em "Um dia na fronteira", os autores entrevistaram um grupo de voluntários que prestavam assistência médica e alimentar aos imigrantes sem documentos que atravessam o deserto de Sonora, um dos mais quentes e maiores do mundo.








quinta-feira, 21 de julho de 2022

A nossa leitura de "Pele de Homem" - Edição A Seita - a nossa publicação 4000!

 


Quis o destino que a nossa opinião sobre este livro fosse a nossa publicação n.º 4.000 aqui no blog!!! Ainda para mais sobre um livro de que gostámos muito. Então cá vai!

Pele de Homem é um livro muito premiado. Não é por acaso. Há aqueles livros que lemos, gostamos e arrumamos e há outros que gostamos e que ficam. Ficam na nossa memória, ficam a mexer connosco, fazem-nos pensar e este é um deles. É daqueles marcantes e para recordar. 
Trata-se de um conto imersivo, que nos leva a reflectir sobre a hipocrisia da sociedade, sobre inclusão, igualdade de género, sexualidade, homossexualidade, aceitação, intolerância e fanatismo.
Todos estes temas são tocados num argumento acutilante (de Hubert), mas que é transposto de forma livre solta, até com algum humor, casando na perfeição com o desenho de Zanzim, também ele com um traço muito simples, sem grandes cenários, mas com muita expressividade e dinamismo.
Uma fantástica dupla que tinha tudo para continuar a dar frutos desta qualidade, mas que infelizmente se desfez pelo desaparecimento abrupto e precoce de Hubert (1971-2020).

Sendo um dos mais recentes aclamados romances gráficos franceses, originalmente publicado em 2020, há a lamentar que apesar do imenso êxito alcançado, chegou ao mercado com um sabor amargo: tragicamente, o escritor Hubert pôs fim aos seus dias uns meses antes, terminando uma carreira brilhante e torturada, em que o autor nunca reconciliou completamente a sua origem, estritamente católica, e a sua homossexualidade crescentemente aceite, mas que sempre lhe deixou uma aura de “exclusão”, e de que "Pele de Homem" parece ser o manifesto, com um final que clama pela “aceitação” e por uma atitude de tolerância.

Muita, mas mesmo muita gente deveria ler este livro, e fazer um exercício que todos deveríamos saber fazer "pôr-se na pele do outro". Todos soubessem fazê-lo e não haveria tantas críticas, tantos juízos precipitados e tantos julgamentos errados. Todos soubessem fazê-lo e haveria menos sofrimento. E só o sofrimento extremo, leva uma pessoa ao limite, como aconteceu com o autor deste livro.

A história: Bianca, uma jovem que vive na Itália renascentista, está noiva de Giovanni, destinada a um casamento com uma família abastada que os seus pais lhe arranjaram. Mas descobre que as mulheres da sua família têm um segredo, uma “pele de homem” que lhe permite transformar-se em homem. Munida desse objecto mágico e transgressor, irá descobrir o mundo masculino fechado às mulheres da época, e na busca de conhecer aquele que lhe está prometido como marido, irá também descobrir o amor entre homens, bem como o seu desejo como mulher, e todas as alegrias, frustrações e tristezas que esse amor e esse desejo podem trazer... Bianca vai ser o espelho em que o leitor contemporâneo poderá ter uma perspectiva diferente sobre sexo e género, numa história de amor louco e libertador. A edição é de A Seita.