sexta-feira, 29 de julho de 2022

As opiniões de Miguel Cruz sobre: "La Quête de L’Oiseau du Temps – Folle Graine (T.11)", de Le Tendre e Loisel e "Les Petits Monarches", de Jonathan Case

 



La Quête de L’Oiseau du Temps – Folle Graine (T.11)

Não falta muito para que a série “La Quête de L’Oiseau du Temps”, da autoria dos bem conhecidos Serge Le Tendre e Régis Loisel, celebre os seus 40 anos. O seu primeiro tomo ficou disponível em janeiro de 1983, alcançou de imediato grande sucesso e foi objeto de mais de uma dúzia de reedições, incluindo em versão integral.

O sucesso não passou totalmente despercebido em Portugal e, para além de a revista Seleções BD ter “pegado” brevemente na série, os cinco primeiros álbuns foram publicados a partir de 1990 pela Meribérica, e os tomos 5 e 6 foram publicados juntos na coleção os Incontornáveis da Banda Desenhada da Asa/Público em 2007. O título em Português foi “Em busca do Pássaro do Tempo”.

Os quatro primeiros álbuns, absolutamente fantásticos, quer na história (misturando fantástico e “Heroic Fantasy”: ação, heroísmo e muita fantasia (junta umas estranhas personagens e mexe tudo muito bem)), quer no extraordinário desenho, concluem um primeiro ciclo, a verdadeira busca do pássaro do tempo. 

A partir do tomo 5, Loisel e Le Tendre, agora apenas com as rédeas da história (ou do argumento, se preferirem), dão início à prequela que acompanha o nosso personagem principal – o bravo, hábil e resmungão Cavaleiro Bragon – na sua juventude (o que permite, ainda, adicionar várias e interessantes personagens). 

Os desenhos ficam a cargo de Lidwine para um tomo e depois de Mohamed Aouamri até ao tomo 10 e agora com David Étien. Este último, dono de um desenho fiel ao original, apresenta-nos um trabalho de qualidade e muito na linha do desenhador original. No entanto, não encontramos ainda com este desenhador as pranchas belíssimas, legíveis e absolutamente virtuosas, no traço e na composição de página dos seus antecessores. No entanto, pelo desenho, estamos bem servidos, com uma narração competente.

No último tomo recentemente publicado – o tomo 11, ou o sétimo da prequela – a aventura vai evoluindo, consistente, mas lentamente, mantendo os mesmos diálogos soberbos e a imaginação que caracterizam a série desde o primeiro dia. 

Bragon e os seus parceiros chegam finalmente à cidade de Thâ, sendo que o nosso cavaleiro, herói garboso e sempre corajoso, está particularmente receoso da ira de Mara, que se justifica por ter sido – sob controlo das forças do mal – a mão que causou a morte do pai de Mara. Já agora, para quem não se recorde, Mara é a mãe de Pélisse, a belíssima e imprevisível jovem do primeiro ciclo de aventuras.

Mara, conhecedora das forças misteriosas que estão em ação, perdoa Bragon e explica-lhe a necessidade de se deslocar a um templo situado num arquipélago onde existe e germina uma semente misteriosa que permitirá convocar uma magia muito antiga, essencial para que se possam proteger do deus Ramor e dos seus malvados adeptos. Reconhecemos os elementos essenciais do primeiro ciclo, o que mostra o trabalho consistente dos autores.

Aventura, composição dos elementos necessários para “unir” os dois ciclos e muito humor, fazem desta BD mais um contributo simpático e de agradável leitura, de uma saga, na minha opinião, indispensável. O próximo tomo será o último, e a conclusão da saga. Esperemos que não tenhamos um interregno muito longo até à publicação do tomo 12.



Les Petits Monarches

Devemos sempre ser positivos e focados na mudança. Esta BD, pelo contrário, tem um ponto de partida não muito otimista: estamos num futuro próximo, e o planeta Terra já não é o mesmo que conhecemos. O Sol brilha intensamente e aquece fortemente tudo. Há cerca de 50 anos, uma nova doença, a doença do Sol, reduziu significativamente a população mundial. Por adaptação, os sobreviventes vivem em pequenas comunidades essencialmente subterrâneas. Uma história de base pós-apocalíptica, portanto, como várias que muitos conhecemos nas páginas da Revista Tintin, ou através do cinema, nomeadamente com Mad-Max.

E, no entanto, o tom de toda esta BD “realista” não podia ser mais otimista, mais virada para o futuro, mais “colorido”. As protagonistas são mulheres – duas – e um ninfalídeo (!). Flora e Elvie, de dez anos, procuram um remédio, alguma solução, para a doença. E aparentemente esse remédio, pensa a jovem bióloga com o adequado nome de Flora, depende das borboletas monarcas (da família dos ninfalídeos!). E por isso, as duas protagonistas vão seguir a sua migração, percorrendo longas distâncias sob um sol terrível.

As duas protagonistas essencialmente aprendem, adaptam-se, sobrevivem. Cruzam-se com outros humanos, encontram vestígios do passado, numa visita guiada ao bom, ao mau, ao que poderia ter sido e ao que se espera possa ser.

É uma história de esperança, que seguimos também através do caderno de deveres e anotações da pequena Elvie. Uma BD com mais de mais de 250 páginas “viradas para a frente”, de uma mensagem positiva, mas com vários pontos de importante reflexão.

Jonathan Case, o autor, é um americano de quem já no passado tinha lido “Green River Killer: A True Detective Story”, que recebeu um Eisner Award em 2011, e de quem foi editado recentemente em Portugal, pela Levoir a BD “The New Deal”.

Inicialmente, apesar de o livro me ter sido recomendado, achei que me ia “irritar” a ler mais uma BD sobre este tema, mas pelo contrário, o contexto é duro, mas a obra lê-se muito bem, e deixa-nos, quer nos desenhos (muito legíveis, muito “limpos”, com cores “quentes”), quer na história, com um gosto doce na boca. Uma enorme surpresa, e uma BD em que temos tudo a ganhar em que seja lida, editada em francês pela Dupuis.

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