quinta-feira, 21 de julho de 2022

A nossa leitura de "Pele de Homem" - Edição A Seita - a nossa publicação 4000!

 


Quis o destino que a nossa opinião sobre este livro fosse a nossa publicação n.º 4.000 aqui no blog!!! Ainda para mais sobre um livro de que gostámos muito. Então cá vai!

Pele de Homem é um livro muito premiado. Não é por acaso. Há aqueles livros que lemos, gostamos e arrumamos e há outros que gostamos e que ficam. Ficam na nossa memória, ficam a mexer connosco, fazem-nos pensar e este é um deles. É daqueles marcantes e para recordar. 
Trata-se de um conto imersivo, que nos leva a reflectir sobre a hipocrisia da sociedade, sobre inclusão, igualdade de género, sexualidade, homossexualidade, aceitação, intolerância e fanatismo.
Todos estes temas são tocados num argumento acutilante (de Hubert), mas que é transposto de forma livre solta, até com algum humor, casando na perfeição com o desenho de Zanzim, também ele com um traço muito simples, sem grandes cenários, mas com muita expressividade e dinamismo.
Uma fantástica dupla que tinha tudo para continuar a dar frutos desta qualidade, mas que infelizmente se desfez pelo desaparecimento abrupto e precoce de Hubert (1971-2020).

Sendo um dos mais recentes aclamados romances gráficos franceses, originalmente publicado em 2020, há a lamentar que apesar do imenso êxito alcançado, chegou ao mercado com um sabor amargo: tragicamente, o escritor Hubert pôs fim aos seus dias uns meses antes, terminando uma carreira brilhante e torturada, em que o autor nunca reconciliou completamente a sua origem, estritamente católica, e a sua homossexualidade crescentemente aceite, mas que sempre lhe deixou uma aura de “exclusão”, e de que "Pele de Homem" parece ser o manifesto, com um final que clama pela “aceitação” e por uma atitude de tolerância.

Muita, mas mesmo muita gente deveria ler este livro, e fazer um exercício que todos deveríamos saber fazer "pôr-se na pele do outro". Todos soubessem fazê-lo e não haveria tantas críticas, tantos juízos precipitados e tantos julgamentos errados. Todos soubessem fazê-lo e haveria menos sofrimento. E só o sofrimento extremo, leva uma pessoa ao limite, como aconteceu com o autor deste livro.

A história: Bianca, uma jovem que vive na Itália renascentista, está noiva de Giovanni, destinada a um casamento com uma família abastada que os seus pais lhe arranjaram. Mas descobre que as mulheres da sua família têm um segredo, uma “pele de homem” que lhe permite transformar-se em homem. Munida desse objecto mágico e transgressor, irá descobrir o mundo masculino fechado às mulheres da época, e na busca de conhecer aquele que lhe está prometido como marido, irá também descobrir o amor entre homens, bem como o seu desejo como mulher, e todas as alegrias, frustrações e tristezas que esse amor e esse desejo podem trazer... Bianca vai ser o espelho em que o leitor contemporâneo poderá ter uma perspectiva diferente sobre sexo e género, numa história de amor louco e libertador. A edição é de A Seita.







Sem comentários:

Enviar um comentário