Le Paris des Dragons
Grave, grave, grave! (ou, para quem goste: Ó Inclemência, Ó martírio…)!
Com tantos e interessantes títulos para aqui mencionar, saltei alguns outros, leituras não menos interessantes, posso admitir que menos comerciais. Vamos, então, a uma pequena reparação de tão grave lapso. “O Paris dos Dragões” é um one shot que foi publicado há cerca de 9 meses já, sendo uma daquelas BDs que, na minha opinião, facilmente dividirá o público entre aqueles que a acharão inacreditavelmente má, e os que a acharão agradável e divertida. Eu faço parte deste último grupo, sendo que também reconheço que não constitui leitura marcante. Mas dito isto, já li bem pior, e é merecida uma referência a um desenho, na minha opinião, extraordinariamente bem conseguido.
É curioso notar que o argumentista desta BD é daqueles poucos com “o toque” – aquilo em que participa, brilha. Joann Sfar é um excelente argumentista, coisa que os leitores e as leitoras em português sabem desde “A Filha do Professor”, até ao “Gato do Rabino”, passando por Urani, obra a quatro mãos com David B. O desenhador, por sua vez também é um nosso conhecido, pelo menos conhecido dos frequentadores do festival de BD da Amadora: Toni Sandoval.
Tudo começa há um pouco mais de mil anos quando um dragão se aproxima de um cavaleiro que está a dormir com a sua espada ao lado. O dragão é atraído por aquela estranha criatura, no entanto esta, quando acorda assusta-se e, naturalmente, usa a espada para se defender. O dragão, ferido, reage como seria de esperar e temos o primeiro caso da história de cavaleiro grelhado. O barulho desta breve luta atrai dragões e cavaleiros e dá-se início a uma longa história de batalhas entre uns e outros!
Anos mais tarde, quando Paris ainda não é Paris, o monge Mabillon salva um dragão da perseguição de cavaleiros, fingindo que aquele é uma escultura, e estabelece um pacto com a raça dos dragões, que envolve o compromisso de “hibernação” daqueles, transformados em estátua, e a própria hibernação do Monge, que prepara tudo para poder voltar caso haja problemas, deixando a sua igreja aos cuidados de um dragão transformado em velha senhora.
Ora, em 1900, em plena Belle Époque, vamos ter “chatices” e o monge lá volta à vida para assistir à perturbação do compromisso dos dragões que, também eles, abandonam a sua situação de estátuas. Pelo meio, uma princesa havaiana e uma sereia invencível vão sendo perseguidas numa Paris rocambolesca, convergindo para se cruzar com a linha narrativa dos dragões.
Fantasioso, com bastante ação, divertido, mas com um humor bastante seco, e muito negro. Toni Sandoval presta-se ao jogo, e apresenta-nos o seu habitual desenho elegante, colorido, expressivo gótico, numa sequência narrativa tratada com mestria e variação de planos, com os “quadradinhos” a serem realizados sem contornos planos, mas com um estilo caricatural que é adaptado do seu colega Sfar. Muito interessante, com páginas que são, verdadeiramente, um deleite, e em que o desenhador aproveita muito bem a época e o local!
Uma edição cuidada da Glénat, com lombada em tela, e uma capa atrativa.
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