Pelo título, a expressão dos índios Lakota cujo significado é, aproximadamente, “vamos a isso”, esta BD não deixa grandes dúvidas sobre o tema que aborda, nem sobre a sua classificação como western.
Hoka Hey!, da autoria de Neyef constitui um western diferente do habitual, com códigos e uma forma de tratamento distinta da habitual, constituindo também uma história de descoberta própria, de quem possui raízes mistas (ou que é tendencialmente desenraizado).
Dois nativos americanos e um irlandês, ativamente perseguidos por um caçador de prémios, deixam um verdadeiro rasto de raiva e violência por onde passam, e cruzam-se, no seu caminho, com George, um jovem mestiço que vive na reserva de Pine Ridge.
Educado para se tornar um bom cristão, George assiste ao assassinato do pastor que o acompanha, e como testemunha incómoda desse assassinato, é raptado por Little Knife e tem de acompanhar o périplo dos três violentos homens (Little Knife, No Moon e Sully, o imigrante irlandês).
Vingança, violência, duelos, caçadas na pradaria, espaços abertos impressionantes, tudo isso está presente, mas acompanhada por uma bem construída visitação ao passado de algumas personagens, que cruza com um relato iniciático da personagem de George, que entretanto desenvolve uma amizade com os seus raptores, e é exposto a uma diferente visão do mundo que o rodeia, e que lhe era, em boa parte, desconhecido.
Trata-se de um One-Shot muito bem estruturado no argumento, realista, bem documentado, essencialmente sem filtros, mas muito inteligente. O desenho, realista, é detalhado e ao mesmo tempo espetacular pelo tratamento grandioso dos grandes espaços, das distâncias e das cores, bem como pelo detalhe das cenas de ação, muitas vezes brutais. A intensidade emocional encontra aqui uma bela conjugação de texto e desenho.
De um humanismo inteligente, esta é uma das edições marcantes de 2022, da responsabilidade da Rue de Sévres que, para além de tudo o mais, nos forneceu um objeto de qualidade, com uma capa de excelência e lombada em tela. 224 páginas com esta qualidade e da responsabilidade de um único autor merece, necessariamente, um grande destaque. Uma edição em língua portuguesa seria mesmo bom, não seria???
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