quinta-feira, 24 de abril de 2025

A opinião de Miguel Cruz sobre "Habemus Bastard – Tomo 22", de de Schwartzmann e Vallée e "Un Putain de Salopard, Tome 4: Le Rituel", de Loisel e Pont

 


Habemus Bastard – Tomo 2

Há um pouco menos de um ano, pude dar aqui a minha opinião sobre Habemus Bastard Tomo 1 de Schwartzmann e Vallée, e nessa altura escrevi: “Veremos se o desenlace permitirá manter o excelente nível desta primeira parte…”. Não manteve, ultrapassou, na minha opinião o segundo tomo é ainda mais interessante e bem estruturado que o primeiro, talvez porque permite dar resposta a várias questões que ficavam em suspenso na primeira “entrega”.

Continuamos a acompanhar Lucien, homem de mão de um chefe de grupo criminoso, que se esconde por trás de uma batina/sotaina, depois de ter cometido um pequeno erro numa tarefa que lhe tinha sido encomendada pelo chefe.

Padre em Saint-Claude, Lucien começou, no tomo um a sua adaptação às suas tarefas e à sua nova vida, incluindo o desenvolvimento das suas relações com a comunidade local, com destaque para a mãe de um dos seus alunos de catequese, com a mulher que faz as limpezas na sua casa de função e lhe dá apoio diário, bem como com o seu filho – canal de acesso ao mercado de droga local, com o empreiteiro da região, responsável por algumas construções na vila e na igreja, com o seu invejoso colega de localidade próxima, e a uma pequena jovem que o apoio na missa, inteligente, órfã de mãe e com um pai mais dado ao consumo de bebidas no bar local. A isto vem-se juntar a visita de uma jovem do passado!

Apanhado no meio de uma disputa entre dois gangs, sendo um deles aquele para o qual trabalhou e que o procura, e o outro um gang rival que procura vingar uma morte, tentando eliminar um padre que, por azar, é aquele cuja batina Julien está a usar!

E vamos ter bastante ação, mas sempre com um humor que nos diverte e torna a leitura agradável e difícil de interromper.

Esta história vai num crescendo interessante, bem desenvolvido, com diálogos cortantes e uma narrativa magistralmente elaborada. O desenho de Vallée é excecional, ágil, apelativo, cinematográfico, marcante e reconhecível.

A ler e reler, e voltando a uma referência que fiz no anterior comentário, espero que esta bela edição da Dargaud (Tome 2: Un Coeur sous une Soutane) veja um dia a luz em versão portuguesa.





Un Putain de Salopard, Tome 4: Le Rituel

Vou traduzir para português o título desta série para “Um Filho da Mãe”. Outras traduções, se calhar mais adequadas, não seriam próprias para este texto!!!?

Escrever sobre o tomo 4 e último de “Un Putain de Salopard” constitui uma oportunidade de falar sobre uma excelente série, talvez das melhores que alguma vez li e que tive a oportunidade de apreciar das mais recentes.

A história é passada em território brasileiro, em plena selva da Amazónia, na década de 70, numa zona onde há apenas um agente da lei por muitos km quadrados. No caso, o nosso agente da lei (Régo) é 5 estrelas e dotado de um grande bom senso, se bem que um pouco estrábico…

Max regressa a este território de onde saiu com três anos, acompanhando a sua mãe, recentemente falecida, que nunca quis falar sobre o passado ou sobre as suas origens. Max não conhece o seu pai, e vem iniciar uma busca tendo como única pista duas fotografias de sua mãe com dois homens diferentes. Qual deles será o seu pai? E como encontrar esses homens?

A chegada de Max é simultânea com a de duas jovens enfermeiras, Christelle e Charlotte, que vão tomar conta do dispensário local, durante três meses. Os três vão ao encontro de Corinne (Sim, C-C-C), uma jovem que vive há alguns anos no local e que vai servir de base para os contactos necessários.

Neste território selvagem, a violência que nele grassa vai fazer com que Max acabe perdido na selva, acompanhado de Baia, uma jovem muda, que felizmente conhece a medicina das plantas e sabe desembaraçar-se na selva. Com tudo isto, os jovens vão enredar-se numa velha história de tráfico, de roubo e de rapto da jovem filha de Hermann que dirige com mão de ferro uma exploração mineira local, e que agora vive apenas para encontrar os restos mortais da sua filha, que se sabe morta num acidente de aviação. Nesse avião iam também os dois “candidatos” a pai de Max.

E pelo meio temos um verdadeiro e c*#r!o “filho da mãe” tal como é chamado logo no tomo 1 por Margarida, a proprietária “faz tudo” do bar “O Tucano” onde Corinne trabalha.

Enfim, tenho pouco espaço para descrever uma história rica de detalhes e de personagens, conduzida com mão de mestre por Regis Loisel, sempre convincente, interessante, entusiasmante, credível, com boa caracterização da generalidade dos “atores e atrizes” principais, e com excelentes diálogos. Apenas posso apontar uma ou outra incorreção nas tentativas de acrescentar palavras ou frases em português do Brasil, mas nada que tenha impacto na agradabilidade da leitura.

O grafismo de Olivier Pont é excelente, dinâmico, elegante, consistente ao longo dos 4 tomos, e as pranchas passadas no meio da selva são muito bem conseguidas sem exageros ou artifícios. As cores têm verdadeiro valor acrescentado. Bonito, agradável, excelentes sequências, qualidade narrativa total.
Quatro tomos de nível consistente, uma série IN-DIS-PEN-SÁVEL, de Loisel (Armazém Central, Peter Pan, Em Busca do Pássaro do Tempo) e de Pont (de que me recordo quando em 2004 publicou uma excelente série, “Où le Regard ne Porte Pas…”). Editado pela Rue de Sévres.

A nossa leitura de "Fábulas das Terras Perdidas" ciclo 1, de Dufaux e Rosinski - edição Arte de Autor


Tínhamos dito que esta era uma obra de peso. E assim é em vários sentidos. Porque é uma edição integral contendo quatro volumes, o primeiro ciclo completo das Fábulas das Terras Perdidas, de Jean Dufaux (argumento) e Rosinski (desenho) - edição portuguesa da Arte de Autor. É de facto um grande livro e pesado! Porém, é também uma obra de peso pela qualidade do seu conteúdo, pois a série afirmou-se como uma referência na banda desenhada europeia, especificamente no género de fantasia. 

Criada em 1993, a história é um clássico de fantasia que junta a magia das lendas celtas e neste caso o lado bom e o lado mau (negro) da magia. Não estamos perante uma história leve. O argumento é denso com personagens complicadas e a guerra entre o bem e o mal está presente de forma constante, assim como o mistério e o horror, a ambição e a violência, mas também o amor e algum humor.

Sioban é o nome do primeiro ciclo e também o nome do primeiro volume e a versão portuguesa do segundo ciclo será lançada em breve. Ao longo dos quatro volumes (Sioban, Blackmore, Dona Gerfaud e Kyle de Klanach) há uma pergunta sempre presente cuja resposta só obteremos no final: é o amor que está no coração do mal, ou é o mal que está no coração do amor? 

Esta saga remete-nos para uma linha tipo "Guerra dos Tronos". A protagonista é Sioban, uma adolescente corajosa, princesa sem reino, que defronta um poderoso feiticeiro maquiavélico. Ela pertence ao clã Sudenne e, alguns anos depois da morte do seu pai, está determinada a reivindicar o seu lugar legítimo e em proteger o seu povo de forças obscuras e ameaçadoras. Porém, a sua coragem não se revela suficiente e vê-se envolvida no meio de traições e de segredos muito antigos, que a fazem descobrir muito mais sobre as suas origens, do que alguma vez imaginava e ser vítima de um feitiço que muda o rumo à história.

Perante um cenário tão negro e sinistro não vemos soluções à vista, mas algo vai acontecer para uma nova reviravolta. Porque mais uma vez o mal substima o poder do amor.

Um trabalho fantástico de Rosinski e Dufaux, um universo muito rico, que também se reflete ao nível visual, desde os cenários interiores, às paisagens, batalhas, armas e vestuário. Tudo isto contribui para uma leitura imersiva e quase compulsiva.










quarta-feira, 23 de abril de 2025

Novidade Casterman: On ne parle pas de ces choses-là - um livro sobre o incesto de Marine Courtade e Alexandra Petit


A Casterman acaba de lançar um livro que aborda o tabu dos tabus. A jornalista Marine Courtade descortina os mecanismos do silêncio à volta do incesto. O seu terreno de pesquisa foi a sua própria família. Com uma mistura inteligente de rigor e escárnio, ela embarca numa ousada viagem por França para confrontar os seus tios e tias, um por um, com a mesma pergunta: por que vocês ficaram calados?

Um livro que seguramente será difícil de digerir, mas com atrativos desenhos de Alexandra Petit.


A presença da Ala dos Livros no Coimbra BD e as suas novidades

A Ala dos Livros é uma das editoras que marcará presença no Festival CoimbraBD e aproveita a ocasião para promover uma campanha de descontos que variam entre os 10% e os 40%.

Entretanto, das várias novidades com lançamento agendado para Abril e início de Maio, algumas já estarão disponíveis durante o festival e em pré-venda no site.

Aqui ficam as capas das novidades da Ala dos Livros.

No Festival estará presente o desenhador Arno Monin, da série "A Adopção", sobre a qual estará patente uma exposição e com quem iremos participar numa conversa que decorre no dia 25 de Abril pelas 16h30.







A nossa leitura de "Borboleta", de Madeleine Pereira - edição ASA

 


A primeira vez que tivemos contacto com a divulgação deste livro, ficámos apaixonados pela capa e curiosos sobre a sua autora, tendo em conta que o nome é franco-português. Por isso, assim que o livro nos chegou às mãos iniciámos a leitura e ficámos felizes quando pouco tempo depois soubemos da vinda de Madeleine a Portugal e fomos assistir à apresentação do livro "Borboleta", da ASA, na Fnac do Colombo.

Em boa hora o fizemos pois foi um pedaço de tarde bem passado. A sessão foi conduzida pelo editor Luís Saraiva e a conversa foi muito interessante e divertida.

Madeleine é jovem e descontraída e contou-nos de forma franca e simples, no seu charmoso português afrancesado todas as fases da criação desta sua primeira novela gráfica, que nos leva ao tema da emigração portuguesa para fugir à ditadura e à guerra colonial. A história, na verdade é composta por várias histórias, contadas pela sua tia e por amigos da família, mas ela, Madeleine é o fio condutor entre elas. A sua presença neste livro inicialmente não estava prevista, mas às tantas, as várias histórias pareciam-lhe não ter uma ligação entre elas e mesmo com o risco de que a achassem presunçosa por ser protagonista (nunca o pensaríamos, mas são dúvidas que assaltam os autores), decidiu ela própria ser o elo de ligação entre os vários relatos. E fez muito bem, pois também ela é uma parte muito importante, sendo descendente de um emigrante e sofrer também ela do mal de em França ser chamada de portuguesa e em Portugal ser chamada de francesa.

Gostámos do argumento que nos leva à busca de Madeleine, para conhecer um pouco mais das suas raízes, pois considerava que o conhecimento que tinha de Portugal era muito básico. Limitava-se a Cristiano Ronaldo, piadas xenófobas e a língua, mesmo assim, algo que o seu pai lhe transmitiu. Porém, faltava-lhe conhecer os motivos que levaram o seu pai a sair do seu país e fugir da ditadura.

Entre muitas curiosidades, após a leitura do livro, ficámos com uma pergunta na ponta da língua, uma curiosidade que ficou satisfeita nessa sessão da Fnac e tem a ver com o porquê do título. Madeleine explicou que o livro se chama Borboleta devido ao episódio ocorrido no Stade de France, quando Portugal defrontou a França na final do Campeonato Europeu de Futebol e uma Borboleta pousou no Cristiano Ronaldo caído no relvado (jogo que Madeleine assistiu ao vivo no Estádio). Embora nada disto apareça no livro, o nome ficou.

Quanto aos desenhos, num estilo a dar para o naif, transportam-nos ora para cenários de décadas mais atrás, ora para Portugal e Lisboa de agora.

A sua história, dentro dela outras histórias e ao mesmo tempo um pouco da História de Portugal. Leitura recomendada!

Entretanto, quem não conseguiu estar com a autora em Abril, saiba que ela volta e estará presente no Maia BD no final de Maio.




terça-feira, 22 de abril de 2025

Novidade ASA: O Ditador e o Dragão de Musgo é uma história verdadeira sobre cinema passada na Coreia Norte

 


Esta é uma das novidades da ASA neste mês de Abril e que ficou já disponível desde dia 15 deste mês. 

O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé é mais uma surpresa pela positiva da ASA e que nos conta uma história verdadeira sobre cinema passada na Coreia do Norte e que marcará a sua história. 

Sinopse 

Hong-Kong, 1978. O realizador e produtor Shin Sang-Ok - estrela da Coreia do Sul - anda à procura da sua mulher, a atriz Choi Eun-hee, desaparecida há várias semanas. Até que acaba por ser, também ele, raptado.

Tal como muitos outros artistas japoneses, chineses ou coreanos antes dele, foi levado para servir a Coreia do Norte. A sua missão: realizar, em nome da ditadura, filmes que marcarão a história do cinema de Pyongyang.

Com base numa história incrível, mas verdadeira, os autores concebem um thriller cativante que é, simultaneamente, uma homenagem ao cinema asiático dos anos 70.

O Ditador e o Dragão de Musgo, de Tillon e Fréwé, ASA, 144 p., 22,41 €





Papa Francisco (1936-2025) - parte II - Uma inesgotável fonte de inspiração

Dando continuidade à nossa publicação anterior, não resistimos a partilhar convosco mais estas imagens que fomos encontrando nas redes sociais, provando uma vez mais, que a muitos níveis o Papa Francisco era uma inesgotável fonte de inspiração.

A autoria ou a nossa fonte relativa às imagens, pela ordem é a seguinte: Chloe Cushman para @politico; André Carrilho; @resaltandoamor; Michael Sanlaville; @doomsartooficial; Raquel Pina Design & Illustration; @aiaimatilde; @maestradicarta; Nando Motta; @touuu_so_a_ver














Papa Francisco (1936-2025) - Homenagens ilustradas

O Papa Francisco era um homem único e um homem bom. Por isso não é de estranhar a quantidade de homenagens que tantas pessoas lhe querem prestar em jeito de agradecimento por tudo o que foi e representou. No mundo da banda desenhada e da ilustração essas homenagens também acontecem e nas redes sociais temos visto algumas delas. Aqui fica uma amostra.
Os autores das imagens (ou as páginas onde as encontrámos), pela ordem são os seguintes:
Turma da Mônica; Vasco Parracho, Cartuns.alpino; Vasco Gargalo, Jules_sparniard, Patrícia Furtado, Ricardo Campus - Loja das Caricaturas; autor desconhecido; Rita Correia Ilustradora; Carolina Branco.














segunda-feira, 21 de abril de 2025

COIMBRA BD: O Programa Oficial do Coimbra BD e uma surpresa do Juvebêdê!


A organização do Coimbra BD divulgou hoje a programação completa do evento. Relembramos que decorrer entre os dias 25 e 27 de Abril, com entrada livre, no Convento de São Francisco, em Coimbra. Horário - 10h00 às 20h00 na sexta-feira e Sábado, e das 10h00 às 18h00 no Domingo

Já aqui falámos dos autores presentes (mais de 50!) e das exposições, mas vejam lá o programa com atenção, em especial o dia 27 (última imagem) e vejam a surpresa que temos para quem lá estiver: iremos lançar no Coimbra BD o Juvebêdê n.º 100, uma edição especial e imperdível. Daremos mais detalhes em breve!




A nossa leitura de "Volta, Snoopy!", de Schulz - edição Iguana

 


Tal como os livros da Mafalda, sobre os livros de Snoopy ou dos Peanuts, pouco mais haverá a acrescentar após tudo o que já foi dito e escrito. Afinal os Peanuts celebram este ano 75 anos!!

E foi precisamente em jeito de celebração que a Iguana lançou este ano "Volta, Snoopy!" um livro de tiras humorísticas. O protagonista é o famoso cão de Charlie Brown, Snoopy, a personagem de banda desenhada que conquistou várias gerações e continua a espalhar o seu encanto.

O que temos aqui neste livro é uma seleção de tiras dos Peanuts publicadas em diferentes jornais entre 1962 e 1965, criadas com o humor inteligente, irónico e único de Charles M. Schulz. É por isso que aqui ainda não encontramos Woodstock, o passarinho amarelo amigo de Snoopy, que só apareceu pela primeira vez em 1967.

Embora apareçam aqui várias personagens dos Peanuts, o Snoopy está em destaque nesta edição, quase sempre junto da sua querida casota que veio a tornar-se uma imagem de marca. Um cão cheio de estilo, que adora a natureza, uma boa comida e o seu dono Charlie Brown. Os seus pensamentos e dúvidas existenciais, a sua acutilância e a sua ironia, as suas oscilações de humor, tudo cabe neste "Volta, Snoopy!" que por aqui foi acolhido com muita saudade, pois somos leitores dos Peanuts desde os anos 70.

Portanto é um livro que recomendamos, claro. Para os saudosistas como nós e para quem quer conhecer um pouco mais sobre o fantástico Snoopy que inspirou tantas pessoas a baptizarem os seus cães com o mesmo nome, em alguns casos demasiado aportuguesado para Sinupe :)