quarta-feira, 20 de agosto de 2025

A nossa leitura de "O Silêncio de Malka", de Jorge Zentner e Rubén Pellejero - edição Devir


A editora Devir criou a colecção Angoulême e propôs a edição de oito títulos ao longo do ano de 2025, todos eles premiado no Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, todos eles constituindo narrativas que abordam temas complexos – da distopia e crítica social à introspeção psicológica e aos retratos biográficos – acompanhadas por uma arte visualmente arrebatadora. Cada título convida o leitor a uma viagem única, repleta de simbolismo, emoção e reflexão sobre a humanidade.

O Silêncio de Malka, de Jorge Zentner e Rúben Pellejero, que recebeu o Prémio Alph-Art do Melhor Álbum Estrangeiro no referido festival, em 1997, é uma das obras desta colecção e que lemos estas férias. 

Publicada em 1996, O silêncio de Malka, é uma novela gráfica que se passa entre a Europa e a Argentina, acompanhando a história de uma família de imigrantes judeus. Vítimas das perseguições feitas aos judeus no final do século XIX, Malka e a sua família são obrigados a deixar a Rússia e emigram para a Argentina, em busca de uma vida melhor, mas como vão verificar, não vai ser tão fácil quanto imaginavam.

A experiência da família vai ser dura, pois nas colónias agrícolas da Argentina, onde muitos judeus se instalavam, a vida não era nada fácil. A história que é feita de memórias é pessoal, mas não deixa de ser uma partilha de memórias culturais, onde através de Malka (desde a sua infância e até à idade adulta) e da sua família, vamos vivenciando a experiência feminina do exílio, o papel das mulheres, a opressão social, as tradições, as crenças e a religião, mas também as tradições em conflito com a modernidade. O sobrenatural a compor o ramalhete de todos estes ingredientes que fazem desta uma banda desenhada de referência.

Em toda a história percebemos o peso do silêncio que tanto se verifica em Malka, diante da violência de tudo o que viveu e assistiu, como também verificamos numa comunidade traumatizada e injustiçada. 

A densidade emocional da narrativa é brilhantemente traduzida pelo traço de Rubén Pellejero, de enorme expressividade, com uma paleta de cores que reforça uma atmosfera nostálgica. As pranchas apresentam-se com um enquadramento muito cinematográfico, que alternam planos mais fechados com outros de grandes panorâmicas de paisagens.

O Silêncio de Malka é considerado como uma das novelas gráficas mais maduras dos anos 1990 e veio comprovar que a banda desenhada pode, tal como na literatura, tratar com a mesma densidade, temas históricos, sociais e emocionais.




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