sábado, 8 de julho de 2023

A opinião de Miguel Cruz sobre: "Musée", de Christophe Chabouté

 


Musée

Este período de aproximação às férias de Verão é relativamente pouco produtivo em termos de publicação de novas BD. O segundo semestre será sempre mais interessante e, para além disso, este é sempre um período de muitos festivais e presenças dos autores em livrarias.

No entanto, não há regra sem exceção, pelo que cá continuaremos…

Uma BD recente de Christophe Chabouté, dono de um desenho – quase sempre a preto e branco – que eu considero expressivo e entusiasmante, com o nome de “Museu”, constitui um caso único no contexto das edições mais recentes. Nem melhor, nem pior, mas certamente diferente.

O museu em causa é o (espetacular, digo eu) Museu d’Orsay, a editora a Vent d’Ouest (com o apoio do museu) e a razão desta singularidade que assinalei é que as “personagens” são as obras de arte que o “habitam”. É verdade, durante o dia, assistimos ao comportamento dos habituais e múltiplos visitantes, e ao longo das páginas, vamos ficando com a clara ideia de que são estes a ser contemplados pelas obras de arte, quase com a sensação de que estas têm muito a comentar sobre o comportamento dos seus visitantes. As primeiras dezenas de páginas são totalmente contemplativas, bonitas, luz e sombras, comportamentos alguns banais e outros interessantes. Em silêncio, como é expectável num museu. O leitor, ao não poder ler e só podendo contemplar, deverá estar atento a pequenos pormenores comportamentais…das obras de arte!

Quando finalmente chega a noite, gradualmente e com cautelas, as obras de arte vão-se animando e libertando e os diálogos surgem, afinal existe todo um dia de atividade do museu para comentar! Os diálogos são interessantes e engraçados, nalguns casos reconhecemos, através da observação externa, o nosso próprio comportamento quando visitamos um museu. Algumas obras de arte têm assuntos mal resolvidos entre si, e outras pensam na vida fora do espaço do museu.

São cerca de 190 páginas de uma grande imaginação, os diálogos e comportamentos descritos são alinhados com “a personalidade” das obras de arte, e o desenho é respeitador das formas e estrutura de esculturas e pinturas. Muito, muito interessante, constitui uma “brincadeira” sobre a forma como vemos e nos relacionamos com a arte, bem como uma reflexão humanista sobre o mundo. Quanto a uma eventual tradução para a nossa língua, fica apenas a nota de que as primeiras quarenta e tal páginas serão fáceis: não têm texto… 



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