sexta-feira, 18 de julho de 2025

A opinião de Miguel Cruz sobre "Electric Miles - tomo 1: Wilbur", de Brüno e Nury

 


Electric Miles - tomo 1: Wilbur 

Eis uma BD “extremada”, isto é, daquelas que os leitores ou vão adorar ou vão detestar. Eu estou mais próximo da primeira posição, embora seja fácil de perceber que a aposta dos autores é muito dirigida a um público específico.

Cultura Pop, tortuoso, intrigante, inesperado, surpreendente, sombrio, com um desenho cativante, de detalhe, precisão e perfeição notáveis. Eis um primeiro tomo que é, efetivamente, uma introdução a um universo estranho e sombrio de criadores de ficção científica derivados em criadores de referências de autoajuda, movimentos de natureza semirreligiosa/semiculto. Penso que haverá aqui um piscar de olhos à criação da Cientologia, veremos como a história evolui.

Sobre o desenho, nada mais a dizer: extraordinário, hipnótico (incluindo nas capas), imersivo e por vezes arrepiante. Muito bom, mesmo. A Editora Glénat apresentou esta BD em duas versões, uma clássica, com cores muito interessantes, bem trabalhadas para aprofundar o ambiente estranho, e os contrastes depressão-revelação. Para além disso há uma versão a preto e branco, de maiores dimensões, com lombada em tela, que põe em destaque a precisão, o enquadramento e a profundidade do desenho.

A narrativa será vista por muitos como difícil de compreender: “Onde nos leva o autor?”. Mas o tomo 1: Wilbur, constitui um preâmbulo, uma caracterização do tempo – anos 40 nos Estados Unidos – e do contexto: um caldo de cultura muito específico, as narrativas de ficção científica em revistas, livros e banda desenhada, o mundo editorial “sensacionalista”, a guerra fria e o Macarthismo, a explosão de Hollywood. Eu, pela minha parte, acredito no potencial desta narrativa e fui cativado. E, como tal, recomendo.

Ah, creio que ainda não referi quem são os autores. Vamos lá a isso, então:

-Desenhador: Brüno. Que posso eu dizer? Um dos mais interessantes desenhadores de Banda Desenhada dos últimos anos, já o mencionei no JuveBêDê no passado a propósito de Tzée, e desde Biotope a Tyler Cross passando por T’zée – Une Tragedie Africaine ou por Inner City Blues (a primeira BD em que tomei contacto com este desenho), ou por Commando Colonial, Brüno apresenta-se como um autor versátil, mas com um estilo facilmente reconhecível. Não me recordo de ter alguma das suas BD publicadas em Portugal.

- Argumentista: Nury (Fabien): Um argumentista de referência, uma vez que a generalidade das suas séries constituem sucessos de venda, teve a sua série W.E.S.T. (com o excelente Christian Rossi) publicada em Portugal. Tem já diversas séries e álbuns de BD no seu rasto, e recordo-me que chegou a ser um dos autores convidados para os episódios de XIII Mistery.


1 comentário:

  1. Um excelente autor e um excelente desenhador olimpicamente ignorado por cá. Até quando?...

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