terça-feira, 8 de setembro de 2020

O Árabe do Futuro 4 - Opinião


Há uns dias atrás falámos da edição do quarto volume da série O Árabe do Futuro, da Editorial Teorema. Tínhamos a certeza de que iríamos gostar tanto como os volumes anteriores. A verdade é que já o lemos e gostámos ainda mais. Para quem não conhece, O Árabe do Futuro é uma novela gráfica de cariz autobiográfico. O autor Riad Sattouf, filho de mãe francesa e de pai sírio, conta-nos a sua história pessoal, desde a infância e passando pela juventude, com enorme sensibilidade e humor. 
A ideia desta obra - confessa o autor - remonta aos começos da guerra civil na Síria, em Março de 2011. A fusão da sua história pessoal com a História real do mundo árabe, ambas contadas através do olhar inocente da criança que ele é na narrativa, dá a estes álbuns uma importante dimensão sociológica, tendo em conta que os primeiros anos da sua vida foram passados em pleno Médio Oriente, entre a Líbia do General Kadafi, a Síria de Hafez Al-Assad  e também em França, onde nasceu.

No primeiro volume, publicado pela Teorema em 2015, o pequeno Riad relata-nos a sua história no período 1978-1984, altura em que viveu entre a Líbia, a França e a Síria. O segundo volume, publicado em 2016, cobre o primeiro ano de escola na Síria (1984-1985), durante o qual o autor e protagonista aprende a ler e escrever em árabe, descobre a família do pai e se esforça por se tornar um verdadeiro sírio. No terceiro volume a história passa-se  entre 1985 e 1987, altura em que a mãe do autor, depois de ter estado sempre ao lado do marido convivendo com os usos e costumes árabes, não consegue mais suportar o quotidiano da aldeia de Ter Maaleh e decide regressar a França, seu país natal. O pequeno Riad vê então o seu pai esmagado entre as aspirações da mulher e o peso das tradições familiares.

A parte da história lançada agora é mais extensa (é o maior dos livros até agora) e desta vez cobre os anos 1987-1992. Com um total de seis volumes, o autor acaba de concluir o quinto livro que sairá em Novembro no mercado francófono. Esta é de facto uma série ímpar, um fenómeno no que toca a tiragens, com números muito acima do normal para este género literário. Mais de 1.500.000 de exemplares vendidos em França.

Voltemos ao quarto volume, que cobre a vida de Riad Sattouf entre os nove e os catorze anos. Com nove anos de idade no início da narrativa, o pequeno Riad torna-se adolescente. Uma adolescência tanto mais complicada quanto ele se sente completamente dividido entre as suas duas culturas - a francesa e a síria - e assiste à progressiva deterioração da relação entre os pais.
Nota-se que Riad se sente desenquadrado nas duas culturas, pois se na síria era motivo de gozo junto dos colegas, em França as coisas não são melhores. Isola-se cada vez mais e refugia-se nos desenhos, já na altura revelando enorme talento.
O pai foi trabalhar sozinho para a Arábia Saudita e, após uma peregrinação a Meca, vira-se cada vez mais para a religião... A mãe, cansada de o seguir para todo o lado durante anos, não consegue suportar esta inclinação religiosa do marido e regressa a França com os filhos... Até que o marido aparece inesperadamente para levar de novo toda a família para a Síria. A par de tudo isto, a mãe de Riad enfrenta um cancro e os difíceis tratamentos e o jovem adolescente sente-se cada vez mais afastado do pai. Apesar de se esforçar por ter uma boa relação com ele, não têm interesses nem pontos de vista comuns e a vinda do pai a França representa sempre uma fonte de problemas. O maior deles todos acontece no fim do livro e deixa-nos a querer ler o quinto volume o mais rapidamente possível. 
Não é por acaso que esta série tem vindo a receber vários prémios e um dos primeiros, tivemos o prazer de assistir à cerimónia da entrega. Aconteceu em Angoulême em 2015. 

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