quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A opinião de Miguel Cruz sobre "Silence d’Amour", de Parciboula e "Ciel D’Orages - London Burning", de Warnauts e Raives

 


Silence d’Amour

À medida que vamos entrando no período estival, as novidades editoriais de BD vão-se tornando mais escassas e tendencialmente menos interessantes. Ficamos à espera da rentré, e lá por setembro voltaremos a ter novidades daquelas que merecem leitura, releitura e destaque.

Assim, a BD sobre a qual apresento alguns parágrafos aqui hoje, já não é das mais recentes, foi publicada em maio deste ano e já teve opinião aqui no Juvebêdê pela Alexandra Sosua em 23 de Maio. Trata-se de uma obra que não merecia passar despercebida, tal a sua qualidade, mas que é, fica já o aviso, triste.

A personagem central é Paul, que sabemos habitar em Lyon e estar profundamente triste há 6 meses, na sequência do desaparecimento da sua companheira Sofia. Tristeza e cólera, desânimo e silêncio. 

Paul acaba por realizar uma viagem a Itália, à Sicília e à ilha de Stromboli, sendo que é durante este périplo que acompanhamos a personagem no seu processo de reconstrução, de tentar conviver com a dor, com a morte, com a ausência. 

É muito difícil descrever aqui muito mais da história, uma vez que o essencial é o desenho, agradável, sensível, atraente, e o texto, inteligente, verdadeiro, vivo. A importância da família, a busca interior, pautada de recordações, os contactos com desconhecidos, simples, mas por vezes com uma carga simbólica inesperada.

Não se trata de um tema inexplorado, não há nada de particularmente inovador. Há apenas uma história verdadeira de um homem que procura sobreviver.

Um One shot de Matthieu Parciboula, editado pela Casterman.





Ciel D’Orages – London Burning

Desde há muitos anos – alguns leitores e leitoras lembrar-se-ão de, por exemplo, “A Inocente” editada pela Meribérica, há mais de 30 anos – que sou “fã” do trabalho a 4 mãos de Éric Warnauts e Guy Raives, e que acompanho todas as BD que realizaram (que são muitas) a maior parte delas de grande qualidade.

Já tive a oportunidade de me encontrar com estes dois autores, de personalidades distintas, mas cuja compatibilidade de trabalho no argumento e no desenho é bem conhecida.

Ciel d’Orages saiu nos limites da primeira metade do ano de 2024, e a qualidade do desenho realista, as cores e a capacidade de transmitir ambientes plenos de sentimento e carregados de emoções, bem como de apresentar sequências narrativas movimentadas, mas sempre credíveis, em que as fragilidade e limitações das personagens sobressaem, mantém-se.

Estamos em 1940, em Londres, voltamos ao período do “Blitz” para começar (é o tomo 1 de 3 previstos) uma história em que vamos acompanhar a vida de alguns pilotos e, em particular, de uma personagem feminina que desempenha todas as tarefas de defesa dos céus de Londres como qualquer outro dos seus companheiros.

O ambiente é angustiante, as personagens e, particularmente, Kate Kavendish, às da Air Transport Auxiliary, têm profundidade, uma bagagem emocional que vai sendo desvendada, as cenas de ação são excecionais e pouco heroicas, embora a bravura de Kate e dos restantes pilotos seja evidente e admirável.

Uma história dentro da história. Uma história bem contada. Uma história de seres humanos. Uma história de uma época e uma história para a atualidade.

Claro que as primeiras 60 páginas de uma obra que se aproximará das 200 apenas nos podem abrir o apetite. Veremos como a narrativa se desenvolve, mas para já esta BD editada pela Lombard promete, e dá vontade de ter já na mão a totalidade da obra. 



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