quarta-feira, 14 de julho de 2021

Leitura "O Burlão nas Índias"

Concluímos a leitura do álbum "O Burlão nas Índias", da editora Ala dos Livros. Já sabíamos que era uma edição de excelência e também por isso encomendámos o pack de coleccionador (a editora fez uma versão especial de 100 exemplares numerados, com selo branco da editora e apresentados num invólucro de madeira cuja frente é uma tela que reproduz a imagem da capa do livro, sem texto). E assim ficámos com um livro e com um quadro! Um grande livro, robusto, num formato maior do que o habitual, uma história de 160 páginas, com belíssimos desenhos e com autores com muitas provas dadas de qualidade nos seus trabalhos: Alain Ayroles (argumento) e Juanjo Guarnido (desenhos). Porém, apesar disso tudo e ainda assim a leitura deste livro conseguiu surpreender-nos e pudemos constatar que esta é mesmo uma obra de referência e fora do comum.

Asseguramos que é um livro de banda desenhada a não perder. El Buscón, a novela picaresca escrita por Francisco de Quevedo, é uma das mais importantes obras da literatura espanhola de todos os tempos. No último parágrafo desta obra, Pablos, um burlão, relata que no final da vida viajou até às Índias em busca de fortuna. Prometeu detalhar os pormenores dessa viagem numa segunda parte, a qual Quevedo nunca escreveu.

Pegando na história no ponto em que Quevedo a interrompeu, é essa "segunda parte da História da vida do aventureiro de nome Don Pablo de Segóvia, vagabundo exemplar e espelho dos trapaceiros" que os autores nos propõem neste "O Burlão nas Índias".

Dom Pablos de Segóvia, o próprio burlão, narra-nos as suas aventuras. Um bandalho pouco recomendável, mas extremamente simpático e convincente, que na Espanha do Século de Ouro se aventura nessa América a que então chamavam Índias. Sucessivamente miserável e riquíssimo, adorado e escarnecido, as suas peripécias conduziram-no dos meios pobres aos palácios, dos picos da Cordilheira aos meandros do Amazonas, até esse local mítico onde se cristalizam todos os sonhos do Novo Mundo: o Eldorado!

A história divide-se em três capítulos e um epílogo e aos poucos o narrador vai desvendando as peripécias da sua vida, que são hilariantes aos olhos de muitas personagens que vão aparecendo e é essa graça que o vai safando várias vezes de uma morte precoce. Até aqui tudo certo, mas a verdade é que conforme nos vamos aproximando do final, somos surpreendidos pelo argumento e pelo destino do protagonista e ficamos com o sentimento que nós é que fomos burlados por ele. A não ser no final, em que somos os leitores que ficamos a saber tudo o que ele tramou e proprietários do seu segredo.

Por último uma palavra para os desenhos de Guarnido. Magistrais. As paisagens das montanhas, das florestas tropicais, os ambientes degradantes ou faustosos, tudo é desenhado ao pormenor e com grande mestria.



A tela e o livro







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