Tivemos o prazer de entrevistar Pierre-Henry Gomont, no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, a 31 de maio deste ano, quando o autor esteve por ocasião do lançamento do primeiro volume da sua obra “Slava”, editada pela ASA. Ao autor e ao editor Luís Saraiva, agradecemos por esta agradável conversa que aqui transcrevemos.
Publicamos aqui hoje a segunda parte da entrevista.
JBD – O humor é importante
na construção das tuas histórias, mesmo que estas sejam duras? Achas que é mais
fácil, através do humor, fazer as pessoas compreender temas mais sérios?
PHG – O público começa a
perceber melhor como são os russos e a distanciá-los dos seus governantes. Mas
sim, o humor é um ponto de partida do meu livro. Porque os russos também precisam
de humor. Não choram o tempo todo, nem são duros o tempo todo. Precisam do riso
para equilibrar a sua montanha-russa de emoções. Precisam de chorar muito e de
rir muito. Foi um ponto assente no meu livro, ter as duas componentes. Não para
atenuar a tristeza, mas para ter o efeito contrário. O que é triste, com o
riso, tornar-se ainda mais triste. Aqui ainda não leram ainda o final da
história (Slava tem três volumes), mas não termina bem. Então o que eu pretendo
com o humor nesta obra é que, quando rimos, sintam a tristeza de uma forma mais
forte.
JBD – O terceiro volume de
Slava já saiu. E agora? Já te encontras a trabalhar noutro projecto?
PHG – Sim, estou a
trabalhar numa coisa completamente diferente. Uma vez mais a sociologia a
trabalhar para mim. Desta vez interessei-me pelo tema dos cavalos que são
criados para participarem nas corridas de Palio, que acontecem em Siena,
Itália. Todo o universo que envolve as pessoas que participam nestas Palio di
Siena, este mundo social, interessou-me. Isto aconteceu porque o meu irmão é
cavaleiro, foi cavaleiro profissional, tem cavalos, é esse o seu mundo. Não é o
meu, mas fascina-me.
JBD – O mergulho neste
universo, para este novo projecto é uma forma de conheceres melhor o mundo do
teu irmão?
PHG – Exactamente. E mais
ainda. O tema subjacente a esta história tem a ver com a família. Portanto este
meu projecto tem um duplo tema.
JBD – Mas é ficção ou tem
alguma coisa de verdade?
PHG – Bem, o livro é de
ficção, embora tudo seja verdadeiro. Ou seja, a base é verdadeira, mas o que eu
ofereço aos leitores é uma história ficcional.
JBD – Voltando ao
princípio, como é que uma única pessoa consegue reunir tantas capacidades?
Autor de banda desenhada, economista, sociólogo… O teu dia tem 24 horas como o
das pessoas normais?
PHG – (risos), a verdade é
que a única coisa que faço a 100% é a banda desenhada. Sempre desenhei ao mesmo
tempo que desenvolvia outras actividades e acho que os meus estudos foram uma
espécie de preparação para os meus trabalhos de banda desenhada. Quando exercia
outras profissões sentia-me frustrado por não poder estar o tempo todo a
desenhar. Apenas desenhava à noite ou aos fins de semana. Mas agora que posso
dedicar-me completamente à banda desenhada, desenho a toda a hora, o mais
rápido possível e o melhor possível e espero que o meu trabalho seja apreciado
pelos leitores. Porque esse é o melhor prémio que posso receber.
JBD – Obrigada por este
momento e temos a certeza de que o público português é fã do teu trabalho.
PHG – Muito obrigado,
assim espero, e que sejam cá publicados os restantes livros de Slava.
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