sábado, 26 de agosto de 2023

A opinião de Miguel Cruz sobre: "Les Filles des Marins Perdus – Livre II", de Radice e Turconi e "Ne Lâche pas ma Main", de Duval, Cassegrain

 


Les Filles des Marins Perdus – Livre II

Se já no passado tinha comentado positivamente o antecedente deste trabalho dos Italianos Teresa Radice e Stefano Turconi, porque não continuar a análise com a continuação (eh lá…) dessa excelente BD? 

A continuação do relato envolvendo tranches do dia a dia das residentes do Pillar to Post, uma casa de luxo para satisfazer necessidades de marinheiros (a grande maioria são oficiais) recém chegados a Plymouth no fim do século XVIII, verdadeiro pilar e referencial da atividade desta cidade portuária, permite-nos conhecer o passado, personalidade e objetivos, de outras personagens da casa. 

Como acontecia com o Livro I, a história (ou o somatório de histórias) é tratada com muita sensibilidade (e bom senso!), elegância, com diálogos inteligentes, um pouco menos literários que no tomo anterior, e os temas desenvolvidos são envolventes, colocando-nos perante um verdadeiro relato de aventuras, ação e paixão. 

Muito interessante (constitui um aproveitamento do sucesso de histórias anteriores) este Livro II permite um momento agradável de leitura. Sendo um produto derivado de sucessos anteriores, esta BD lê-se facilmente mesmo sem ter tido contacto com os seus “antecessores”, embora algumas personagens retornem ao nosso contacto, como o colosso Tané ou o capitão Allali. Mas atenção: a intriga começada neste tomo vai ter continuação.

Os desenhos de Turconi, como não podia deixar de ser (atenta a sua bibliografia), continuam a ter um grafismo ligado ao universo Disney mas, curiosamente, vislumbramos alguma evolução para um desenho mais pessoal, menos fantasioso. Seja como for, o desenho é atraente, luminoso, limpo, com cores variadas e estimulantes, sem “desagradabilidades”, inconveniências ou qualquer tipo de sordidez.

Cinnamon, em particular, é uma recém-chegada ao Pillar, que tem como objetivo ganhar dinheiro para se poder juntar ao seu irmão em Madras, o que permite construir, com avanços e recuos, a intriga em torno de um tema central: a esperança. Muito positiva, por vezes “delicodoce” a história apresenta-nos a interação entre diferentes personagens muito interessantes, de caráter forte, e bem caracterizadas.

Editado pela Glénat, é uma boa leitura e merece o destaque, embora não possa deixar de recomendar em particular o Porto dos Marinheiros Perdidos, a BD que criou o universo que agora vai sendo explorado, e que é TOP.




Ne Lâche pas ma Main

Mais uma BD – quer no universo editorial Franco-Belga, quer nos meus comentários – em que o tandem Fred Duval (argumento) e Didier Cassegrain (desenho), nos apresenta uma adaptação de um livro (policial/thriller) de Michel Bussi. Mais um “romance gráfico” extenso, neste caso com mais de 120 páginas.

Comecemos pelo desenho: magnificamente conseguido, realista, mas com traços muito angulosos, cores quentes e contrastes luz sombra muito bem realizados. A “caracterização” das personagens é bem aprofundada, em função da sua personalidade. Os ambientes são essencialmente sumptuosos, nalguns casos absolutamente miseráveis, em ambos os casos credíveis.

Nesta BD, os acontecimentos desenrolam-se a grande ritmo. Aliás, logo nas primeiras páginas, Liane, turista num resort da Ilha da Reunião, sai da piscina, entra no seu quarto e desaparece.  Martial, o seu marido, chama a polícia após chegar ao quarto e o encontrar “de pantanas” e sem ninguém. Só que, não tardamos a descobrir, e connosco a polícia, Martial foi ao quarto logo a seguir à sua mulher, discretamente, e deixando a filha de ambos na piscina durante alguns minutos.

Martial é, portanto, o culpado ideal, acabando por fugir, acompanhado pela sua filha de 6 anos. Por seu lado, a polícia procura resolver os vários mistérios que vai encontrando, sendo que a equipa interna da ilha sofre de alguma desorganização que só parece dar sinais de melhoria quando ocorre uma intervenção de uma força policial externa, e em reação a esta. A chefe de polícia local Aja Purvi (na capa) acaba por se revelar competente, inteligente, organizada e mobilizadora. Só que Martial tem uma história passada que vamos conhecendo pouco a pouco e revela-se muito difícil de capturar, antecipando todos os passos das autoridades.

A narrativa é complexa, tal como as personagens, e as zonas de mistério permanecem mesmo até ao fim, garantindo-nos suspense, emoções e revelações.

Um one shot muito interessante, editado pela Dupuis, para os entusiastas de thrillers com pequenas notas de exotismo.






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