Le Dernier Quai
De vez em quando somos confrontados com uma BD difícil de classificar, e a que, se for de boa qualidade, temos o hábito de chamar uma pérola. E é precisamente sobre uma pequena pérola que vos quero falar: Le Dernier Quai.
Nicolas Delestret é o responsável por esta BD e, para quem tenha lido alguns meus comentários anteriores, já me tinha agradavelmente surpreendido com uma outra BD chamada “La Maison aux Souvenirs”. Não é um autor de “grande público”, mas é um autor de qualidade, que constrói histórias muito bem estruturadas, poéticas e modernas para nichos de mercado.
Sobre o desenho, num estilo semi-realista, muito delicado, em que as cabeças das personagens são tendencialmente arredondadas (há aqui traços de ligação a algum cinema de animação), nada a dizer de menos positivo. As cores são bem colocadas ao serviço dos diferentes momentos da narrativa, e a oposição luz-sombra demonstra um domínio gráfico de grande maturidade. Esta obra é de fácil leitura, pormenorizada no desenho e com uma composição de página muito atraente. A história é muito bem pensada, por forma a que o leitor vá, gradualmente, obtendo mais informação sobre as personagens e tentando adivinhar a relação entre elas.
O personagem principal é Émile, um simpático gerente de um hotel de charme muito especial, porque os clientes que ali chegam acabaram de deixar este mundo!! É um hotel purgatório, portanto, e este é o tema tratado com toda a doçura na BD.
Todos os dias a rotina do nosso gerente de hotel é a mesma, o que nos dá a falsa ideia de que pouco haverá a contar. A chegada de três novos clientes ao hotel cria a base da narrativa, dividida em vários atos, cada um começando uma página inteira retratando o acesso ferroviário ao hotel, que nos permite ir conhecendo a história de cada um destes recém falecidos e, particularmente a sua relação com Émile. E é aí que, ao acontecer uma quebra da rotina, tudo se complica…
Só no final do livro é que conseguimos ter a resposta para as diversas questões que vão surgindo, conseguindo Delestret esconder bem o seu “jogo”. O/A leitor(a) que se quiser aventurar na “visita” a este hotel, deve começar por refletir bem sobre a capa que lhe é apresentada. Editado pela Bamboo.
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