Spirou et La Gorgone Bleue - tomo 21
Recentemente mencionei aqui um novo tomo de Lucky Luke “visto por…”. Esta moda não é exclusiva do nosso divertido cowboy. Aliás, dira que o nosso amável paquete (?) Spirou leva vantagem: acaba de ver editado o tomo 21 (eh lá!), desta vez pela dupla Yann e Dany – Spirou et La Gorgone Bleue.
Dany - que já esteve em Portugal, da última vez no festival de Beja – tem o estilo de desenho (elegante e enganadoramente fácil) bem conhecido e sedutor que nos faz sempre suspirar, talvez pelas nossas referências de juventude. Quanto a desenho, top top top e está tudo dito. Yann é nosso conhecido de Thorgal, de Spirou ou de Lucky Luke editados em português.
Desta vez o nosso duo Spirou e Fantásio vê-se confrontado com um grupo ecologista que leva a cabo algumas ações de sabotagem, principalmente dirigidas a uma cadeia de fast food, “Mac Burgy”. A situação fica mais tensa quando a namorada do dono do grupo que detém essa cadeia (em que também se encontram outras atividades interessantes, especialmente na área dos produtos químicos), e rosto da publicidade da marca, de seu nome Lara, é raptada, aparentemente por esse grupo ecologista.
Por sua vez, a personagem feminina mais habitual nas histórias de Spirou - Seccotine - leva a caba uma investigação que parece indicar que o financiador do grupo ambientalista é o Conde de Champignac (Ermenegildo Ladislau…).
Modernidade, vários gags contemporâneos medianamente divertidos, uma comédia de situações, muito movimento, um argumento despretensioso que procura abordar alguns temas atuais, incluindo a poluição dos oceanos (até um submarino surge nesta história! Dah! Está na capa), muita crítica social a diversos grupos, com destaque para os patetas que quando vêm uma situação de emergência nada mais fazem que fotografar ou filmar com o seu telemóvel.
Fiquei surpreendido pelo nível e profundidade da crítica a comportamentos e posicionamentos. Superior ao que esperaria, não há dúvida de que Yann “passou ao ataque” e corre riscos. Por outro lado, as minhas expectativas em termos qualitativos não eram muito elevadas, e também aí fui surpreendido: melhor do que esperava, vale a leitura (e não apenas pelo desenho). Editado pela Dupuis.
Madeleine Résistante - tomo 2
Já tinha tido o prazer de ler e comentar o primeiro tomo da série com quatro tomos previstos, Madeleine Résistante, resultante da colaboração (!) entre os autores Jean David Morvan, Dominique Bertail e a própria Madeleine Riffaud.
Em relação ao tomo 1, em que conhecemos as origens de Madeleine, o seu processo de aproximação à resistência francesa, e as suas motivações, só tive o melhor a dizer. Sobre a BD, sobre a narrativa, sobre o desenho. Pois bem, vou ter o atrevimento de dizer que o tomo 2 é melhor ainda! Como maturidade na BD, como profundidade na narrativa, como aperfeiçoamento do desenho.
Esta foi das BDs que mais gostei de ler este ano. A ainda muito jovem Madeleine já é parte da resistência francesa, desenvolve várias tarefas de natureza administrativa e organizativa, com riscos, é certo, mas em que o brio no desempenho de tarefas importantes e exigentes não lhe é suficiente. A sua raiva em relação ao ocupante exige-lhe mais. E mais fará quando se junta a um grupo “armado” da resistência. E tal terá as suas consequências, e não apenas pelo facto de ser a sua primeira ação com consequências mortais, o que não pode deixar de deixar marcas.
Com este segundo tomo, seguimos com muito detalhe, o dia a dia da ocupação nazi de França, principalmente em Paris, e o consequente esforço de sobrevivência de muitos e muitos resistentes. Os desenhos marcados pelo tom azul são notáveis na abordagem às personalidades, atitudes, medos e coragem, e são extremamente bonitos e detalhados nas imagens de Paris.
São 129 páginas de acontecimentos relevantes e reais, de reflexões interessantes, de um desenho cativante e de uma narração que nos prende e nos surpreende frequentemente, pelos detalhes desconhecidos, pelos pormenores ignorados, pela maldade que nos custa a aceitar, pela determinação que nos parece quase impossível, pelo todo que nos parece longínquo, irreal.
Esta obra afigura-se-me tão essencial, tem sido muito bem recebida pelos leitores francófonos, que não posso deixar de recomendar, com todas as letras, a sua publicação em português. São 4 tomos anunciados, como já referi, embora não exclua, face ao sucesso, que possa vir a ser um pouco mais, apesar da provecta idade de Madeleine Riffaud.
Editado pela Dupuis no final de setembro, esta foi uma das BD que esperei com maior antecipação, e foi uma das BD devoradas com satisfação.
Lancelot - Tomo 1
Lancelot é uma novidade, numa série que já nos habituou à publicação de diversas adaptações de mitos gregos mais ou menos bem conhecidos. Em Portugal, a Gradiva publicou alguns dos mais de 30 álbuns adaptados de narrativas de Luc Ferry, ex Ministro da Educação em França, e com um currículo de publicações relevantes, especialmente na área da filosofia. Penso que a última publicação da Gradiva nesta coleção foi a de “Os Amores de Zeus”.
Com a publicação de Lancelot, tudo indica que o âmbito da coleção se alarga da mitologia grega para as lendas. E começa com uma BD associada ao romantismo cavaleiresco associado à bem-amada lenda do Rei Artur e dos cavaleiros da távola redonda.
Primeira parte de uma história, “Lancelot, Le Chevalier de la Charrette” (o cavaleiro da carroça), tem os mesmos autores que o já referido “Os Amores de Zeus”: Clotilde Bruneau responsável pelo argumento e o Brasileiro Carlos Rafael Duarte a assegurar o desenho.
Este primeiro tomo, de um conjunto previsto de quatro, apresenta-nos o ponto de partida da narrativa: o grande guerreiro Lancelote vai ter de enfrentar a populaça mal-intencionada e um conjunto de malvados, sujeitando-se a diversas vergonhas, para descobrir onde o ignóbil Méléagant, filho do rei Bademagu, detém a sua amada rainha Guinevere – outras obrigações impediram Arthur de tratar, ele próprio, do assunto (digo eu)!
Lancelot vai ter de enfrentar várias provas, felizmente acompanhado do puro Gauvain (que normalmente conhecemos como Gawain), e os acontecimentos desenrolam-se com uma grande rapidez, esperando que mais detalhes sejam tratados em próximos tomos, permitindo dar uma maior coerência ao sacrifício de Lancelot e consistência à motivação dos “maus da fita”.
A ética dos companheiros de Artur e o “romance cavaleiresco” estão na base desta BD com desenhos clássicos, detalhados e elegantes que, apropriadamente, sem perder uma certa teatralidade de posturas e de gestos, se foca no movimento e na dinâmica dos acontecimentos.
Há muitos anos que não estava perante uma história deste tipo – “vamos salvar a dama, sempre em frente, não há nada que nos pare!”. Tem o seu quê de refrescante, apesar de só com os próximos tomos se poder perceber se há densidade suficiente nas personagens e nos acontecimentos. Os desenhos são agradáveis e de qualidade, o que ajuda muito. A capa é do Italiano Paolo Grella, desenhador de L’Ombre du Temps.
Na contracapa é anunciado um vasto conjunto de lendas, adaptações e contos que, segundo parece, não tarda nada por aí estarão a bater-nos à porta numa nova versão BD: Romeu e Julieta; Don Juan; Adão e Eva; Carmen; Tristão e Isolda. Todo um programa, da editora Glénat. Ah, é verdade, depois de ter visto a contracapa, fui verificar, e já saiu a adaptação de Romeu e Julieta, também de Clotilde Bruneau, neste caso com desenho do italiano Gianenrico Bonacorsi. Não li, mas vou pensar nisso…
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