sexta-feira, 20 de setembro de 2024

A opinião de Miguel Cruz de "Le Partage des Mondes", de Olivier Grenson e "Parker Girls", de Tenny Moore

 



Le Partage des Mondes

Carland Cross e Niklos Koda, La Femme Accident ou Jack et Lola são obras de Olivier Grenson (com outros autores) que constituem boas referências da qualidade do seu trabalho, um desenho realista, detalhado, colorido, intenso, cinematográfico no ritmo e nas perspetivas.

Le Partage des Mondes é uma obra muito interessante de um autor maduro, que assumiu também, para além do desenho, a elaboração do argumento. A história é, reconhecidamente, uma aposta muito pessoal. Aliás, não é habitual neste autor uma história desta dimensão (mais de 200 páginas) num único volume. O grafismo é elegante e a qualidade do trabalho de coloração revela-se muito importante para esta BD. 

A história passa-se em Londres, em finais de 1940. A cidade vai sendo devastada pelos bombardeamentos alemães, e o ambiente de Blitz é intenso, sonoro, depressivo, assustado e perigoso.

As personagens centrais são Isaac Green, um idoso de barba e cabelos brancos, que procura sobreviver a este período com a dignidade possível, e Mary uma criança que se perde na confusão da capital bombardeada, enquanto seguia um animal, quando regressava do campo. Face às dificuldades em encontrar a família de Mary, Isaac leva a criança para sua casa.

Assustada e com saudades da sua família, Mary vê, reconhecidamente, o seu protetor contar-lhe histórias para a distrair ao mesmo tempo que dela cuida o melhor que sabe. Esta base da narrativa permite ao autor apresentar-nos belas imagens de Londres, de devastação, de população assustada, de subterrâneos, mas também espraiar-se por páginas contrastantes entre realidade e onirismo. E que belas páginas, focadas no sonho e na esperança. A caracterização da roupa e da época, bem como de material de guerra, são adequada.

O tom é de ternura, mas Isaac, que vive numa casa que foi atingida pelos bombardeamentos, tem uma história passada de perda, e para além de proteger Mary do caos que os rodeia, vai gradualmente recuperando algum sentido de vida.

Uma excelente BD, editada pela Lombard.







Parker Girls

Terry Moore é um reputado autor de Comics que recebeu, ainda no século passado, um Eisner Award por “Strangers in Paradise”. A sua última “entrega” foi Parker Girls, uma história de “espionagem” com gadgets e um vilão, que merece a comparação com James Bond, com a diferença de que as personagens centrais são jovens mulheres, aliás, uma organização de jovens mulheres.

Parker Girls é (e não é o primeiro) um crossover de “Strangers in Paradise”.

Um empregado do milionário Zackary May tem a infeliz ideia de desviar uns milhões da conta offshore do seu patrão. Zackary May recorre às Parker Girls para recuperar o seu dinheiro. E isso acontece, efetivamente, e aí se inicia esta aventura, com um encontro numa ilha paradisíaca. A partir daí tudo descarrila. 

Com a descoberta de destinos de verbas e com a morte de algumas personagens surge a desconfiança de que as Parker Girls foram usadas para algo diferente do que se previa. Mas não se trai impunemente a organização (família?) Parker Girls. Mas Zackary May também não é “flor que se cheire”!

Parker Girls vs Zackary May (e toda uma rede associada), cada um a tentar antecipar os movimentos dos outros, uma aventura movimentada, surpreendente e frequentemente divertida.

Masculinidade tóxica e misoginia, corrupção, tecnologia e vingança. Simples e agradável de ler, embora recomende que, caso possam, seria interessante ler “Strangers in Paradise” primeiro. Editado pelo Abstract Studio. A preto e Branco.



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