Que livro extraordinário! Do argumentista Zidrou não esperávamos outra coisa, porque tudo o que escreve é excelente, mas não conhecíamos o trabalho do desenhador espanhol José Homs e ficámos impressionados pelo seu enorme talento. Bem, a verdade é que já conhecíamos o seu traço, quando estivemos com o desenhador na Comic Con em 2022, mas não tínhamos ainda tido contacto com uma obra sua (vejam o autógrafo incrível que nos deu, precisamente um desenho de uma das protagonistas de Shi).
"Shi” é uma das mais aclamadas séries da BD franco-belga da actualidade, e a Ala dos Livros publicou esta edição especial que inclui os dois primeiros dos quatro tomos que formam o Ciclo I desta série.
Esta é daquelas histórias que reúnem todos os ingredientes necessários para que a consideremos como uma obra de referência. O enredo é envolvente e original, com um ritmo ora mais sereno ora acelerado, com muitas voltas e reviravoltas. Começamos no século XXI, mas recuamos no tempo até 1851, em Londres. A vingança de que são alvos os responsáveis de uma empresa que fabrica minas antipessoais, vem de outros tempos, da criação de uma organização feminina. Na sua origem está a jovem Jennifer, filha do Coronel Winterfield. De uma forma inesperada, os caminhos de Jennifer vão cruzar-se com uma mulher japonesa e a partir daí, os acontecimentos atropelam-se e as duas mulheres de origens opostas, mas vítimas das circunstâncias e da sociedade, unidas pelo ódio, acabarão por criar laços indestrutíveis.
Dizíamos nós que esta história tinha todos os ingredientes necessários e é verdade. Mistura fantasia com uma espécie de intriga e investigação policial, vários alertas de consciência social, questões da subjugação feminina e repressão familiar numa Inglaterra Victoriana, mas temos também as tragédias provocadas actualmente pelas minas antipessoais. Tem violência, morte, um toque de magia e muita acção.
Tudo isto brindado com os desenhos de José Homs, que são perfeitos desde as personagens aos cenários, com pranchas de configurações diversas, com cores mais fortes ou mais suaves consoante o momento que está a acontecer.
Shi – é um nome tem origem num ideograma que significa “a morte”, mas se pensarmos em termos fonéticos, pode ler-se "She" (ela), tendo em conta que estamos a falar numa organização que tem por base duas mulheres contra um império.
Brilhante, esta obra que recomendamos, que ainda por cima nos brinda no final com vários extras e que, sendo uma edição especial, é muito cuidada e tem lombada em tecido, com uma inscrição que virá a completar-se com o próximo livro.
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