terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

A opinião de Miguel Cruz sobre "American Parano - Black House t.1 e t.2" de Bourhis e Varela e "The Kong Crew - Intégrale", de Herenguel

 



American Parano – Black House t.1 e t.2

Dois tomos constituem esta aventura centrada na Black House onde, na década de 60 em São Francisco, se realizam missas negras conduzidas pelo seu proprietário, e fundador da igreja de satã, Baron Yeval. American Parano é uma criação de Hervé Bourhis no argumento, e de Lucas Varela no desenho. Bourhis já é conhecido pelo seu humor desconcertante e a sua busca da simplicidade das BD de outrora. Lucas Varela era-me desconhecido, confesso, embora tenha sido a oportunidade de uma conversa com este autor argentino que me levou a adquirir os dois tomos de American Parano.

A história é centrada na investigação de um conjunto de mortes com rituais satânicos, em plena revolução hippie de São Francisco, e na personagem de Kim (Kimberley) Tyler, uma inspetora de polícia novata e recém-chegada a São Francisco, onde o seu pai também esteve até à sua morte (suicídio?). Kim Tyler é de uma ingenuidade notável, mas curiosa, inteligente, séria, resistente – única mulher num departamento exclusivamente masculino.

O seu “adversário” mais óbvio, Baron Yeval, é inteligente, manipulador, carismático, completamente tresloucado, resta saber se, para além de vigarista, será efetivamente um criminoso.
O primeiro tomo é muito interessante, entusiasmante. O segundo tem uma conclusão que nos deixa um pouco desapontados, talvez porque as expectativas são muito altas quanto à originalidade. A leitura é muito interessante (a BD propõe, via QR Code, uma banda sonora para a leitura, com várias músicas apropriadas à época e aos ambientes, começando pela excelente e bem conhecida San Francisco (Be Sure to Wear a Flower in Your Hair) de Scott McKenzie), a personagem principal é cativante, e a forma como o ambiente é retratado é delicioso.

O desenho constitui um dos elementos centrais da atração por esta BD. Confesso que primeiro se estranha – os olhares fixos, as cores, principalmente o foco no vermelho (acastanhado) e no azul, no profundo azul dos olhos de Kim, a arrumação de página, a clareza de leitura – e depois se entranha – a simplicidade da leitura o estilo pop art, o desenho caricatural, mas tão expressivo, o detalhe arquitetural, a exatidão (imagino eu) no retrato da época e do ambiente. Original.

Apesar de o desenlace, com a descoberta da identidade do assassino, parecer colocar termo a esta história, os autores deixam-nos, com a morte do parceiro de Kim, e com as revelações de Yeval, pistas sobre a morte, a personalidade e as relações do pai da nossa jovem detetive, que indiciam uma continuação das aventuras American Parano.

Editada pela Dupuis, esta BD merece o destaque pela abordagem inovadora principalmente no desenho. Esperemos que continue a surpreender os leitores.




The Kong Crew - Intégrale

Já conhecia esta série e, mais do que uma vez, cheguei a pensar em adquirir para leitura, até porque o seu autor, Éric Herenguel, é dono de um traço notável e já, no passado apresentou obras merecedoras de destaque, especialmente no desenho. Mas nunca foi prioridade e, quer a compra quer a leitura lá se ficaram pelo inferno das boas intenções.

Eis senão quando (tinha de usar esta expressão pelo menos uma vez na vida), no passado mês de novembro surgiu um terceiro tomo, seguido, em dezembro, pelo integral da série.
Ponto de partida para esta série: King Kong ganhou a sua luta, em plena Nova York, mais concretamente Manhattan, contra o exército americano, levando a que o espaço fosse abandonado e, passados quase 15 anos, se encontre ocupado por uma vegetação luxuriante.

Os elementos da Kong Crew são essencialmente aviadores que vão fazer o reconhecimento aéreo da zona, nuns Estados Unidos marcados pela II Guerra Mundial. Ping bang crash, a ação é intensa, o grafismo é dinâmico, o desenho é atraente, ligeiramente caricatural, tudo nos diverte tanto que até nos esquecemos de “franzir o nariz” aos excessos pouco credíveis que atravessam as mais de 200 páginas desta “absoluta maluqueira” editada pela Editions Caurette (os três tomos editados pela Ankama).

Há pranchas absolutamente espetaculares que fazem a delícia de qualquer leitor ou leitora, a sequência narrativa é uma verdadeira montanha-russa e tal como esta, também a leitura é bem divertida.

Um gorila mauzão de proporções épicas, dinossauros, uma vegetação ameaçadora, amazonas, pilotos mais ou menos aselhas, jornalistas mais ou menos propensos ao risco, cientistas maravilhados e alheados, alguns flashes back imaginativos e bem integrados. Delírio completo.




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