O que faz este livro ser tão especial? Porque nem o desenho é especial, nem o argumento. Aqui, de Richard McGuire foi considerado como uma obra de arte e de literatura e uma das novelas gráficas mais inovadoras de sempre, tendo sido premiada com: "Prémio de Melhor Livro do Ano (Festival de Angoulême)"; Melhor Livro da Década (Les Inrocks) e "Um dos 100 Melhores Livros do Séc.XXI (El País).
Deste lado procedemos à sua leitura e quando chegámos ao fim continuámos com a mesma interrogação: será que este livro pode ser considerado como uma novela gráfica?
Não temos resposta para isso, porque o que sabemos é que, de uma forma resumida, uma novela gráfica é uma banda desenhada com uma história mais longa, e uma banda desenhada é uma história narrada em imagens. Ora neste livro, não existe princípio, meio e fim, existindo apenas um único fio condutor que é o espaço, mas não há uma sequência e o leitor viaja pelo mesmo espaço no passado ou no futuro, sem nenhuma conexão e com distâncias de milhares de anos. Vamos assistindo a cenas avulsas diversas, que ocorrem na mesma sala, como se estivéssemos a fazer zapping de forma rápida. Portanto não existe propriamente uma história para acompanhar, apenas alguns vislumbres, pedaços de vida quotidiana de famílias ou cenas da natureza quando a sala e a casa ainda não existiam. Na mesma página dupla podemos assistir a vários momentos diferentes, distantes no tempo. Podemos estar no ano 50.000 a.c., em 1996 e 2222, por exemplo.
Voltando à pergunta inicial? No fim de contas, o que faz este livro ser tão especial? Certamente não são as ilustrações nem o argumento que é quase como se não existisse. É o facto de ser tão disruptiva e original e a forma como nos são transmitidas as várias vivências no mesmo local que vai mudando consoante o ano em que estamos.
Esta edição da Cavalo de Ferro, chancela da Penguin Random House, é sem dúvida daquelas que gera controvérsia e que não é para todo o tipo de público. Acabámos por dar por nós pensar no equivalente deste livro em outras formas de arte. Se fosse uma pintura ou uma escultura, se calhar seria considerada uma obra abstrata.
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