A nossa leitura de "Boarding Pass", de Ricardo Santo - Edição A Seita, Comic Heart

 

Andávamos há meses para ler este livro de Ricardo Santo, mas constantemente a adiar devido a um pormenor que nos estava a bloquear: o tamanho da legendagem. A dimensão muito pequena das letras não nos dava coragem para iniciar a leitura. Porém, como gostamos muito dos trabalhos do autor, queríamos muito ler este "Boarding Pass", com edição d' A Seita - Comic Heart.

Não foi fácil, mas lá mergulhámos na história, que decorre em Barcelona, cidade onde Ricardo Santo se fixou já há alguns anos. A narrativa passa-se mais concretamente num antigo bairro industrial, onde imigrantes de diversas proveniências tentam sobreviver conforme podem. Se as personagens já tinham problemas diversos de adaptação ao país, conseguir trabalho, etc., mais difícil tudo se torna com a especulação imobiliária galopante, que leva a despejos por parte dos proprietários, obras de reconstrução e ocupações ilegais de edifícios. No meio de tudo isto por um lado a violência crescente, o tráfico de droga, subornos, corrupção, misturam-se com paixão, vontade de vencer na vida e sonhos de realização na vida artística, neste caso, na música.

É no meio de tudo isto que nasce uma amizade entre um rapaz e uma rapariga, procurando ambos um sentido para a sua vida. Os seus percursos são o fio condutor desta história cheia de ritmo e dinamismo, onde se mistura sofrimento, desespero e tristeza, mas ao mesmo tempo uma luz no fundo do túnel, de positividade, amizade e esperança de quem quer pertencer ao lado bom da vida. 

Um livro muito actual, que traz a lume vários problemas que a sociedade atravessa, coisa que já acontecia nos livros anteriores do autor. Aqui nota-se que Ricardo Santo dá mais um passo em frente na sua afirmação enquanto autor de banda desenhada, com temas mais complexos e até com cenas mais ousadas e picantes, onde nada fica por mostrar.

Uma palavra quanto aos desenhos, bem ao estilo do autor, com muita cor e movimento, acompanhando bem a dinâmica da história, mesmo nas situações mais caóticas, sempre com personagens em estilo "cartunesco", com grande expressividade, principalmente no olhar.