Se esta manhã desvendámos um pouco da vida de Calamity Jane, agora desvendamos um pouco da verdadeira vida do herói lisboeta "Corvo". Igualmente lançado pela Ala dos Livros, "Inimigos Íntimos" é o quinto volume do fantástico Corvo, criado por Luís Louro em 1994.
Vicente, morador em Alfama e carteiro de profissão, teve uma infância difícil – o pai, polícia, acabou por se enforcar depois de ter morto a mãe por causa de… futebol. Não é por isso de estranhar que, em adulto, Vicente sofra de alguns traumas e apresente um desdobramento de personalidade que faz com que, durante a noite, tenha necessidade de deixar emergir o seu “eu inconsciente” transformando-se no Corvo.
Esperem lá, mas isso já todos sabiam… A “timidez do Vicente”, o “vestir a pele de super-herói”, blá, blá, blá. Mas o que todos querem saber é o que significa isso dos “Inimigos Íntimos.” O que aconteceu afinal a Vicente que ainda não sabemos? Qual a origem dessa dupla e atormentada existência do Vicente como Corvo?
Esta é uma viagem intensa e surpreendente pela (sub)consciência de Vicente, que vai revelar como as personagens e os traumas do passado fizeram nascer o herói mais inconsciente de todos os tempos. (Quase) sempre com a noite da sua Lisboa como cenário, o Corvo vai combatendo os seus temíveis inimigos alados e os malfeitores mais inesperados. Mas será o Vicente capaz de encontrar a ajuda ideal para enfrentar os seus próprios demónios? Conseguirá ele escapar à tentação? Vamos finalmente descobrir o segredo das chamuças do Corvo?
Escaramuças e chamuças à parte, a verdade é que esta é mais uma pérola da banda desenhada nacional, onde ao mesmo tempo que assistimos ao crescimento da personagem, também nos damos conta do crescimento do autor como argumentista. O estilo do seu desenho já conhecíamos bem, mas de livro para livro vamos sentindo Louro mais seguro na arte das letras, e utilizando essa arma para tecer críticas à sociedade, neste caso específico brincando com o "politicamente correcto" quando muitas vezes roça o ridículo. Também este livro está recheado de pequenas referências, em género de easter eggs como o autor já nos vem habituando e que os leitores mais atentos conseguem desvendar. É aqui que encontramos referências várias quer a obras anteriores, quer à vida pessoal de Luís Louro. Para além da leitura, também nos divertimos com estas descobertas, como se estivéssemos a brincar ao "onde está o Wally?"
Destacamos ainda o excelente prefácio do livro, a cargo de João Marques, um grande fã do trabalho do autor, e que aqui se revela exímio na arte da escrita e análise, tudo feito com bom humor.
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