segunda-feira, 23 de agosto de 2021

A nossa leitura de "Inimigos Íntimos" - o quinto volume do Corvo

 


Se esta manhã desvendámos um pouco da vida de Calamity Jane, agora desvendamos um pouco da verdadeira vida do herói lisboeta "Corvo". Igualmente lançado pela Ala dos Livros, "Inimigos Íntimos" é o quinto volume do fantástico Corvo, criado por Luís Louro em 1994. 

Vicente, morador em Alfama e carteiro de profissão, teve uma infância difícil – o pai, polícia, acabou por se enforcar depois de ter morto a mãe por causa de… futebol. Não é por isso de estranhar que, em adulto, Vicente sofra de alguns traumas e apresente um desdobramento de personalidade que faz com que, durante a noite, tenha necessidade de deixar emergir o seu “eu inconsciente” transformando-se no Corvo.

Esperem lá, mas isso já todos sabiam… A “timidez do Vicente”, o “vestir a pele de super-herói”, blá, blá, blá. Mas o que todos querem saber é o que significa isso dos “Inimigos Íntimos.” O que aconteceu afinal a Vicente que ainda não sabemos? Qual a origem dessa dupla e atormentada existência do Vicente como Corvo?

Esta é uma viagem intensa e surpreendente pela (sub)consciência de Vicente, que vai revelar como as personagens e os traumas do passado fizeram nascer o herói mais inconsciente de todos os tempos. (Quase) sempre com a noite da sua Lisboa como cenário, o Corvo vai combatendo os seus temíveis inimigos alados e os malfeitores mais inesperados. Mas será o Vicente capaz de encontrar a ajuda ideal para enfrentar os seus próprios demónios? Conseguirá ele escapar à tentação? Vamos finalmente descobrir o segredo das chamuças do Corvo?

Escaramuças e chamuças à parte, a verdade é que esta é mais uma pérola da banda desenhada nacional, onde ao mesmo tempo que assistimos ao crescimento da personagem, também nos damos conta do crescimento do autor como argumentista. O estilo do seu desenho já conhecíamos bem, mas de livro para livro vamos sentindo Louro mais seguro na arte das letras, e utilizando essa arma para tecer críticas à sociedade, neste caso específico brincando com o "politicamente correcto" quando muitas vezes roça o ridículo. Também este livro está recheado de pequenas referências, em género de easter eggs como o autor já nos vem habituando e que os leitores mais atentos conseguem desvendar. É aqui que encontramos referências várias quer a obras anteriores, quer à vida pessoal de Luís Louro. Para além da leitura, também nos divertimos com estas descobertas, como se estivéssemos a brincar ao "onde está o Wally?"

Destacamos ainda o excelente prefácio do livro, a cargo de João Marques, um grande fã do trabalho do autor, e que aqui se revela exímio na arte da escrita e análise, tudo feito com bom humor.






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