segunda-feira, 6 de maio de 2024

A opinião de Miguel Cruz sobre "Murena 12 - Mort d’Un Sage", de Dufaux, Theo e Delaby e "L’Incroyable Histoire de L’Argent", de Simmat e Garnier





Murena 12 - Mort d’Un Sage

O título acima é o do décimo segundo tomo – que conclui o terceiro ciclo – de Murena, série de grande qualidade (mesmo para os tomos menos conseguidos, que também os há) e enorme sucesso, criada por Jean Dufaux e Philippe Delaby (saudoso e extraordinário desenhador), e que nestes últimos tomos passou a ter o italiano Theo (Caneschi) como responsável pelo desenho. Enfim, nenhum dos autores precisa de apresentação, muito menos a série, que tem vindo a ser publicada em Portugal (falta agora este tomo!).

Começando esta apresentação pelo desenho, pouco mais há a assinalar do que a continuação da excelência do mesmo, com um traço cada vez mais detalhado e confiante. Bom sinal disso mesmo é a própria capa. Bem conseguida e bastante melhor que a do tomo 11 (Lemúria), que não era, na minha opinião, muito feliz.

A cabeça retratada na capa deste mais recente tomo é a do velho mestre Séneca, e a morte de um sábio a que se refere o título é, obviamente, da mesma personagem. Considerado culpado de envolvimento no “complot” contra o imperador, Séneca recebe a ordem de se suicidar, o que faz, num suicídio acompanhado e vigiado. Nero continua obcecado pela eliminação das pessoas envolvidas na conspiração contra a sua pessoa, e este tomo volta a ser marcada pelas dúvidas do imperador em relação a Murena e pela difícil relação entre ambos. Murena vai recuperando a sua memória, depois da situação vivida com Lemúria.

Mais um episódio desta série histórica em que a tensão, as desconfianças, as manobras de bastidores, as tentativas de clarificar posições, as avaliações de vantagens de alianças momentâneas, são a linha condutora da narrativa. 

O detalhe, a procura do rigor histórico, o cuidado em tecer uma narrativa romanceada com base em verdade histórica, o nível de documentação do desenhador, tudo isto transforma esta série – e este tomo não é exceção – numa obra incontornável no panorama da BD Franco-Belga.

A sequência narrativa mantém a qualidade dos álbuns anteriores, sendo que as cores são fundamentais para esta obra e são da responsabilidade do experiente Lorenzo Pieri. As páginas finais com informação histórica mantêm-se e concedem ainda maior veracidade ao contexto da narrativa.

Editado pela Dargaud, este tomo termina, portanto, e como referi, o terceiro ciclo de Murena. Tudo indica a vontade de que haja um quarto ciclo. Fico contente, apesar de ser importante fazer notar que o primeiro tomo da série foi publicado em 1997, há 27 anos!





L’Incroyable Histoire de L’Argent

Admito que, enquanto economista e entusiasta de BD, me ficasse mal não assinalar a publicação pela editora Las Arènes, de mais um álbum didático, neste caso referente à “Incrível História do Dinheiro” (“De Crésus às bitcoins”).

O argumento ficou a cargo de Benoist Simmat, jornalista (e jornalista de economia) e ensaísta francês, que conta já com algumas bandas desenhadas, essencialmente do mesmo tipo, publicadas. O desenho ficou a cargo de Tristan Garnier, recém-chegado à Banda Desenhada.

Ao ter este carácter didático, é óbvio que se trata de uma BD com uma natureza muito específica, dirigida a quem quer aprender algo sobre o tema, ou para apreciadores do género. Mesmo não sendo um entusiasta do género, importa assinalar que a abordagem está interessante, fluída e acessível. Consegue-se ficar a conhecer detalhes muito interessantes, pelo que a BD cumpre na perfeição com o seu objetivo.

O desenho é simples, e apesar da estrutura de “quadros” didáticos, o desenhador consegue aportar expressividade e vivacidade ao relato sobre trocas humanas. Desde o paleolítico superior à atualidade, abordando a troca direta, a utilização de conchas, do sal, do ouro, do euro e da criptomoeda, tudo é abordado neste longo calhamaço de um pouco menos de 200 páginas.

A indispensável narração é cuidadosamente usada (por vezes com recurso a pés de página) e imaginariamente colocada na boca do referenciado como inventor de bitcoin Satoshi Nakamoto.

Uma leitura simples, informativa, em que a Banda Desenhada é o meio usado para melhor permitir a visualização dos detalhes das situações explanadas.

Dentro do género, merece um thumbs up!



Sem comentários:

Enviar um comentário