sexta-feira, 31 de outubro de 2025

A nossa leitura de "O Homem de Negro", de Grégory Panaccione e Giovanni Di Gregorio - Edição ASA


Lemos este livro logo que saiu, mas ainda não tínhamos tido oportunidade de falar sobre ele. E dado que o desenhador, Grégory Panaccione, estará por cá hoje e durante o fim de semana, no Festival Amadora BD, faz sentido falarmos agora desta obra "O Homem de Negro", que tem argumento de Giovanni Di Gregorio.

O Homem de Negro contrasta com as anteriores leituras que fizemos de Panaccione (de quem somos fãs), pois esta é mais pesada, tratando do tema de abusos sexuais a crianças. Neste caso uma criança em particular, que é abusada por um familiar e que estamos quase até ao fim para perceber de quem se trata. 

O protagonista é um menino que aparentemente tem tudo para uma infância feliz. Dois pais que o adoram, uma boa casa e um cãozinho que é o seu grande amigo. Porém, todas as noites o menino é atormentado por um pesadelo: aparece sempre um “homem de negro” que o aterroriza, até ele acordar. 

Mattéo, a criança, lida com esse problema conforme pode e de uma forma que também só vamos perceber no final, mas ele vai ter que enfrentar esse “homem de negro” que o deixa paralisado, para se poder libertar do horror em que vive. Ele não entende bem o que se passa, mas percebe o medo que tem e que associa à escuridão, apesar de estar em casa e supostamente em casa devia sentir segurança.

O tema é tratado com muita sabedoria e sensibilidade e ficamos a pensar em quantas crianças poderão sofrer como Mattéo, em silêncio, e por vezes sem entenderem bem o que estão a fazer-lhes e ao não entenderem, não conseguem verbalizar o que se passa, nem queixar-se.

Essa invisibilidade de um flagelo que acontece à porta fechada é aqui muito bem representada, pois na realidade nunca vemos nada, mas sabemos que uma presença ameaçadora está sempre presente. Até o  título, desde logo remete-nos para o medo, tipo bicho-papão na escuridão. 

O que é curioso é que sendo um livro para adultos, os desenhos de Panaccione desta vez são mais infantilizados, como se se tratasse de um livro para crianças. Desde logo sobressai uma coisa em que o desenhador é exímio, que é a expressividade das personagens. Já tínhamos visto isso no Oceano de Amor e Alguém com Quem falar. A tristeza, a raiva, a vergonha, a desorientação, o desespero, são muito bem espelhados nos rostos dos intervenientes da história.

Um livro muito bom, muito forte, com uma história densa, mas de enorme sensibilidade, que nos atinge como um murro no estômago.





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