Sibylline - Chroniques d’Une Escort Girl
Lançado para o Festival de Angoulême deste ano, esta BD foi apresentada pela editora como uma novidade editorial marcante, face ao tema, e parece ter tido bom acolhimento dos/as leitores/as. Trata-se de um relato de uma jovem que vai viver para Paris para iniciar os seus estudos universitários e que acaba por levar uma vida dupla de estudante e de escort girl de luxo. Raphaëlle de dia, Sibylline de noite.
É um tema efetivamente tabu, que eu me recorde relativamente pouco tratado em BD, e a sua autora, também ela uma jovem autora de BD, deu várias entrevistas onde apresentou a sua vontade de tratar este tema como resultado de uma investigação que levou a cabo, e da subsequente recolha de testemunhos.
A abordagem é, efetivamente, forte, a situação descrita é intensa, e a autora consegue traduzir bem essa intensidade, e uma profusão de sentimentos, bem como a caracterização de uma diversidade de personagens, das imperfeições de todos e todas. Mas mais do que isso, a autora aborda vários temas societais em função das experiências da personagem principal.
Não há juízos de valor explícitos, há apenas uma perspetiva sobre vários assuntos, sobre vários participantes, em doze capítulos, doze situações temáticas diferentes. Eventualmente, apenas, uma expressiva tomada de posição sobre a necessidade de definir limites.
É um relato sincero, uma certa forma de documentário, com uma abordagem gráfica muito limpa, suave, expressiva, intimista, mas com grande sensibilidade. Cada capítulo constitui uma abordagem cinematográfica específica, o desenho a preto branco (e cinzento) é realista e atrativo.
Para uma primeira obra de Banda Desenhada, Sixtine Dano, a autora, consegue um feito notável de qualidade e notoriedade. Um álbum humano, tocante, sensível. Inteligente. Publicado pela Glénat.
Un Flic Sous L’Occupation Tome - 1: Profit garanti
Várias vezes tive oportunidade de falar sobre uma das séries de BD de maior qualidade dos últimos anos na minha opinião, claro: “Amours Fragiles”, de Philippe Richelle (argumento) e de Jean Michel Beuriot (desenho).
Este mesmo duo de autores lançou um primeiro tomo de uma nova série: “Un Flic sous l’Occupation”. Estamos sob ocupação alemã de França, década de 40, e o ambiente é naturalmente opressivo, as regras mudaram, a palavra de ordem é adaptação (e sobrevivência, naturalmente).
O polícia é o inspetor Marsac, bom polícia, leal, inteligente, mas que como todos, terá de se adaptar. A BD começa com um assalto a um rico proprietário, que acaba por se saldar na sua brutal morte e também na da sua mulher. Marsac reconhecer o modus operandi da “execução” do casal e consegue conduzir à acusação e detenção de Lucien Grenier um violento criminoso que tinha preso no passado, mas que agora fora solto por iniciativa do ocupante.
E a situação repete-se, Lucien, metido em negócios de contrabando e de mercado negro, volta a ser libertado por ordem expressa do ocupante, o comissário de polícia demite-se, Marsac sofre algumas represálias, fruto também de delações cobardes, estimuladas pela confusão da situação.
Pelo meio, Marsac estabelece uma relação de proximidade e de culpa com Mathilde a ex amante de Lucien que teve um papel importante na investigação, mas que acaba por ficar em maus lençóis com a libertação do mesmo.
Marsac decide jogar um jogo perigoo, cria uma nova identidade, e começa a ganhar dinheiro com negócios duvidosos e com relação com uma figura de referência (aparentemente) do ocupante. Ao início tudo corre sobre rodas, fruto de planeamento, inteligência e bons conhecimentos, mas Marsac acaba por se ver envolvido com a rede de Lucien Grenier.
Um desenho realista de grande qualidade, expressividade das personagens, uma imersão total num ambiente opressivo, sujo, corrupto. Uma história bem construída, sólida, credível, sem floreados, mas com uma boa caracterização dos atores principais, com diálogos cativantes.
Uma excelente leitura, uma história a seguir, uma boa aposta da Glénat.
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