domingo, 26 de outubro de 2025

A opinião de Miguel Cruz sobre "Undertaker T.8 - Le Monde Selon Oz" - (em português editado pela Ala dos Livros no Amadora BD)

 



Undertaker T.8 - Le Monde Selon Oz

Publicado também em português pela Ala dos Livros este fim de semana no Amadora BD, O Mundo segundo Oz, é o oitavo tomo da série de sucesso da Editora Dargaud, Undertaker. É também o evento que permite celebrar 10 anos das aventuras do coveiro Jonas Crow e do seu animal de estimação - um abutre.

A editora Dargaud muito se tem esforçado por assegurar que Undertaker é visto como um dos clássicos incontornáveis da Banda Desenhada de Western. As fortes campanhas promocionais são disso evidência.

Hesitei em desenvolver uma argumentação comparativa com os grandes clássicos do Western, de Blueberry a Bouncer, passando por Comanche. No entanto, essa comparação não tem interesse nenhum do ponto de vista prático, e a vida muda, tal como os gostos, as estéticas e os problemas societais abordados. Seria, pois, um exercício pouco conclusivo, e de natureza geracional.

Importa, muito mais, diria eu, focarmo-nos na análise da qualidade da série e deste último tomo em particular. Quanto à série, confesso que, no início, era tão notória a necessidade de diferenciação, que não me entusiasmou, com um primeiro tomo muito movimentado, mas com personagens aparentemente rebuscadas e situações muito extremadas, o todo construído em torno do (anti) herói blazé. Mas essa resistência foi sendo vencida ao longo de vários tomos, em que os autores conseguem dar uma consistência às personagens, às suas características e motivações. Estranhou-se, entranhou-se.

Um dos pontos mais fortes da série é, naturalmente, o excelente e detalhado desenho, a enorme capacidade de organização de página, a atraente capacidade de variar perspetivas, de Ralph Meyer. Juntamente com as cores de Caroline Delabie, cada página apresentada por Ralph Meyer é vibrante, entusiasmante e um regalo para os olhos.

A história é bem contada, sempre, com diálogos de qualidade e elevado nível de ironia, e adequação do nível de dureza à evolução da narrativa, e ao conteúdo de cada um ciclos apresentados. As personagens são fortes, mais complexas do que pareceria no tomo 1, e as questões abordadas são diversas: o poder, como sempre, a riqueza e a busca da mesma, a honestidade, o fanatismo religioso, o desejo de vingança.

E é precisamente esse desejo de vingança que é muito marcante neste mais recente tomo, continuação do anterior tomo 7, notório na vila do Texas que foi humilhada durante a guerra da secessão, e onde Jonas Crow (Undertaker) se vai meter em alhadas. Sister OZ, que efetivamente dá nome ao tomo, é a líder da liga da virtude, e que define as suas regras morais e a sua conceção de justiça (O mundo segundo Oz é um título bem escolhido, portanto). Diversas referências aos extremismos, à moral em proveito próprio e mesmo, en passant, à homossexualidade. Crow sempre na defesa do livre pensamento e da liberdade individual, acaba por se ver acossado por largo número dos habitantes da vila de Eaden. O confronto surge naturalmente, sem surpresas.

Vale a pena a leitura, claro, mas não posso terminar sem comentar que a capa que a Dargaud escolheu me merece a seguinte referência: bleurgh!

Abaixo a capa e uma prancha da versão da portuguesa editada pela Ala dos Livros.




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