Astérix e Óbelix chegaram à Lusitânia
Ainda não tive a oportunidade de ler a versão em português editada pela ASA e, portanto, não posso ainda comentar o preocupante e tradicional tema da tradução.
Sempre que discutimos a publicação de um novo Astérix, é habitual termos vontade de assinalar que não é um trabalho com a qualidade Goscinny e Uderzo. Claro que isso é verdade, embora seja importante não nos confundirmos: não podemos comparar BDs que procuram sustentar um enorme sucesso comercial, publicadas no século XXI com o que foi feito há mais de 50 anos. Diria, aí, que a única questão que vale a pena assinalar é que as camadas de leitura diferentes para diferentes leitores, particularmente em função da idade é algo que Goscinny conseguia fazer com mestria e que é muito difícil de imitar. Mesmo aí, o exercício é conseguido, com vários duplos sentidos bem-humorados. O desenho de Conrad é excecional, humorístico, expressivo, alegre, movimentado. Há apenas uma ou duas páginas onde eu esperaria maior detalhe nas vistas ao longe. Nada de significativo. As cores estão também muito bem.
Como português, direi desde já que não me sinto absolutamente nada tocado com alguns estereótipos e elementos centrais de construção do humor em torno da maneira de ser português e da nossa gastronomia ou calçada portuguesa. Acho que está bastante bem construída a narrativa humorística, com uma suavidade e uma boa disposição interessantes. Claro que o desperdício de bons pasteis de nata me toca o coração…
Achei divertido, bons diálogos, bons trocadilhos, sem perdas de ritmo, uma interessante escolha de nomes para as personagens, um bom destaque para a carreira 28! Passei um bom momento de leitura, agradável, interessante, mesmo se nem sempre me reconheço na nossa Lisboa de hoje. Enfim, não seria surpreendente. Alguns momentos em que são aflorados temas de atualidade: a emigração, as relações laborais, as empresas tecnológicas, os ciclos curtos de produção, etc. Tudo com a superficialidade que este tipo de humor permite.
Astérix e Obélix dirigem-se à Lusitânia para tentar salvar um produtor alimentar (leiam para saber mais detalhes, saibam apenas que é um produto em que César pode escorregar) que foi acusado de tentar envenenar Júlio César. Preso em Olissipo, vai ser um mimo ver os nossos dois heróis e Ideiafix disfarçarem-se de Lusitanos. Aprecio particularmente o pelo no peito de Obelix.
Em resumo, recomenda-se a leitura. Não vale a pena estarmos a tentar fazer comparações incomparáveis: eu já não sou o leitor que era quando descobri Astérix, a Banda Desenhada também já não é a mesma, e o que um jovem leitor pretende com a sua primeira leitura de Astérix nada tem a ver com gostos, humor ou tendências de há 50/40/30 anos.
Por isso, divirtam-se a ler o tomo 41 de uma série com um sucesso que é um caso sério!





Sem comentários:
Enviar um comentário