Já foi há algum tempo que lemos o primeiro volume de Slava (Depois da Queda), editado pela ASA, mas só agora deixamos aqui a nossa impressão sobre a obra de Pierre-Henry Gomont, embora, em 2022, já tivéssemos partilhado aqui a opinião do Miguel Cruz.
Há dias também publicámos a entrevista que realizámos com o autor este ano, por ocasião da sua vinda a Portugal e participação no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja.
Quanto ao primeiro livro de Slava, ficaram as melhores impressões. A história passa-se na Rússia da década de 1990, após o fim da União Soviética. O autor explora aqui o período depois da queda da URSS, uma fase de transição onde ainda impera o caos e a desorientação, que leva à corrupção ao abandono social e ao salve-se quem puder.
Os protagonistas da história são Dimitri Lavrine, um traficante sem escrúpulos e o outro é Slava Segalov, um jovem pintor, desanimado com a sua carreira e ideais e a lutar para sobreviver. É o seu estado de penúria que o leva a alinhar nas actividades e negociatas não muito recomendáveis de Dimitri. A este par de protagonistas vai juntar-se Nina e o seu pai, que habitam numa região mineira, afetada pelo abandono, que reflete o que aconteceu a regiões inteiras, aos seus trabalhadores e comunidades.
Slava está desencantado com a vida e acha-se desenquadrado do sistema instalado, longe dos seus ideais. O dinheiro e o poder, o capitalismo e a corrupção vão contra as suas crenças, mas a sua necessidade de sobreviver e a amizade com Dimitri vão levá-lo a meter-se em situações perigosas a par de levá-lo a conhecer Nina, mulher que vai marcá-lo de uma forma profunda.
Quanto a Lavrine, esse está como peixe na água, pois movimenta-se bem em mil e um esquemas, interessando-lhe aproveitar tudo o que vem à rede, sobras de materiais de construção, objectos de arte de casas abandonadas, tudo o que tenha valor e que o faça ganhar com isso.
Apesar de cúmplice de Lavrine, Slava não abandona os seus valores morais e está constantemente a chamar o amigo à razão. Atento às desigualdades sociais e inspirado pela força de Nina, quer ajudar a defender o interesse dos trabalhadores e das populações afetadas pela queda da URSS, neste caso mais específico, uma comunidade de mineiros.
O que é notável nesta obra de Pierre-Henry Gomont é que ele consegue agarrar o leitor a uma narrativa que, embora assente num tema sério e histórico, tem momentos de humor e ironia. Gomont consegue trazer leveza a um drama, apesar de haver perigo, dilemas morais e cenas graves.
A par de tudo isto, uma arte muito fluída, que gostámos muito, quer dos desenhos quer da paleta de cores. A fluidez dos desenhos com a interessante narrativa ajudou a imprimir um ritmo de leitura rápido e sem interrupções.
Enquanto aguardamos pela chegada do segundo volume para seguirmos o destino destas personagens, deixamos aqui o autógrafo que Gomont nos deu e algumas imagens do interior do livro.
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