quarta-feira, 27 de setembro de 2023

A opinião de Miguel Cruz sobre: "Buck Danny – Origines 2/2", de Yann e Luca e "L’Homme qui Voulut Être Roi", de Derrien e Torregrossa

 




Buck Danny - Origines 2/2: Le Fils du Vicking Noir

Foi recentemente editado o tomo dois da coleção origines na série Buck Danny, com o título “Le Fils du Vicking Noir”. Este tomo vem concluir a história iniciada em “Le Pilote à L’aile Brisée”, o que faz com brio! 

Buck Danny, uma das séries de referência da revista Spirou há mais de 70 anos, originalmente da responsabilidade do mágico argumentista Jean Michel Charlier (dava cada nó no fio da história que só ele conseguia desatar) e do excecional e minucioso desenhador Victor Hubinon, é um piloto americano que acompanhamos durante a segunda guerra mundial, em luta contra o império nipónico, depois na guerra da coreia, de seguida no período da guerra fria, etc. Aventura, espionagem, suspense, alguns lugares-comuns, uma boa dose de maniqueísmo.

Com Buck Danny Origines, o objetivo é conhecer algumas referências da juventude do nosso piloto, futuro herói. O italiano Giuseppe de Luca assume o desenho e com excelente qualidade, numa fidelidade extrema ao desenho de Hubinon. Os mais distraídos não dariam pela diferença. As cores ficam a cargo da também italiana Ketty Formaggio, e que cores! De Luca e Formaggio formam um casal que aproveita para fazer os festivais em conjunto.

Yann – já tão mencionado aqui para várias séries, verdadeiro “safa tudo” editorial – não terá talvez a maestria de volta e reviravolta nas suas histórias como Charlier, mas preocupou-se em apresentar uma consistente narrativa focada nas origens de atitudes comportamentos, gestos, formas de ver o mundo. E é por isso que resolvi abordar Buck Danny aqui: sendo esta uma série que devorei na minha juventude, diria que está bem, chega, deixam lá o Buck Danny sossegado. 

…e, no entanto, este conjunto de dois tomos consegue, de forma interessante, nunca maçadora, dar uma profundidade à personagem que se torna muito agradável, mesmo que não contrarie a estrutura estabelecida dos bons contra os maus. Mas fá-lo de forma sensível.

Se algo tenho a apontar, será o de que mais um tomo permitiria uma narrativa mais fluída, pois falta um pouco mais na abordagem ao piloto denominado de Vicking Noir e pai de Buck Danny. Admito que face ao sucesso editorial, a séried vai continuar e saberemos um pouco mais da doença do irmão de Buck. A questão não está na qualidade de tratamento da fragilidade e humanidade do piloto, mas antes na revelação de uma história passada de seu pai, “despachada” bem, mas um pouco à pressa no final do tomo 2.

Em resumo, a editora Dupuis entrega-nos uma re-visita ao clássico, com contornos de modernidade e um conjunto de leitura muito agradável.





L’Homme qui Voulut Être Roi

Mais uma adaptação literária muito bem conseguida, neste caso de Rudyard Kipling: L’Homme qui Voulut Être Roi/The Man Who Would be King, escrito em 1888, antes dos célebres Gunga Din e O Livro da Selva.

Nesta BD acompanhamos Rudyard Kipling enquanto jornalista nos seus périplos pelo “império britânico”, com um desenho extremamente elegante e com uma boa caracterização da época, cores quentes e rostos característicos, fazendo várias vezes lembrar Rúben Pellejero em Dieter Lumpen. 

Estamos, então, no final do século dezanove, a bordo de um comboio que percorre a Índia, quando Kipling enceta uma conversa com um outro passageiro, um britânico com um comportamento algo exótico. Na sequência deste encontro fortuito, Kipling acaba por se envolver – mais do que quereria – com dois aventureiros Daniel Dravot e Peachy Carnehan, antigos militares e declarados membros da franco-maçonaria, que estabelecem o louco objetivo de se deslocar ao território do Kafiristan, impressionar os seus habitantes e tornar-se reis desse país.

A aventura acaba mal, e é pela boca de um destruído ex-aventureiro que Kipling e nós somos detalhadamente informados de tudo o que se passou, dos sucessos iniciais, dos acontecimentos que permitiram aqueles dois homens serem adorados como uns deuses e de como a “sorte” virou, juntamente com o comportamento de um deles, cada vez mais fora da realidade, com uma ambição crescente e aparentemente sem limites. Cego pela ambição e pelos seus sonhos de grandeza, Daniel vai acabar por deitar tudo a perder.

A narração é agradável, os diálogos e a composição gráfica introduzem um grande dinamismo ao relato, em relação ao qual, quando muito, poderemos dizer que ganharia em fluidez se tivesse mais algumas páginas, para além das setenta e duas que compõem esta BD. Jean-Christophe Derrien e Rémi Torregrossa apresentam-nos aqui um trabalho cuidado e sério.

Esta história parecia-me vagamente familiar, mas não me lembrava de ter lido este romance de Kipling. Foi preciso muito tempo para descobrir que John Houston adaptou o romance a um filme protagonizado por Michael Caine, Sean Connery e Christopher Plummer (como Rudyard Kipling) – The Man Who Would be King (está correto!), que vi há muitos, muitos anos. Não me impressionou, na altura, se calhar não o vi com a idade certa… Gostei desta BD, editada pela Glénat, tenho de rever o filme!




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