La Mort n’est pas une fin
« Acabadinha » de sair, esta BD é, apriori, mais uma de muitas adaptações dos romances de Agatha Christie, normalmente nem boas nem más, antes pelo contrário… No entanto, esta obra apresenta algumas características distintivas que nos atraem – pelo menos a mim, certamente!
Desde logo, a adaptação é da única obra da escritora inglesa que não é passada no século XX, no período pós-Vitoriano. Não estamos perante um mistério investigado por Poirot, nem perante uma situação intrincada a ser desvendada por Miss Marple, nem sequer perante uma aventura entusiasmante de Tommy e Tuppence. Esta aventura/mistério é passada no antigo Egipto, como bem o ilustra a interessante capa.
Já os ingredientes são muito semelhantes: crime, envenenamento, raiva, inveja, ciúmes, traição. Muito agradável, uma história que nos suscita curiosidade e cuja leitura se faz com satisfação.
Talvez por sairmos de caminhos mais conhecidos e habituais, quando li esta história fiquei com uma sensação de maior densidade do que habitualmente no tratamento quer da trama quer das personagens, seja na história, seja no desenho. Isso é muito bom, é o que se pretende, não apenas conhecer as linhas gerais de uma narrativa, mas poder conhecer por dentro as motivações das personagens, reconhecer como convincentes as suas ações e comportamentos. Todos sabemos que as adaptações literárias são por vezes “despachadas” sem a necessária cautela do tratamento do ambiente da obra, o que por vezes resulta bem, mas muitas vezes nem por isso…
O desenho de Emmanuel Despujol, excelente sucessor de Jacques Lamontagne na série Aspic, é naturalmente clássico, mas extremamente atraente, com cores vivas e uma boa caracterização gráfica das personagens, bem distintas em rostos e maneira de ser. Isabelle Boitier, novamente a trabalhar as obras da escritora inglesa, depois de Morte no Nilo/O Misterioso Caso Styles, dá profundidade à narrativa e “desenrasca-se” muito bem ao longo de 62 páginas, sem lacunas narrativas visíveis.
Por isso, a leitura recomenda-se sendo que, como refiro noutra análise para a mais recente adaptação de Simenon, não estamos perante uma obra revolucionária ou particularmente inovadora. Estamos, porém, perante um bom momento de leitura, em que somos permanentemente convidados a tentar tirar as nossas conclusões e a tentar descobrir a verdade. E, além disso, como sabem, a justiça, nas obras da Agatha Christie, triunfa sempre, mesmo que, reconfortantemente, possa ter de ser ocasionalmente apenas a justiça poética. Da Editora Paquet.
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