Marshal Bass Tome 10: Hell Paso
Marshal Bass é uma série de sucesso de autoria dos croatas Darko Macan (argumento) e Igor Kordey (desenho) – que já tinham tido várias colaboração, incluindo no universo de comics norte americanos. Narrando aventuras livremente ficcionadas de uma personagem baseada numa figura que se sabe real – Bass Reeves, o primeiro Marshal negro dos Estados Unidos – esta série é marcante pela qualidade do seu argumento, num tom trágico, e pelo seu excecional desenho. E, no entanto, tirando uma menção na revista Juvebêdê, nunca aqui a referi.
Com a publicação do Tomo 10, é altura de corrigir este lapso. Começo por dizer que Hell Paso (uma transformação do nome de El Paso, cidade que, desde o início da história, se encontra cercada por um regimento sulista) é uma boa BD, mas não será a melhor da série, simplesmente porque constitui um tomo de transição e a sua história é bastante simples, como se estivéssemos a suster a respiração, depois dos acontecimentos do tomo 9 e antecipando a mudança significativa que terá necessariamente o tomo 11, seja pela morte de muitas personagens relevantes, seja pela necessidade crescente da sua extensa família, quanto à presença de um marido e de um pai.
Esta série é violenta, sim. Não apenas nas cenas de luta, nas cenas de batalha, nas cenas de morte, mas também no retratar da baixeza, da miséria, da chantagem, da lei do mais forte. Mas é violenta também pelo desenho quente, expressivo, colorido, quase 3 D, com enquadramentos que capturam a violência de forma expressa e quase em câmara lenta.
Haverá quem ache o desenho pesadão, muito colorido, com excesso de foco nas rugas, nas cicatrizes, na doença, na morte, nas idiossincrasias. É, efetivamente um desenho diferente, muito “quente”, difícil e que não nos deixa indiferente. Eu aprecio bastante este desenho com caráter. Quanto à história, diria que é notável a forma como, ao longo de acontecimentos em que não há heroísmos, mas apenas instinto de sobrevivência, a mensagem de humanismo e de crença no futuro consegue passar, uma espécie de raio de luz no negrume dos episódios relatados.
Neste caso, o chefe de um regimento sulista cerca, com violência, El Paso, por vingança com contornos mesquinhos. Com falta de tudo e atingida pela doença, os habitantes da cidade resistem como podem, sendo que Bass, ao contrário dos outros que procuram fugir, decide entrar na cidade, por obrigação e um estranho sentido de dever. E, ao contrário do que acontece com outros, é capturado antes de entrar e não quando procura fugir (vemo-lo, aliás, na capa, amarrado à boca de um canhão). Encurralados na cidade está todo um grupo habituado à violência e ao combate, que Bass bem conhece, e que decide quebrar o cerco apesar do desequilíbrio de forças.
Uma aposta da Delcourt em 2017 que foi ganha muito rapidamente, com um sucesso que se mantém, e com Igor Korday a consolidar a sua posição como desenhador versátil e apreciado pelo público, atento o sucesso comercial de Marshal Bass, depois do sucesso comercial que foi a série L’Histoire Secrète, também da Delcourt.
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