domingo, 23 de março de 2025

A opinião de Miguel Cruz sobre "Fojo", de Osvaldo Medina - edição A Seita/Kingpin Books

 


Fojo

Apesar de já ter tido aqui a opinião no Juvebêdê, aqui fica mais uma. Fojo é uma BD de finais de 2024 editada pela Kingpin Books em parceria com A Seita, na coleção Comic Heart, com a autoria de Osvaldo Medida, a legendagem e o design de Mário Freitas. Fojo, referência na contracapa, é uma antiga armadilha de caça, utilizada para capturar lobos, corços, ursos e outros tipos de animais de grande porte.

Desde a primeira página que conhecemos o frio e o isolamento, e que nos vamos preparando para uma história crua e intensa. Não sabemos muito bem onde, nem sabemos muito bem quando, mas já lá vão certamente muitos anos, pouco depois da grande guerra de 14-18, nesta aldeia de montanha, isolada pelas dificuldades do acesso, e conjunturalmente ainda mais isolada pelo frio.

Vários farrapos de histórias são-nos apresentados: a velha “bruxa” que conhece bem o verdadeiro “ser” de cada habitante da aldeia, que se dá preferencialmente com um bode, seus olhos e ouvidos na aldeia; o caçador António e o seu cão Simão que vão constatar a proximidade dos lobos e encontrar um cadáver; o pequeno proprietário Rui, a sua mulher Lúcia e a sua relação com Luísa; os flashbacks do jovem que foi à procura do seu irmão nas trincheiras, etc…

Com estas pequenas histórias, tece-se o ambiente da aldeia, as invejas, as más relações, as lideranças informais, o papel do doutor da aldeia, o medo que se espalha com facilidade: há um assassino à solta na aldeia. O raio da velha que sabe mais do que diz, o doutor que tenta colocar uma certa sensatez nalgumas cabeças e que vai, involuntariamente, ser dos primeiros a descobrir a verdade.

Uma narrativa a preto e branco pontuada aqui e ali pelo vermelho sangue, pelo vermelho máscara, pelo vermelho vingança. Vários são os mortos, a organização defensiva da aldeia mostra-se ineficaz, a perseguição final acaba por revelar a todos a verdade, e a situação a que se chegou acaba por constituir uma catarse para alguns personagens e, certamente, para a vida futura da aldeia.

Osvaldo Medina apresenta-nos uma história de mais de 140 páginas em que os ambientes são bem caracterizados embora a verdade não esteja escondida muito tempo dos olhos do leitor. Uma leitura muito interessante de uma BD de autor português. Quanto ao desenho, é Osvaldo Medina, já sabemos ao que vamos! Positivo.





1 comentário:

  1. É sempre bom ler os vossos textos. Tenho muita curiosidade, o tema agrada-me e gosto do trabalho do Osvaldo 👍

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