sexta-feira, 28 de março de 2025

A opinião de Miguel Cruz sobre "Thorgal t.42 – Ozurr le Varègue", de Yann e Vignaux e "L’Ombre des Lumières – t.2", de Guérineau e Ayroles

 


Thorgal t.42 – Ozurr le Varègue

Ozurr le Varègue, ou seja, o Viking Ozurr que viajou para as terras de Leste, é irmão de Gandalf, o defunto chefe do clã e pai de Aaricia, e está de volta depois de 30 anos de exílio. Arrogante, brutal, Ozurr vem acompanhado de dois outros mercenários vikings, de dois escravos e de cofres com ouro e com algumas armas pouco habituais para os vikings.

Por seu lado, Thorgal regressa a casa após uma forte tempestade, gelado tal como os seus companheiros – entre os quais o seu filho Jolan e uma jovem de nome Boreàle (conhecemo-la em episódios anteriores) que tem as mesmas origens atalantes que Thorgal.

Este é o 42º tomo das aventuras de Thorgal (como sempre da editora Lombard), sendo o sempre presente Yann responsável, uma vez mais, pelo argumento, e Fred Vignaux o “dono” do desenho. E, com toda a sinceridade, eu continuo a acompanhar a saga do Viking Thorgal e da sua família graças ao desenho de Vignaux. Vamos lá ver: uma série que continua e continua, ao fim de 42 tomos, mais uma quantidade enorme de volumes derivados sobre esta ou aquela personagem, não pode, como é óbvio continuar a entregar com regularidade a qualidade que se pretende. Nenhuma série o consegue, lembremo-nos desde logo do caso de Ric Hochet.

No entanto, confesso que este tomo foi de agradável leitura. Não há grandes novidades, a história é simples, a sua estrutura é clássica, não há grande surpresa em descobrir o mau da fita, mas a narrativa é cativante, simples, com toques de sobrenatural e exotismo sem grandes excessos ou exageros. Não há atos de heroísmo pouco credíveis, sendo as personagens totalmente consistentes com o que acontece nos 41 tomos anteriores (e mais alguns). Há algumas referências a anteriores episódios e acontecimentos, mas a leitura deste tomo nada perde de significativo se for isolada. E a agradabilidade deste tomo deriva essencialmente, diria, de se tratar de uma história passada exclusivamente na aldeia.

Quanto ao desenho, ahhhh, que maravilha. Quase nos esquecemos que o desenhador original da série era o grande Rosinski. Admito que seja uma questão de gosto. Eu gosto: grandioso, fluido, expressivo. Para melhor apreciar o desenho, optei por uma edição a preto e branco, e por essa razão não vou comentar as cores que, naturalmente, apoiam particularmente as cenas de tempestade.

Não será o álbum do ano, mas merece a leitura, mesmo daqueles que já estão fartinhos de séries que são como no anúncio do coelhinho Duracell: duram, duram…



L’Ombre des Lumières – t.2

Já lá vão longos meses desde que tive a oportunidade de “falar” um pouco sobre o primeiro tomo de L’Ombre des Lumières, de que gostei. Recentemente publicado, o tomo 2 dá sequência à narrativa do cavaleiro de Saint Sauveur, apresentada com base na correspondência do mesmo e de algumas outras personagens (mas que aquele normalmente acaba por ler!?!).

Saint Sauveur, crivado de dívidas e marcado pela desonra, chega, neste segundo tomo da trilogia prevista, ao Canadá de meados do século XVIII. Mas a desonra não acalmou o nosso cavaleiro, e as dívidas não o levam por bom caminho. Aceitando um desafio de desonrar uma jovem (Aimée) de boas famílias para vingança de outro nobre francês, como contrapartida da anulação de uma parte significativa das suas dívidas, Saint Sauveur mostra-se particularmente maquiavélico, intrigante e falso, promovendo a relação entre a jovem e o seu “criado” indígena (que se pensava ser iroquês) para culminar no casamento dos dois. 

As peripécias são diversas, o sedutor e galante cavaleiro vai conseguindo os seus fins, com prejuízo para diversas pessoas, normalmente os mais “fracos”, incluindo o seu criado principal. A narrativa é interessante, e lê-se de um trago, mas as surpresas são variadas, e nada corre de acordo com os planos (de nenhuma das personagens, aliás).

O desenho de Richard Guérineau é fantástico, com uma estrutura clássica, mas com um sentido narrativo e uma desenvoltura quer nas cenas de interior, quer na ilustração dos espaços frios e húmidos do Canadá francófono. O autor é tão hábil a retratar estilos de vida e introspeção de personagens, como cenas de ação. Para mim, esta continuação está ainda uns furos acima do primeiro tomo.

Tal como no primeiro tomo, a edição desta BD é cuidada. Capa, contracapa, letragem, tudo, tudo, mostra uma edição atrativa e de qualidade. As cores do próprio desenhador constituem um elemento importante na capacidade de ritmar a história, frequentemente luminosas, por vezes tenebrosas, mas sempre inquietantes.

O argumento desta BD ficou a cargo de Alain Ayroles, nosso conhecido em Portugal pelo excelente O Burlão das Índias, e autor de uma série que me deliciou “De Cape et de Crocs”. Como é seu timbre: excelente, bem escrito, poético com frequência. De Guérineau, pelo contrário, penso que nada há publicado em Portugal, nem mesmo o seu episódio de XIII Mystery. Mas este é um autor que tive a oportunidade de conhecer e com quem pude falar longamente, e que me continuará a merecer a confiança, pela entrega, pela preocupação com a pesquisa e exatidão, e qualidade de desenho. Editado pela Delcourt.



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