Beneath the Trees Where Nobody Sees
Uma ursa simpática numa cidadezinha calma dos Estados Unidos. Todos se conhecem na cidade de Woodbrook, e tudo é tão rotineiro que chega a ser chato.
Samanta Strong – a referida ursa, uma vez que todas as personagens são animais – é a personagem central, gere uma loja vende quase tudo, de que é dona, vive sozinha e é um dos pilares da comunidade, embora apresente apenas proximidade a uma idosa vizinha e a um seu funcionário.
Mas rapidamente descobrimos que nem tudo é o que parece. Samanta Strong é uma assassina em série. Mata por gosto e porque “precisa”, um pouco a lembrar Dexter, mas com algumas regras: sempre fora de Woodbrook, sempre um desconhecido escolhido aleatoriamente, e sempre sem deixar pistas, após separação de partes do corpo.
E mesmo aí, tudo parece rotineiro.
Só que, num dia, durante um desfile em Woodbrook, o corpo de um conhecido habitante aparece sem vida numa encenação macabra. E para Samanta Strong isto não é bom. A cidade fica em alerta com a população assustada, a polícia investiga passados, e torna-se mais difícil esconder desvios ao dia a dia normal.
E assim, Samanta investiga, suspeita, segue e tira conclusões. Só que um novo corpo, o do seu funcionário surge, e todas as pistas parecem apontar para Samanta. Como resolver esta ameaça? Samanta tem de apelido Strong, e vai reagir de forma forte, decidida e violenta.
A narrativa é excelente, os desenhos são muito agradáveis, num bom estilo “antropomórfico” a angústia é bem retratada. As cores são bonitas e elegantes. O autor Patrick Horvath é americano, e a vida da cidade americana e a relação entre os vizinhos e habitantes é muito bem retratada.
Editado em Francês pela Ankama, em versão Comics. Leitura recomendada!


Un Battement d’Aille de Papillon
A Paquet editou, já no início de 2025, uma BD – Um bater de asas de Borboleta – de Loïc Malnati, um autor que possui uma capacidade de desenho absolutamente sublime. A grande questão (talvez questões no plural) é se esse desenho – que efetivamente é fantástico nesta BD, com uma cor muito bem trabalhada, que ajuda à profundidade e realismo caricatural do desenho – suporta uma história interessante e cativante e se o ritmo conseguido ao longo das páginas suporta a ação de forma a manter a nossa atenção.
As personagens centrais são seres mecânicos – a editora chamou-lhes marionetas mecânicas – que constituem uma sociedade com muitas semelhanças de organização e comportamentais aos humanos (por vezes) e um conjunto de larvas que, a determinada altura, começam a ser encontradas no coração mecânico dos referidos seres mecânicos.
O tema central é qual a relação entre os seres mecânicos, a sua sobrevivência e o seu comportamento com a natureza, sendo o “ponta de lança” dessa natureza as tais larvas. Duas correntes surgem: a que considera necessário estabelecer um código de conduta que suprime qualquer influência da natureza – condição essencial para controlar comportamentos divergentes, e crime – e a que considera que a relação com a natureza é importante e essencial e que acaba por trabalhar essencialmente na capacidade de relacionar eventos – através da criação de um supercérebro – que permite antecipar acontecimentos que vão desencadear outros (que se pretende evitar) – o tal bater da asa da borboleta da tradicional teoria (Butterfly Effect).
Os líderes de ambas as correntes são dotados de carisma e de inteligência, e ambos vão perceber os seus erros – o primeiro percebe a custas pessoais a importância da natureza para o seu corpo mecânico e o segundo acaba por perceber a impossibilidade de conseguir previsibilidade absoluta. Mas ambos acabam por atuar com base exclusivamente nos seus interesses pessoais (mecaniquiciais?).
A narrativa é uma quase-fábula, poética, imaginativa e absurda. O desenho steam-punk é apropriado e – não sei se já o disse – excelente. O desenho aliás, é o ponto forte desta obra que se lê com interesse; a sequência narrativa é bastante razoável, apesar da divisão em capítulos, do meu ponto de vista, não ajudar; não há muita caracterização de personagens, razão pela qual não simpatizamos particularmente com nenhuma – e o objetivo é precisamente ser frio, afinal são mecânicas – e a história é interessante e intrigante, a crítica social é evidente.
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