Whisky
Apesar de poder
parecer, não estou a querer convidar o/a leitor/a para os copos. Whisky é uma
BD de Duhamet e de Ratte (dois autores pilares das edições Grande Angle da
Bamboo, finalmente juntos) que aliás nem fala particularmente sobre a bebida
desse nome. Trata-se de um álbum em que a critica social é evidente e constitui
o pano de fundo, mas essencialmente é um divertimento. Bruno Duhamel, ao
contrário do habitual fica apenas com responsabilidades sobre o argumento e
David Ratte assume o desenho.
Comecemos
precisamente pelo desenho: uma “linha clara”, muito legível, simples, elegante,
algo caricatural, personagens expressivas, movimento e ação permanentes. Muito
agradável, desenho de grande vivacidade, e boa adequação ao divertimento em
causa.
Quanto ao
argumento, ele é muito simples, sem pretensões, por vezes naïve. Mas o objetivo
é esse: uma certa ligeireza na história, assegurar uma leitura agradável e
caricatural, de onde sobressai uma coisa que é sempre agradável de constatar:
que os dois autores tiveram um grande prazer na realização desta BD. Os
diálogos são excelentes, e é através deles, com uma planeada ligeireza, que
questões como o racismo ou a problemática dos sem abrigo, são afloradas.
As duas personagens
centrais são um sem abrigo (Théo), com inclinações para a pinga (não, não é
daqui que vem o título, tenham calma) e problemas grave de saúde, e um
refugiado Curdo, jovem, de seu nome Amir, desenrascado e com um sentido prático
notável, mas assolado por pesadelos do seu passado. Estas duas personagens têm
de conviver e atuar em conjunto face às adversidades, mas não poderiam ser mais
díspares em valores, interesses e leitura do mundo.
Os dois habitantes
da rua, e inquilinos de um espaço debaixo da ponte (uma ponte dominada por um
anúncio de alimento para gatos), vão adotar um cão, a que chamarão Whisky
(voilá!). Ora o velho sem abrigo adora o cão, o jovem refugiado antes pelo
contrário…
E é esta dinâmica da
BD: a relação das personagens com a envolvente ao mesmo tempo que a relação
entre ambas tem altos e baixos, com um personagem de quatro patas a perturbar o
ténue equilíbrio de sobrevivência estabelecido, e muita corrida, muita fuga,
muito pombo a voar.
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