quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Entrevista com Alix Garin, por Alexandra Sousa e Carlos Cunha (parte 2)


Conforme prometido, publicamos hoje a segunda parte da entrevista com Alix Garin.

JBD - O livro “Não me esqueças”, traduz-se em amor e humor. No novo trabalho também utilizas estas duas vertentes?

Alix Garin - Sim, no próximo livro, eu não vou explicar nada de novo sobre o vaginismo, ou seja, não vou estar a ensinar nada sobre questões clínicas, mas sim mais sobre a parte emocional. Chama-se “Impenetrável”. Porque em França, podemos utilizar essa palavra de várias formas, por exemplo psso dizer que uma floresta é impenetrável.

JBD – Sim, em Portugal usamos a mesma palavra.

Alix Garin – Eu gosto do seu duplo sentido neste livro. Porque é um assunto que é tabu, que está escondido, e que tem a ver com a disfunção sexual que dificulta as mulheres serem penetradas no acto sexual.

JBD - É um assunto impenetrável…

Alix Garin - Sim, é isso mesmo. Quanto ao amor e humor, utilizo os dois, sim.  Como no livro “Não me esqueças”, a vida é assim, às vezes, até mesmo nos momentos tristes, pode haver alguma piada, e os momentos engraçados podem transformar-se em tristes. Portanto há sempre uma mistura constante e é válido para tudo. Aqui num assunto tão difícil como a sexualidade, é importante podermos fazer uma autoanálise, dar um passo atrás e sabermos rir de nós próprios. É fundamental utilizar um pouco de humor para aligeirar um assunto que é tão doloroso para as pessoas. Os assuntos são sérios, mas ao rir as pessoas sentem sempre algum alívio.

JBD – Depois do lançamento de “Não me esqueças”, foste contactada por pessoas que também passaram pelo mesmo, que viveram ou vivem de perto com familiares com Alzheimer?

Alix Garin - Sim, logo que o livro foi publicado tive vários contactos e testemunhos e continuo a recebê-los ainda hoje. E em sessões de autógrafos são várias as pessoas que vêm dizer-me o quanto gostaram da leitura e que se fartaram de chorar. Porque também têm ou a mãe ou o pai com Alzheimer. Mas as se emocionam mais são principalmente as que tiveram ou têm relações especiais com os avós. E também já fui contactada por várias associações relacionadas com o Alzheimer e outras demências na velhice.

JBD - Esperemos que com “Impenetrável” também consigas ter vários testemunhos de mulheres que tenham tido ou estejam a passar pelo problema do vaginismo.

Alix Garin - Tenho a certeza que vai acontecer, porque a partir do momento em que comecei a falar deste assunto à minha volta, mesmo sem o livro ter sequer saído, já comecei a ter feedback. Os meus amigos perguntavam qual era o tema sobre o qual eu estava a trabalhar e ficaram surpreendidos ao saber que era sobre a minha intimidade. Graças a isso, amigas e amigos meus e mulheres à minha volta que nem conhecia tão bem, vieram dizer-me que também tinham o mesmo problema. E não foram poucas as mulheres de várias idades que me confessaram sofrerem desta doença. “Sim, é esse o meu caso. Estou apaixonada, mas não me consigo relacionar sexualmente com o meu parceiro”. Ao saberem que há outras pessoas assim, dá-lhes a oportunidade de sentirem alivio e de falarem sobre o assunto.

JBD - Já começaste a trabalhar no teu terceiro livro ou ainda é só uma ideia?

Alix Garin - É apenas ainda uma ideia. Não o começarei para já, irá ainda demorar, julgo eu. Preciso de fazer uma pausa. Acabei de terminar o “Impenetrável” e foi um álbum que exigiu muito de mim. Porque é um assunto muito difícil e doloroso, porque foi preciso encher-me de coragem para o abordar, para confrontar a minha família e todos os meus amigos. Agora preciso de descansar e também tenho vontade de experimentar outras formas de arte. Quero fazer poesia, teatro…

JBD – Como é que a tua família tem aceitado os teus trabalhos tão pessoais e tão íntimos?

Alix Garin – Felizmente que tudo tem corrido bem. Não estamos zangados, nem nada que se pareça, mas sei que os deixei desconfortáveis. Eles têm medo do que os outros possam comentar, não sobre eles, mas sobre mim. Quando lhes falei da minha intenção de escrever “Impenetrável” foi um choque ao início, mas apoiaram-me sempre e sinto uma enorme gratidão por isso. Mesmo que tenha sido desagradável para eles, nunca me dissuadiram de eu seguir em frente e compreenderam a importância para mim e para os leitores de eu contar esta história. É tão raro falar-se da intimidade que foi estranho para a minha família, ver-me assim tão exposta num livro, ainda que respeitem e tenham aceitado.

JBD – “Impenetrável” não é só uma esperança para outras pessoas, mas também foi uma forma de te libertares? 

Alix Garin – Sim, completamente. Foi a continuação da minha terapia. Porque para contar a história precisei de recuar no tempo, ver como as coisas se passaram desde o início. E isso fez-me reflectir sobre as razões de eu ter agido ou pensado de determinada maneira em determinada altura. Foi muito introspectivo e fez-me muito bem. Ver agora isso em livro, parece que é algo que me ultrapassa, mas ao mesmo tempo me pertence. E tem um final feliz, o que dá mais esperança a quem esteja a sofrer da doença.

JBD – Muito obrigada por esta conversa e parabéns pelo teu trabalho. Gostámos mesmo muito do primeiro livro e esperamos vir a ler os próximos e que “Impenetrável” seja editado em Portugal muito em breve.




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