segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Entrevista com Pierre-henry Gomont, autor de Slava - parte 1

Tivemos o prazer de entrevistar Pierre-Henry Gomont, no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, a 31 de maio deste ano, quando o autor esteve por ocasião do lançamento do primeiro volume da sua obra “Slava”, editada pela ASA. Ao autor e ao editor Luís Saraiva, agradecemos por esta agradável conversa que aqui transcrevemos.

Publicamos aqui hoje a primeira parte da entrevista e ainda esta semana publicaremos a segunda parte.





Juvebêdê (JBD) - O lançamento do primeiro volume de Slava, em França, aconteceu alguns meses depois do início da Guerra da Ucrânia. Foi uma coincidência?

Pierre-Henry Gomont (PHG) – Não, nada disso. Bem, todos sabíamos que a Guerra não estaria muito longe. A Rússia já tinha invadido a Crimeia e já tinha invadido a Geórgia e, portanto, não foi propriamente uma surpresa. No entanto, quando aconteceu, entrei completamente em stress e questionei-me se valia a pena continuar e concluir o projecto. A guerra foi declarada em fevereiro de 2022 e nessa altura eu já tinha concluído três quartos do livro e encontrava-me a trabalhar nele há 12 meses.

Mas depois compreendi que se calhar era bom que dar a conhecer mais alguma coisa sobre os russos. Em França a percepção que existe dos russos é muito negativa e compreendemos o porquê. Mas a meu ver, essa percepção tem a ver com os políticos e com os dirigentes.  Porque o povo russo não corresponde a essa imagem negativa. É muito diferente, muito díspar e heterogêneo. Portanto eu prefiro primeiro compreender as pessoas, do que julgá-las à priori. Assim, com este livro, é permitido ao leitor compreender um pouco mais este povo e colocar-se no lugar dos russos.

JBD – Permite conhecermos ou outro lado da história

PHG – Isso mesmo! Permite que sintamos empatia, porque há muitos russos que não estão de acordo com esta guerra. E quando eu me dei conta disto, ganhei um novo fôlego para concluir o livro.

JBD – És um homem de muitos ofícios. Sociólogo, economista… Estas duas vertentes permitem-te encontrar temas completamente diferentes para as tuas histórias? Temos “Afirma Pereira”, temos “Slava”, histórias distintas e que se passam em momentos distintos.

PHG – A Sociologia e a Economia agrupam muitos temas, porque as ciências políticas nunca estão muito longe umas das outras. A Sociologia é o meio de entrarmos num mundo que não conhecemos e de passarmos à descoberta.  E do ponto de vista económico, por exemplo, no que diz respeito ao Slava, se eu não tivesse estudado economia, não teria compreendido todos os mecanismos financeiros existentes e interessou-me muito saber como funcionava economicamente a compra das minas, que eram na verdade desmanteladas, revendidas e assim se tornavam numa forma de enriquecimento. Aconteceu em França na década de 1980, faz parte da história e da economia e tudo isso fez parte dos meus estudos.

E mais, quando viajo vou para a Geórgia, a minha maneira de questionar o mundo em que estou inserido vem da sociologia. Uma das minhas maiores referências para Slava é a obra de uma autora bielorussa, Svetlana Alexijevich. A forma como constrói os seus livros é muito interessante do ponto de vista sociológico. Ela coloca as histórias de diferentes pessoas em perspectiva. Num capítulo, é uma pessoa que conta sua história e aí dá o mote para outra pessoa que conta sua história, então a imagem que temos é uma espécie de mosaico como as diferentes visões. Essa leitura para mim foi muito importante, então a sociologia está sempre presente em tudo o faço.





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