segunda-feira, 9 de maio de 2022

A nossa leitura de "Co.Br.A - Operação Goa", de Daniel Maia e Marco Calhorda - Ala dos Livros


É com enorme gosto que finalmente tive “na mão” o livro de BD "Co.Br.A: Operação Goa", de Daniel Maia no desenho e Marco Calhorda no argumento, editado pela Ala dos Livros. Creio que a primeira vez que ouvi falar da intenção de lançar esta BD, ou uma BD sobre este tema, foi em Beja ainda antes da pandemia de Covid-19.

O ponto de partida da narrativa é muito interessante. Tudo começa com os primeiros rumores, informações e intrigas associadas à possibilidade da invasão de Goa por parte da Índia, colocando em risco mais de 450 anos de presença Portuguesa naquele território.

Espionagem, avaliações de probabilidades, contactos internacionais, e um evento histórico, são a base de construção desta interessante BD. O tema é, penso eu, pouco explorado, e tem muito potencial ficcional.

Jorge Jardim, o criador de Co.Br.A, serviço de espionagem (a Agência), é o “herói” desta aventura em BD, desempenhando o papel possível, em matéria de informação, nesta intriga em que Portugal se encontra praticamente isolado na diplomacia internacional.

O Portugal “de Salazar” tinha poucos recursos para defender a sua posição longínqua, e a postura confiante na política de não agressão de Nehru também não ajudava à ação, sendo que à página 30 da “nossa BD” a União Indiana ocupou, a 19 de dezembro de 1961, os territórios de Goa, Damão, Diu, Gogolá, Simbor e a ilha de Angediva. 

Para além dos 26 mortos, mais de quatro mil soldados portugueses encontram-se cativos das forças Indianas e se alguns responsáveis políticos pretendem usar essa situação como instrumento de pressão politico/diplomática, o nosso “herói” e a sua agência desempenha, nesta nossa história, um papel central no assegurar do repatriamento dos militares portugueses, recorrendo a mecanismos de pressão e chantagem para forçar o acordo entre as partes. 

Em resumo, trata-se de um relato ficcionado de um evento histórico e, nesse contexto, não há personagens que saiam “limpos” desta aventura, desta BD em que o tema principal é o trabalho de espionagem.

O argumento é sóbrio, interessante e historicamente bem ancorado, credível e fácil de acompanhar, embora a sequência narrativa pudesse, em certos pontos, ser um pouco mais fluída, com um pouco mais de detalhes e, portanto, com uma BD mais longa. O desenho , a preto e branco é muito bom, os planos são bem escolhidos, as vinhetas são elegantes, o conjunto é dinâmico, e o ambiente geral é bem adaptado a uma aventura de espionagem (e guerra).

Estão de parabéns os autores, a obra é ambiciosa (e eu que ainda fui dizer que gostava de uma BD mais longa!!!! Mau!) e apreciei a leitura, portanto venham mais.

Miguel Cruz






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