segunda-feira, 24 de abril de 2023

A opinião de Miguel Cruz sobre: "Le Grizzli: Un Drôle de Chabanais", de Matz e Simon e "Le Merlu 3 - Les Routes de la Victoire", de Dubois e Phalippou

 



Le Grizzli: Un Drôle de Chabanais

Fred Simon é um desenhador a que estou atento desde que nos finais do século passado deu início a uma série extraordinária denominada “Le Poisson-Clown”. Se nos últimos anos Simon nos tem “entregue” algumas BD de qualidade como Mermaid Project, o seu desenho em “Le Grizzli” constitui um grande motivo de regozijo. Que o rigoroso desenho tem uma grande qualidade, já o esperava. O que não esperava era a clareza, a luminosidade e o prazer do seu desenho nesta história policial, tipicamente francesa (à la Lino Ventura), e com grande quantidade de viaturas clássicas, uma vez que estamos em plenos anos 60..

Matz, nosso conhecido em Portugal através de Tango, por exemplo, e a quem já me referi recentemente a propósito de outra BD “Le Serpente et le Coyote”, apresenta-nos aqui uma história talvez clássica, mas entusiasmante e verdadeiramente envolvente. 

Guy, alias Le Grizzli por causa da sua estrutura física e do seu elevado nível de pilosidade (!), junta-se ao seu amigo (para a vida) Toine les Gailles para ajudar outro amigo comum, Jo, que enfrenta alguns problemas com uma personagem desagradável desde que esta saiu da prisão. A boa disposição inicial que une os amigos apenas esmorece um pouco ao longo de uma aventura movimentada, apesar de que, como esperaríamos, poucas são as coisas que não vão dar para o torto!!!

Os diálogos são excelentes, a narrativa é muito bem construída, sem floreados mas com um cuidado interessante na descrição do período em que decorre. Para além da narrativa, parece-me óbvio que os autores tiveram visível prazer em recuperar códigos do cinema policial da década de 60 – Lino Ventura, Belmondo, Delon e companhia – o que nos permite olhar com boa disposição para uma aventura plena de charme e com alguns momentos duros…

A leitura nem sempre é fácil, uma vez que os nossos “heróis” (apre!) usam uma gíria parisiense dos anos 50 e 60 muito “colorida”, mas nem mesmo isso me estragou a leitura, uma vez que no final da BD é incluído um pequeno dicionário.

Em resumo, gostei bastante, são 54 pranchas que nos agarram sem um qualquer momento de aborrecimento. Fica-me a ideia de que poderemos vir a ter no futuro mais alguma aventura do Grizzli e do seu amigo Toine. Por mim, seria um gosto quase tão grande quanto o de ver Le Grizzli publicado em português. Editado pela Dargaud.





Le Merlu 3 – Les Routes de la Victoire

Num passado não muito recente já tive oportunidade de mencionar a série “Le Merlu” na revista Juvebêdê. Hoje com três tomos, esta série conta-nos a história de um jovem condutor de camiões, que transporta mercadorias em território francês e que é apanhado pela guerra, mais concretamente pela ocupação Nazi de França. Adequadamente, todos os tomos são “estrada” de alguma coisa… explico-me: Tomo 1 – Les Routes de la Défaite (as estradas da derrota); Tomo 2: Les Routes du Sang (as estradas de sangue); Tome 3: Les Routes de la Victoire (as estradas da vitória).

Como é fácil perceber pela temática das “estradas”, o nosso herói, de nome praticamente esquecido após ter passado a colaborar com a resistência, e agora denominado apenas de Merlu, continua o seu trabalho de organização da resistência e de preparação do ataque aliado, ao mesmo tempo que recebe informações da sua amada Marie-Jeanne, infeliz chantageada por um líder colaboracionista, seja por causa do seu filho (com o Merlu), seja por causa do seu pai, pela ajuda que deu à resistência.

Após diversas peripécias, traições e combates, a vila de Chalon é libertada no dia 5 de setembro 
de 1944. Depois de 4 anos, a libertação constitui uma explosão enorme de alegria, mas também de ajustes de contas e de vinganças. Vira-casacas e traidores camuflados há vários, e a situação torna-se dramática, particularmente para Marie-Jeanne, informadora da resistência em segredo. Este é um tomo de reencontros e separações e, portanto, a libertação não constitui apenas um momento de felicidade.

Com argumento de Thierry Dubois, um habitué das histórias que envolvem viaturas e a vida dos profissionais da estrada, e com desenho de Jérome Phalippou, um especialista no desenho das viaturas clássicas, esta é uma aventura de grande qualidade, com uma verosímil história dentro da História.
Os desenhos são muito bons, luminosos, não exatamente linha clara, mas claros, bem marcados e precisos, com muita atenção ao detalhe, e bastante agradáveis, mesmo quando o tema não o é. Ação, aventura, suspense, traição, violência, reviravoltas inesperadas, tudo isto encontramos nesta BD, que nos apresenta algumas personagens relativamente estereotipadas, como recurso para nos envolver emocionalmente, mas que o faz de forma clássica, é verdade, mas extremamente eficaz, credível e memorável.
Gostei bastante desta leitura, infelizmente curta por se conter na estrutura tradicional das 46 pranchas por tomo. Aparentemente, esta série termina no seu terceiro tomo, com o fim da guerra na Europa… No entanto, o final pareceu-me deixar suficientes pontas soltas para imaginar que talvez ainda tenhamos a surpresa de um quarto tomo, editado pela Paquet. Vamos ver…

Nota: “Merlu” é “pescada” em português. Colin é o nome do herói, também ele usado para denominar o mesmo peixe.

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